Cultura

Opinião: Antes de cancelamento, E3 cometeu erros. Por Pedro Zambarda

“A maior feira de games do mundo” já não era tão grande assim.

“Estive em todas as 25 E3’s, então conheço muito bem o evento. Quando olhei as informações que me foram passadas sobre o programa deste ano, e baseado nas minhas conversas com a ESA [organização do evento], apenas não senti que poderíamos fazer um Coliseum que pudesse corresponder às expectativas dos fãs”, disse o apresentador Geoff Keighley em entrevista ao site IGN neste ano.

Keighley era frequentador da feira há 25 anos, desde o começo. Eu fui apenas em duas edições da mais relevante feira de games do mundo (2017 e 2018). Foram viagens que marcaram a minha carreira e a cobertura do Drops de Jogos. Mas a E3 estava em crise.

A Nintendo já estava fazendo eventos digitais à parte. A Electronic Arts apostava no EA Play, um evento que ocorre em outra localização de Los Angeles em datas próximas. Depois de tantas mudanças, foi a vez da Sony zarpar do evento em 2019. Todas as grandes empresas estavam apostando em eventos corporativos e digitais próprios, colocando o modelo da feira em xeque.

Criada como um espaço da CES, mais relevante feira de tecnologia dos Estados Unidos, a E3 resolveu reagir às mudanças e abriu sua entrada para o grande público a partir de 2017. Antes disso, o evento era fechado para a imprensa e para players do mercado.

Calculando a concentração de público, a E3 não era tão grande e ficava no oitavo lugar das feiras, em cerca de 60 mil visitantes. Para se ter uma ideia, a Gamescom na europa reúne mais de 370 mil pessoas, enquanto ChinaJoy concentra 360 mil e a Brasil Game Show fica em 320 mil.

Para completar a sopa de problemas, milhares de dados de jornalistas, YouTubers e produtores de conteúdo foram vazados por um erro do site oficial no ano passado, prejudicando terceiros.

O evento não sabia, exatamente, para qual lado correr.

O que fazer para mudar.

E eis que veio a pandemia do coronavírus, partindo da China e chegando à costa oeste dos Estados Unidos. Com a saúde dos visitantes ameaçada, o evento considerado de maior relevância para os principais lançamentos de games do ano foi cancelado.

Irá se transformar em conferências digitais. Nisso, a E3 é forte. Só no Twitch oficial da feira, há dois anos, eles totalizaram quase 100 milhões de views.

As empresas que apoiam a feira muito provavelmente farão transmissões especiais em 2020, para dar o financiamento necessário para a ESA reinventar o evento daqui a um ano, quando o coronavírus estiver mais controlado.

Resta saber se a instituição fará mudanças para atrair melhor o seu público e encontrar seu caminho.

Isso será possível? A ver.

Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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