O relatório “Ataques às escolas no Brasil” de novembro, elaborado pelo Grupo de Trabalho de especialistas em violência nas escolas, traz um panorama preocupante. Ele foi divulgado em primeira mão por este que vos escreve no site Diário do Centro do Mundo (DCM). Entre 2022 e 2023, o número de ataques mais do que dobrou, subindo de sete para 16 casos.
A relatoria do documento é do professor da Faculdade de Educação da USP, Daniel Cara, com revisão de Helena Rodrigues. O texto também recorda o atentado de 20 de abril de 1999 efetuado por dois estudantes em Columbine, nos EUA, e a cultura de jogos eletrônicos de tiro em primeira pessoa.
O trabalho teve apoio de Miriam Abramovay, maior estudiosa sobre violência nas escolas, e de Andressa Pellanda, cientista política, educadora popular e coordenadora-geral da Campanha Pelo Direito à Educação. Também fizeram importantes contribuições os psicólogos Gabriel Medina, Sarah Carneiro, o advogado Victor Grampa, além das professoras Rosilene Corrêa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e Madalena Peixoto da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino).
Em uma nota no relatório, ele faz uma recomendação precisa envolvendo videogames e esses crimes. “Este gênero é uma subdivisão dos jogos de tiro e se tornou amplamente popular a partir dos anos 90. Desde já é importante ressaltar que é inadequado e improdutivo culpabilizar e proibir games. Qualquer posição restritiva aos games resultará em ressentimento e ódio, aumentando o risco de novos ataques às escolas. Educar é melhor que proibir”.
O relatório se soma a um documento que foi formalizado ainda no governo de transição para prevenir e monitorar atentados contra as escolas e, sobretudo, contra professoras e alunas mulheres, principal alvo desses crimes.
Um autores do relatório anterior “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental“, o educador Daniel Tojeira Cara fez importantes alertas sobre os ataques violentos no ambiente escolar e participou do grupo de transição do governo Lula.
Cara falou em uma entrevista comigo sobre como o presidente da República fez a confusão sobre games e violência em uma reunião com ministros em abril de 2023. O educador disse o seguinte.
1 – Primeiras impressões do FC 24, o FIFA sem nome FIFA. Por Pedro Zambarda
2 – Armored Core VI: Fires of Rubicon, uma resenha. Por Pedro e Paulo Zambarda de Araújo
Ninguém pode imaginar um presidente com a importância internacional como o Lula, com o poder que ele tem de chamar atenção e de estruturar ações, que ele vai ler todas as coisas com atenção. Ele depende dos filtros que são feitos.
Só que o filtro é feito e muitas vezes ele não é comunicado ao presidente. E o time do governo ainda não está totalmente entrosado.
Eu gosto muito do Silvio Almeida e conheço ele de antes da exposição pública que ele adquiriu por méritos próprios. Mas as falas dele sobre a violência contra as escolas também não estão sendo bem preparadas. E elas são falas um pouco dissonantes do Flávio Dino e do Camilo Santana.
O time não está jogando de forma entrosada. Isso não é um problema em si. O problema é que o grau de destruição bolsonarista é tão alto e o risco deles voltarem é tanto que o governo fica todo sensível.
O governo comete o erro, os ministros, de ter medo de errar. Com exceção do Flávio Dino, o melhor deles. Na política, nesse momento, só vai errar quem jogar o jogo.
O que está acontecendo no caso dos games? A gente coloca no relatório de combate à extrema direita, mas, eu aprendi aqui com o Pedro Zambarda, e falo porque aprendi mesmo, que a comunidade gamer é relevante, somando com as informações das pesquisadoras que trabalharam comigo. Assim a gente mapeou a influência das comunidades gamers entre os jovens e como elas são capturadas pelo extremismo de direita no jogo de cooptação.
Para além da extrema direita, quem faz isso é a extrema direita neofascista e neonazista. Veja, não estou dizendo que todas as pessoas de extrema direita são neofascistas ou neonazistas. Isso seria uma mentira. Seria uma irresponsabilidade da minha parte. Mas á importante dizer que os neonazistas e neofascistas são da extrema direita.
Resultado: Fez-se essa leitura e, para evitar falar de extrema direita neofascista e neonazista, se criou um discurso parcial, Pedro. Que só ataca a comunidade gamer. E o discurso do Lula foi um erro.
Porque a comunidade gamer, dentro do universo dela, é assustadoramente grande, de milhões e de milhões de brasileiros, que formou vários comunicadores públicos como o próprio Felipe Neto. Felipe Neto é resultado da comunidade gamer, e ele é um batalhador contra a extrema direita, todos esses movimentos.
Assim, formula-se para o Lula essa questão de maneira equivocada sobre como essa comunidade gamer está sendo utilizada por esses movimentos neofascistas e neonazistas, criando o ambiente para os ataques contra as escolas. Ambientes que são mobilizados também por uma misoginia atroz.
Tenho acompanhado o trabalho do streamer Casimiro porque gosto dele e porque sou apaixonado por futebol. Casimiro tem falado sobre isso. Tem atacado a misoginia que existe dentro da comunidade dele.
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