Educador explica como surgiu a fala errada de Lula sobre games e violência - Drops de Jogos

Educador explica como surgiu a fala errada de Lula sobre games e violência

Daniel Cara é considerado uma das maiores autoridades em Educação no Brasil

Daniel Cara e Lula

Daniel Cara e Lula. Foto: Reprodução/YouTube/Wikimedia Commons

Autor do relatório “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental“, o educador Daniel Tojeira Cara fez importantes alertas sobre os ataques violentos no ambiente escolar e participou do grupo de transição do governo Lula.

Cara é professor da Faculdade de Educação da USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que defende o ensino público e de qualidade. Foi candidato ao Senado pelo PSOL e é seguidor dos ensinamentos de Paulo Freire.

O educador tem algumas pistas de como surgiu a fala equivocada e errada do presidente da República sobre jogos e violência.

Ele falou sobre o assunto no programa DCM Ao Meio-Dia do site de política Diário do Centro do Mundo. Transcrevo abaixo a fala dele, no minuto 54.

Pergunta: Desconfio que sei de onde saiu aquela fala desastrosa do Lula há semanas sobre games e vi depois uma fala boa do ministro Silvio Almeida sobre games que o governo federal mesmo não divulgou.

Tenho a impressão que Lula tirou a fala dele sobre jogos violentos do relatório sobre extremismo violento que você, Daniel Cara, fez no gabinete de transição, mas falando sobre comunidades tóxicas gamers e não sobre games.

A confusão que eu relatei foi o que aconteceu ou eu estou equivocado?

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Daniel Cara e Lula

Daniel Cara e Lula. Foto: Reprodução/YouTube/Wikimedia Commons

Daniel Cara: Olha, foi exatamente o que aconteceu, Pedro. Você matou a charada.

Ninguém pode imaginar um presidente com a importância internacional como o Lula, com o poder que ele tem de chamar atenção e de estruturar ações, que ele vai ler todas as coisas com atenção. Ele depende dos filtros que são feitos.

Só que o filtro é feito e muitas vezes ele não é comunicado ao presidente. E o time do governo ainda não está totalmente entrosado.

Eu gosto muito do Silvio Almeida e conheço ele de antes da exposição pública que ele adquiriu por méritos próprios. Mas as falas dele sobre a violência contra as escolas também não estão sendo bem preparadas. E elas são falas um pouco dissonantes do Flávio Dino e do Camilo Santana.

O time não está jogando de forma entrosada. Isso não é um problema em si. O problema é que o grau de destruição bolsonarista é tão alto e o risco deles voltarem é tanto que o governo fica todo sensível.

O governo comete o erro, os ministros, de ter medo de errar. Com exceção do Flávio Dino, o melhor deles. Na política, nesse momento, só vai errar quem jogar o jogo.

O que está acontecendo no caso dos games? A gente coloca no relatório de combate à extrema direita, mas, eu aprendi aqui com o Pedro Zambarda, e falo porque aprendi mesmo, que a comunidade gamer é relevante, somando com as informações das pesquisadoras que trabalharam comigo. Assim a gente mapeou a influência das comunidades gamers entre os jovens e como elas são capturadas pelo extremismo de direita no jogo de cooptação.

Para além da extrema direita, quem faz isso é a extrema direita neofascista e neonazista. Veja, não estou dizendo que todas as pessoas de extrema direita são neofascistas ou neonazistas. Isso seria uma mentira. Seria uma irresponsabilidade da minha parte. Mas á importante dizer que os neonazistas e neofascistas são da extrema direita.

Resultado: Fez-se essa leitura e, para evitar falar de extrema direita neofascista e neonazista, se criou um discurso parcial, Pedro. Que só ataca a comunidade gamer. E o discurso do Lula foi um erro.

Porque a comunidade gamer, dentro do universo dela, é assustadoramente grande, de milhões e de milhões de brasileiros, que formou vários comunicadores públicos como o próprio Felipe Neto. Felipe Neto é resultado da comunidade gamer, e ele é um batalhador contra a extrema direita, todos esses movimentos.

Assim, formula-se para o Lula essa questão de maneira equivocada sobre como essa comunidade gamer está sendo utilizada por esses movimentos neofascistas e neonazistas, criando o ambiente para os ataques contra as escolas. Ambientes que são mobilizados também por uma misoginia atroz.

Tenho acompanhado o trabalho do streamer Casimiro porque gosto dele e porque sou apaixonado por futebol. Casimiro tem falado sobre isso. Tem atacado a misoginia que existe dentro da comunidade dele.

Mesmo o Casimiro com todo seu carisma não consegue remover a misoginia e os red pills.

Então, resumidamente, tanto a fala de Lula quanto a de Silvio Almeida sobre games ainda estão confusas. Eles estão com medo de errar.

O Lula não tem medo de errar, mas sim seus assessores. Mas Lula não vai ler 50 páginas do relatório de violência das escolas e faz parte da estratégia que seus assessores o informem. O resumo estava mal estruturado sobre esse tema como o da Reforma do Novo Ensino Médio, porque o gabinete de transição queria revisão dela.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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