Cultura

Opinião: Discord anuncia proteção para adolescentes; novo ataque ocorre em escola; está adiantando?

Por Pedro Zambarda, editor-chefe.

Uma aluna morreu com um tiro na cabeça e outros três ficaram feridos após um ataque a tiros dentro da Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, na manhã desta segunda (23). A informação foi confirmada pelo governo de Tarcísio de Freitas.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, um adolescente de 15 anos, também aluno, entrou armado no colégio e efetuou os disparos. Ele foi apreendido junto com a arma, que é de seu pai. De acordo com o G1 e demais sites de notícias, ainda não está clara a motivação por trás do crime cometido por esse menor de idade. E não há relação entre esse caso e a empresa Discord, ferramenta de comunicação influente no meio gamer.

Na última quinta (19), o Discord anunciou novas medidas para tornar a plataforma um ambiente mais seguro para os usuários mais novos.

Como parte dessa iniciativa, a companhia apresentou a Assistência de Segurança para Adolescentes, uma iniciativa que promete reforçar a proteção dos usuários mais jovens por meio de filtros e alertas proativos como padrão.

A iniciativa terá dois recursos, segundo a empresa:

  • Alertas de segurança para remetentes – Quando um adolescente receber um DM de um usuário pela primeira vez, o Discord vai analisar se deve ou não enviar um alerta de segurança com dicas de prevenção e denúncia.
  • Filtros de conteúdo sensível – Aos adolescentes, a plataforma vai adicionar um filtro para ocultar mídias que possam ser sensíveis, sejam elas compartilhadas via DMs ou servidores com grupo de pessoas.

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Ambulância e viaturas da PM em escola estadual Sapopemba, Zona Leste de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

O problema do Discord e das comunidades online tóxicas de games com jovens

Entre abril e junho de 2023, o Fantástico, da TV Globo, publicou o seguinte: o programa Discord “havia virado uma ferramenta para envolver jovens em um submundo de violência extrema”. O programa expôs criminosos que foram presos pela Polícia Federal que instigavam adolescentes a cometerem crimes.

Para o Fantástico, o porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”. “Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”.

“Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”.

A Agência Pública fez uma denúncia similar: “Discord desobedece às próprias regras e permite conteúdo violento e extremista”. “Racismo, misoginia, homofobia, neonazismo e incitação à violência e ao suicídio. Esse é o tom das conversas em alguns servidores do Discord, aplicativo de chat em texto e áudio bastante popular entre jovens e gamers”.

A reportagem prossegue: “Um dos servidores analisados, com cerca de 100 usuários, tem piadas com estupro, pedofilia, necrofilia e suicídio. ‘Servidor destinado a pura ironia, algazarra e entretenimento. Se é sensível por fazer não entre’, diz a descrição no grupo no Disboard, uma plataforma que reúne servidores públicos do Discord. A reportagem decidiu não publicar os nomes dos servidores para não divulgar os grupos”.

E recentemente o Drops de Jogos reproduziu uma reportagem do site Metrópoles em agosto de 2023: Assassino confesso da jogadora profissional de games Ingrid Oliveira Bueno da Silva, conhecida como Sol, de 19 anos, morta com golpes de espada e faca, em fevereiro de 2021, prestou um novo depoimento à Polícia Civil, no qual indicou quatro suspeitos de supostamente ajudar a arquitetar a morte da jovem.

Guilherme Alves Costa foi condenado pelo homicídio da gamer, conhecida como Sol, a 14 anos de prisão, após um júri popular, em 8 de agosto de 2022. Os quatro indicados por Guilherme foram presos pelo Deic sob a suspeita de integrar um grupo do Discord no qual praticavam crimes contra adolescentes. Ou seja, mais crimes foram organizados na plataforma.

Os ministérios da Educação e da Justiça do governo Lula estão sendo cobrados nacionalmente, assim como o governo Tarcísio em São Paulo, pelo crime na Escola Estadual Sapopemba. Há um documento precioso do período de transição entre Bolsonaro e Lula, chamado “O ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às instituições de ensino e alternativas para a ação governamental“. Falta o governo Lula implementá-lo, já que os pesquisadores envolvidos estão monitorando esses grupos.

A campanha de desarmamento da população também precisa avançar, ou mais crimes do mesmo tipo continuarão ocorrendo.

E falta a cobrança: O Discord vai tomar providências mais contundentes ou vai esperar sofrer o que o Telegram sofreu em período eleitoral – sendo fechado provisoriamente?

A ver.

x.x.x.x.x.

O Discord enviou uma nota oficial respondendo ao Drops de Jogos.

Estamos cientes do trágico ataque que ocorreu na escola em Sapopemba, em São Paulo, e temos cooperado com as autoridades, assim como fizemos desde o início deste ano para outras investigações, como na Operação Escola Segura.
Temos políticas rigorosas contra atividades que promovam violência e ódio, incluindo “não ameaçar ou prejudicar outro indivíduo ou grupo de pessoas”. Quando tomamos conhecimento de conteúdo ou comportamento potencialmente prejudiciais, investigamos e tomamos as devidas medidas, incluindo: remover conteúdo, banir usuários e desativar servidores. Estamos comprometidos em cooperar com as autoridades locais para proporcionar um ambiente positivo e seguro para nossos usuários no Brasil.
É importante ressaltar que o Discord é amplamente utilizado pelas pessoas para ter interações positivas e para se reunir com amigos. No Brasil, 99% dos usuários de Discord não violaram nossas políticas nos últimos 6 meses.

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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