Mesmo imperceptíveis, música e efeitos sonoros são imprescindíveis como condutores na narrativa e jogabilidade dos games. Muitos profissionais e pesquisadores têm se dedicado à análise das composições musicais e criação de efeitos capazes de criar experiências imersivas únicas com os games. Neste artigo, elencamos alguns dos aspectos responsáveis por este processo e como o compositor de temas para games pode aperfeiçoar seu trabalho com dicas simples e criativas. As informações são de Karen Collins, pesquisadora canadense e Chair de Interactive Audio na Universidade de Waterloo, e foram disponibilizadas em uma apresentação online, há cerca de 10 anos.
Entre os pontos iniciais mais importantes na produção de efeitos sonoros e músicas para games está o que convencionalmente chamamos de Áudio Dinâmico, que engloba formas de sonorização interativa e adaptativa no jogo, conforme as breves descrições abaixo:
Áudio Interativo
Os eventos sonoros ocorrem nos games a partir da movimentação do avatar do jogador no cenário, que age como um gatilho para esta ambientação sonora.
Áudio Adaptativo
Esse termo se refere normalmente ao recurso sonoro que reage às transformações no ambiente de jogo, como a mudança de dia para noite, disparada pelo mecanismo de tempo do game. Este sistema não está atrelado à dinâmica do personagem e aos comandos do jogador.
No campo estrutural da construção do game, a ambientação sonora permite situar o jogador espacialmente na trama ou no level design, indica as mudanças climáticas na história ou reforçam a ideia de continuidade narrativa da trama, mas há outros aspectos que colaboram com a jogabilidade, como citado abaixo.
Imersão
Os temas musicais e a ambientação sonora são fundamentais para a condução da dinâmica nos games, por meio da imersão proporcionada aos jogadores e a criação de condições para a suspensão da descrença, através da adição do realismo proporcionado pela ênfase em sons que simulem ocorrências reais (como um lobo em uma noite fria no deserto ou sons de tráfego em um jogo urbano), a criação de ilusão para narrativas feéricas e até mesmo o bloqueio parcial de ruídos externos que possam comprometer a identificação com o universo ficcional dos jogos.
Funções emocionais
Tais recursos podem induzir o jogador a determinado comportamento (como o clássico exemplo da morte de Aeris em Final Fantasy IV, que levou milhares de jogadores à catarse), podem enfatizar aspectos da jogabilidade como a incursão na batalha ou deter-se em uma detalhada investigação, provoca respostas comportamentais no jogador e pode influenciar em sua tomada de decisões. além de criar condições para uma maior intimidade do jogador com o personagem e o universo do jogo.
Narrativa
Na condução narrativa do jogo a sonorização pode servir como uma antecipação de um momento climático ou de batalha, localiza o jogador no roteiro do game, pode servir como um gatilho para revelar objetivos e regular o fluir das dinâmicas do jogo.
Um exemplo das diferentes ambientações sonoras em games pode ser observado no clip do jogo No One Livre Forever (assista o vídeo abaixo), que mostra cinco variações do tema musical para momentos de combate, suspense e ação no jogo.
Outros exemplos musicais em games podem ser observados na condução da trilha de jogos como Electroplakton, Rez e Vib Robbon.
Além destes princípios elucidados, vale lembrar que outros aspectos são igualmente importantes no design sonoro de um jogo, como as funções estéticas, cinéticas e semióticas, que enveredam por um campo de pesquisa mais específico e não dialogam com o contexto desse artigo.
Para ajudar o criador de ambientações sonoras e trilhas musicais para games, seguem algumas dicas simples e criativas, que podem assegurar grande variedade e aumentar a qualidade sonora e musical do projeto.
Dicas:
– Para a criação de jogos mobile, evite a composição de trilhas longas e elaboradas. Opte por criar pequenos trechos de temas musicais que possam ser tocados com diferentes tempos (pitches) para produzir variedade sonora. Esta técnica é conhecida como “Pitch it up, play it down”;
– Para evitar a sensação de repetição dos efeitos sonoros, modifique a taxa de amostragem do som, de modo que uma mesma ação possa contar com variações do efeito sonoro para surpreender o jogador (um exemplo? Pense em diferentes tipos de espirro);
– Altere as oitavas do efeito sonoro para conseguir outras experiências e sensações auditivas no jogo;
– Se a música é um elemento importante em seu projeto, ofereça a possibilidade aos personagens para adquirir instrumentos musicais que possam ser tocados juntos, em uma Jam Session, como acontece em games como Asheron’s Call 2 (veja o vídeo);
– Evite loops incessantes. Aprenda a criar momentos de silêncio no game;
– Aproveite as possibilidades de filtros para efeitos: use Reverb para suavizar temas musicais, Phasing para criar cacofonia sonora e Overdrive, para criar ambiências sonoras mais agressivas para os jogos.
Mais detalhes, com informações do governador
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