Cultura

Opinião: UcconX foi um péssimo evento e sua organização deveria ser investigada

Por Pedro Zambarda, editor-chefe do Drops de Jogos.

O excelente repórter Kao Tokio cobriu localmente o evento UcconX, relatando o quanto o local estava vazio, as reclamações das pessoas e também o que havia de positivo dentro do evento, com presença de alguns atores internacionais. Eu acompanhei mais a péssima repercussão do assunto pelo Twitter, que chegou aos Trending Topics, os assuntos mais comentados, a nível mundial.

O fato é que o evento, organizado em 2022 pela BBL, teve um grupo organizador anterior que sequer pagou os funcionários que idealizaram o evento. Os relatos no Twitter falam em sete meses sem pagamentos.

Quem melhor resumiu a cobertura do caso foi Ygor Palopoli, roteirista da play9, empresa de Felipe Neto, que fez fios sobre as denúncias envolvendo a UcconX.

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2 – Journey, uma resenha 10 anos depois. Por Pedro Zambarda

UcconX. Foto: Kao Tokio/Drops de Jogos

Diz o produtor no Twitter:

A thread de hoje vai revelar um esquema de quase 10 anos que já prejudicou centenas de pessoas. foi apenas a gota d’água de um oceano que usa os eventos geek como uma mina de ouro em um esquema que dura anos.

Quando fiz a primeira thread sobre o evento, uma coisa me intrigou: alguns usuários apontavam uma semelhança com uma convenção chamada “Gleek Convention”, que prometia trazer o elenco de Glee ao Brasil. Em alguns dias, descobri que UCCONX e Gleek Convention estão ligados.

Esta mulher da foto, acompanhando o ator Dacre Montgomery no aeroporto chama-se Camila Ribeiro. Ela organizou o Gleek, ingressos foram vendidos a R$270 e a maioria dos fãs não foram pagos até hoje. Mas ela ainda faria muitos outros eventos assim.

No ano de 2014, a Veja realizou uma matéria sobre como o Brasil “descobriu” os eventos geek como verdadeira fonte de dinheiro. Camila percebeu isso um ano antes, e em 2013 anunciou dezenas de convenções pela RTA Global, empresa da qual era dona.

Depois do calote de Gleek, eles anunciaram o evento Bloodline Convention, com os atores de The Vampire Diaries. Mais uma vez, Ian Somerhalder foi anunciado – só não avisaram a ele. Faltando uma semana ela esclareceu que nunca foi convidado e que não iria. O dinheiro não voltou.

Junto a seu então sócio Marcos Fernandes, Camila anunciou mais algumas convenções que NUNCA entregavam o prometido. A empresa era derrubada e eles criavam outras, como: M2 Events and Media, IT! eventos, Yo!, Lotus Eventos e Nexxt. Harry Potter já era alvo ainda nessa época.

Páginas foram criadas para denunciar o golpe, mas acabavam não indo pra frente (boa sorte pra mim, eu acho rs) Os próprios atores envolvidos nos golpes começaram a se manifestar dizendo que se tratava de um golpe.

No Reclame aqui você encontra AS MESMAS reclamações sobre TODAS as empresas de Camila. Em uma das últimas ela é acusada de fazer um evento inteiro com… 1 ator.

Aqui nas redes sociais há diversas pessoas que já foram alvo dos golpes de Camila. Raramente há um post em que não as mencionem nos comentários. É como se fosse uma comunidade que nunca conseguisse emergir por falta de holofotes aos acontecidos.

Marco Fernandes, ex sócio de Camila, hoje é assessor de atores como Kayky Brito. A última notícia o envolvendo foi quando entraram em seu apartamento e o espancaram sem nenhum motivo aparente. Você já foi espancado porque te “confundiram com alguém”? Foi o que Marco alegou.

A nova agência de Camila se chama CTA Agency. Lembrem os nomes de TODAS as agências relatadas aqui, e sempre que um evento for acontecer, confira se alguma delas está envolvida. Vai te poupar dor de cabeça e perda de dinheiro. Já mais ou menos a décima empresa de Camila.

Entender quem são os responsáveis e culpados é o passo mais importante. Por muito tempo olhamos a BBL (empresa do evento) e seus donos como responsáveis isolados. E o amadorismo e falta de conexão real com o evento vieram dali – mas problemas mais graves estavam em outro lugar.

Enquanto estava na Agência Lotus, fãs especulam que Camila anunciou as vendas para ver Ian Somerhalder no Brasil, ficou com o dinheiro e desapareceu. Na ocasião foram usados outros nomes criados recentemente – por isso a especulação sem poder alegar diretamente.

Aqui entra um aviso importante: Camila NÃO consta oficialmente como organizadora do UCCONX. Objetivamente, ela prestou serviço de consultoria para a BBL sobre os artistas e foi contratada para cuidar desta ponte.

Muitas pessoas disseram aqui que erros acontecem, que não se poderia prever a COVID da Millie, que o evento fez o que pôde, etc. Mas quais são as chances deste evento ter envolvimento com alguém que deu vários golpes em outras convenções e estar “de barra limpa”?

Quando fiz a primeira thread (fixada no perfil) comecei toda essa investigação por conta própria. Movido por uma única razão: recebi credencial por ser criador de conteúdo (minhas redes estão na bio) e quando fui pesquisar sobre o evento, me deparei com denúncias trabalhistas.

E é nisso que temos que focar daqui em diante. Claro, acompanhar tantas loucuras em um evento traz momentos até mesmo engraçados e com memes – é natural da internet. Mas daqui em diante não podemos falar de UcconX sem falar de trabalhadores que não foram pagos.

Pode não parecer grande coisa, mas o que aconteceu prejudicou muita gente. O primeiro post de todos foi da @akarlatomaz e ela deixa isso claro. “A minha carreira e vida foram abaladas de um jeito que ainda não consegui recuperar”. Lembrem-se disso.

Se passaram quase 10 hoje e hoje, pela primeira vez, temos a chance de fazer com que estes eventos não enganem mais ninguém. Não tirem mais dinheiro de ninguém. E para isso, informação é poder – espero poder ter ajudado com ela.

A BBL ainda tentou salvar a reputação do evento fazendo seu principal executivo, Leo De Biase, dar entrevistas para dois veículos de comunicação. Leo falou com Meio e Mensagem e GeekPop News.

As entrevistas, obviamente, não surtiram efeitos. Há trabalhadores que não foram pagos há meses e o caso merecia, sim, investigação das autoridades competentes.

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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