Tecnologia

Como as Redes Sociais estão arruinando a infância do seu filho. Por Lia Sérgia Marcondes

Por Lia Sérgia Marcondes, de Portugal, para o Drops de Jogos.

Entre em um restaurante, um vôo, uma sala de espera, ou qualquer outro ambiente onde existam crianças. O que você vê em comum à maioria delas? Talvez a sua resposta seja: “ela está olhando para uma tela”.  Observe as crianças e adolescentes em grupo, nos lugares onde você passa.

Quantos você vê apenas interagindo uns com os outros, sem qualquer dispositivo eletrônico nas mãos?

A parentalidade do século 21 sofreu uma forte influência do ambiente digital, onde tablets e smartphones tornaram-se ferramentas para entreter os pequenos.

Crianças e as redes sociais. Foto: ChatGPT/Reprodução/Montagem Pedro Zambarda/Drops de JogosCrianças e as redes sociais. Foto: ChatGPT/Reprodução/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Crianças e as redes sociais. Foto: ChatGPT/Reprodução/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Onde as redes sociais encheu-se de pais orgulhosos querendo compartilhar cada etapa do desenvolvimento de seus filhos, desde o primeiro ultrasssom até os primeiros passos, muitas vezes permitindo até que a criança tenha seu próprio telefone e rede social “monitorada pela mamãe/papai”, antes mesmo que a criança aprenda a ler.

O ‘sharenting’ (junção das palavras ‘share’, compartilhar, e ‘parenting’, parentalidade) já atingiu o seu lado mais preocupante: o ‘oversharenting’, que se refere ao compartilhamento excessivo de informações sobre crianças nas redes sociais. Muitos pais, especialmente os que cresceram usando redes sociais, tendem a publicar em excesso, e acabam por expor dados sensíveis dos filhos. A prática, além de levantar sérias preocupações sobre privacidade,  compromete a segurança das crianças. Isto reforça a necessidade urgente de conscientização sobre o que deve ou não ser compartilhado online.

Em um ambiente onde o incentivo para estar nas redes parte dos próprios pais, que criam perfis até de bebês que ainda nem nasceram, o número de menores nas redes sociais cresceu rapidamente nos últimos anos, apesar das diretrizes das plataformas. Embora a maioria das redes determine a idade mínima de 13 anos para poder criar uma conta, a falta de um sistema de controle faz com que burlar essa regra seja extremamente fácil. 

Mas o ‘oversharenting’ vai além de apenas compartilhar momentos dos seus filhos nas redes sociais. Todas as informações divulgadas sobre eles são armazenadas pelas plataformas, que podem utilizá-las de diversas maneiras.

Para completar, os algoritmos aprimoraram-se cada vez mais para monitorar todo o conteúdo consumido, oferecendo vídeos e posts cada vez mais atrativos e viciantes. Esse ciclo pode transformar as crianças em verdadeiros ‘zumbis digitais’, rolando a tela por horas sem absorver informações significativas, enquanto permanecem presas ao fluxo interminável de estímulos online, “escravos” da timeline infinita.

Em 2024, o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), divulgou dados inéditos sobre o uso de plataformas digitais por crianças e adolescentes de 9 a 17 anos. Os números reforçam a preocupação com o impacto das redes sociais nessa faixa etária.

Fonte: https://cetic.br/media/analises/tic_kids_online_brasil_2024_principais_resultados.pdf

Onde isso nos leva?

Não é de agora que muitos especialistas em desenvolvimento infantil ao redor do mundo estão alertando sobre os problemas causados pela exposição precoce e excessiva a aplicativos como YouTube, Instagram e TikTok, as principais plataformas de distribuição de vídeos curtos (shorts e reels).

O estudo “Adolescentes na Era Digital: Impactos na Saúde Mental” (fonte: https://www.researchgate.net/publication/353449562_Adolescentes_na_Era_Digital_Impactos_na_Saude_Mental ) aponta que a o uso excessivo das redes sociais afeta não apenas a autoestima, bem como a autoconfiança e a percepção do próprio corpo. Mas o problema não fica por aí. Os danos provocados pela exposição de menores às redes, podem incluir: dependência (equiparada à dependência química), comparação social em demasia, comportamentos alimentares de risco, exposição a conteúdo adulto e outros conteúdos prejudiciais (como a automutilação e ideação suicida), além de perturbações no ciclo de sono e  do aumento no risco de desenvolver problemas de saúde mental.

O fim da moderação de conteúdos em plataformas digitais, aliado aos avanços da inteligência artificial, elevou os riscos online para crianças. Se antes havia a preocupação de que uma simples foto inocente de seu filho, como tomando banho de chuva, pudesse ser adulterada e compartilhada em fóruns obscuros da deep web, hoje o perigo vai além. Com a disseminação facilitada pelas redes sociais mais abertas, como X (antigo Twitter) e Facebook, essas imagens podem alcançar um público ainda maior, enquanto as plataformas, muitas vezes, falham em agir para remover conteúdos impróprios rapidamente.

O desafio de proteger crianças e adolescentes na Era Digital

Apagar agora mesmo todas as redes sociais das crianças menores de 13 anos, talvez seja imperativo. No entanto, sei que não reflete o desejo ou a realidade de boa parte das famílias.

As novas gerações estão cada vez mais conectadas aos meios digitais e à internet, tornando impossível separar suas vidas do ambiente online. Equilibrar os impactos desse uso constante pode representar um grande desafio social, mas é necessário para garantir a proteção integral de crianças e adolescentes.

Uma abordagem conjunta e interdisciplinar, envolvendo diferentes atores sociais (escolas, pais, responsáveis, comunidade e o Estado) pode atuar de forma colaborativa para criar estratégias que promovam o uso consciente da tecnologia, com o intuito de equilibrar os benefícios do mundo digital com o bem-estar físico, emocional e social das novas gerações.

O equilíbrio no tempo de tela é parece ser o ponto-chave para o desenvolvimento saudável das crianças. Para reduzir o excesso de exposição a dispositivos digitais, as famílias podem incentivar atividades que estimulem habilidades motoras, criatividade e interação social. Além disso, atividades ao ar livre, como pular corda, explorar a natureza ou simplesmente brincar no parque, ajudam a conectar as crianças ao mundo real e promovem momentos de diversão fora das telas.

Outro ponto crucial é o exemplo dado pelos próprios pais. As crianças imitam o comportamento dos adultos ao seu redor, por isso é importante praticar o uso consciente da tecnologia. Evite passar longos períodos no celular ou assistir à TV durante refeições e momentos de convivência familiar. Demonstrar um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e o tempo offline reforça hábitos positivos e contribui para uma infância mais saudável e equilibrada.

Lia Sérgia Marcondes

Mulher, mãe, cozinheira e jornalista, não necessariamente nessa mesma ordem. De esquerda até o último fio de cabelo. Vamos conversar sobre maternidade, cultura pop, arte, tecnologia, não necessariamente nessa mesma ordem. Afinal, no fim do dia tudo é política.

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