Aconteceu, no último dia 31 de julho, a segunda edição da PerifaCon, a primeira – e, até o momento, única – Comic Con das favelas.
O evento, que chegou com força em 2019, época em que sequer vislumbrávamos dois terríveis anos de isolamento social, retornou com ânimo renovado em 2022, trazendo várias expressões do meio artístico, quadrinhos, games e cultura Geek, falando para um expressivo contingente da população das quebradas de São Paulo, onde encontram-se inúmeros fãs dessa vertente cultural, ávidos por consumir a produção independente, nem sempre facilmente acessível.
Muitos artistas de grande renome internacional e praticamente desconhecidos no Brasil, a exemplo do premiado Jefferson Costa, artista da da adaptação Jeremias – Pele e ganhador do Troféu HQ Mix, Carlos Ruas, de Um Sábado Qualquer, também premiado com o HQ Mix, e Ivan Costa, da Chiaroscuro Studios, entre outros, estiveram presentes, em animada troca de ideias com o público, que compareceu em massa desde as primeiras horas do evento.
A Fábrica de Cultura da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, serviu de local para receber artistas e público, com uma estrutura bem montada e adequada, ainda que o sucesso do projeto exigisse um local com mais áreas livres e conforto, para que as pessoas pudessem transitar com tranquilidade. Diferentemente da Fábrica de Cultura do Capão Redondo, no extremo sul de São Paulo, local com arquitetura mais vertical onde se deu a primeira edição, as acomodações horizontais do novo espaço contribuíram para uma experiência mais festiva e integrada entre todos.
O Becos dos Artistas era um ambiente permanentemente tomado de interessados, consumidores e fãs das artes e dos quadrinhos e o acesso para pessoas com deficiência de locomoção ficou praticamente inviável, embora os jovens estivessem se divertindo no local. Essa reportagem ouviu o espirituoso comentário de um par de adolescentes, afirmando que, durante o evento, certamente iria “surgir uma nova variante da covid” entre os presentes.
Um ganha adicional dessa edição se deu pela organização da área para aquisição e consumo de alimentos. Vários trailer com comidas e sanduíches estavam alinhados lado a lado, facilitando a escolha dos produtos e oferecendo área livre para que as pessoas pudessem transitar, sem atropelos.
A diversidade de temas e projetos dá uma dimensão da expressão cultural das favelas e do povo marginalizado nas grandes capitais do país, que não se deixa esmorecer pelas dificuldades impostas. É uma massa crítica e intensamente criadora que resiste, levando sua arte aos rincões para preencher nossa existência com narrativas sensíveis, produção visual de qualidade e histórias da vida sofrida das populações carentes, convertidas de forma poética e impactante em registros do nosso tempo por meio dos quadrinhos.
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A cultura dos games também esteve presente, por meio de palestras e debates sobre assuntos como eSports, produção indie e financiamento, entre outros, com profissionais de mercado, influenciadores e estudiosos do tema. Gente do calibre se Marcos Silva, do estúdio paulistano Sue The Real, Tainá Felix, da Game e Arte, Daay Gamer, streamer de Free Fire, Pedro Zambon, do catálogo de jogos digitais Games BR, Kaike “KSCerato” Cerato, profissional proplayer de Counter Striker, e Bryanna Nasck e Sher Machado, apresentadoras e streamers de games, entre muitos outros.
Considerando o retorno dos eventos presenciais nesse momento pretensamente pós-pandêmico e o sucesso da iniciativa em suas duas edições, parece natural que a PerifaCon extrapole seus limites, ganhando mais edições anuais e, de forma decisiva, alcançar outros públicos Brasil afora, igualmente sem acesso à cultura e ansiosos pela oportunidade de conhecer e consumir a farta produção dos artistas que estão rompendo barreiras com HQs e projetos que falam diretamente para a nossa conturbada realidade nacional, sem perder a esperança e uma certa doçura no trato.
Não menos importante, vale destacar a qualidade do atendimento ao público e da organização geral do evento, que contava com inúmeros representantes do projeto, devidamente identificados e equipados com recursos para auxiliar os presentes com informações e apoio em caso de necessidades. A qualidade no atendimento e a atenção aos detalhes não surpreende, mas dá um banho em muito mega-evento de cultura geek com ingressos na casa da centena de reais e que deveria visitar a PerifaCon para aprender o básico.
A PerifaCon é, inegavelmente, uma festa para os olhos, bolsos e para a alma da Quebrada.
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