Cultura

Um mês após silêncio, governo esclarece que Casinha Games terá contêineres alugados a R$ 500 mil

Anunciado no início de setembro, via Diário Oficial, de que a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro havia separado R$ 4,6 milhões para investir em um projeto que ninguém conhecia, chamado Casinha Games, teve detalhes parcialmente explicados neste mês.

Levaram quase 30 dias para explicar o básico do projeto.

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O secretário de Cultura, Mario Frias, não fez questão de explicar propriamente e brigou na internet com críticos. O órgão também não respondeu solicitações de entrevista – deste Drops de Jogos e de outros veículos de comunicação.

O site Metrópoles, na reportagem de Raphael Veleda via Lei de Acesso à Informação, chegou ao material documental que a Secretaria de Cultura já produziu sobre o tema. Por ele é possível “entrar” nessa Casinha e conhecer melhor as intenções do projeto e suas circunstâncias.

No arquivo, a Casinha será bancada principalmente por verbas federais, mas executada por estados por meio de convênios. A ideia é instalar complexos com salas de aulas em contêineres e ter uma praça externa com telão para a exibição de vídeos educativos e da produção própria dos estudantes, pois deverão ser oferecidos cursos na área de desenvolvimento de jogos eletrônicos e também de produção de animações digitais.

Orçamento inicial da Casinha, de R$ 4,6 milhões, já sofreu um corte devido ao aperto orçamentário do governo federal. Agora, a previsão é que possam ser repassados, do Fundo Nacional de Cultura, R$ 2,93 milhões para as unidades da Federação que já negociam participação no programa: Distrito Federal e Rio de Janeiro.

Contêineres alugados

Um dos documentos técnicos lançados via LAI detalha os materiais que precisarão ser comprados ou alugados para tirar o projeto do papel. Pela previsão, o maior gasto será no aluguel de contêineres acopláveis, revestidos e com ar-condicionado, com custo previsto de R$ 504 mil para a locação de 24 unidades por 18 meses.

É prevista ainda a compra, via licitação, de 36 computadores específicos para desenvolver e rodar jogos eletrônicos, os PCs gamers, por R$ 10,8 mil cada, além de teclados, mouses, monitores, câmeras, microfones, ilhas de edição, refletores e outros materiais eletrônicos. Os decks externos para serem instalados nos projetos no DF e no Rio deverão custar, segundo a cotação, R$ 444 mil, e os telões, R$ 192 mil.

A planilha traz a previsão de gastos com os salários dos prestadores de serviço. Investimento maior é no pagamento dos professores de e-games e de audiovisual. A previsão é que o custo anual da contratação de três profissionais fique em R$ 576 mil, ou R$ 192 mil para cada um (cerca de R$ 14,7 mil por mês).

Meta inicial do programa Casinha Games é formar 400 jovens em situação de vulnerabilidade a partir dos 13 anos em cada uma das unidades da Federação conveniadas. De acordo com a apresentação do projeto, serão oferecidas três opções de cursos, o profissionalizante em e-gamer, o técnico ou profissionalizante em animação digital e o técnico ou profissionalizante em jogos digitais.

Programa Casinha Games ainda está na fase de negociação dos convênios com DF e RJ, e a previsão da Secretaria de Cultura é que eles sejam fechados ainda em 2021, com prazo de execução de 18 meses. As aulas estão previstas para começar no segundo semestre de 2022.

Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro informou, por nota, que “tomou conhecimento do projeto Casinha Games e aguarda os desdobramentos da proposta, que tramita na Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo”.

Já a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF informou que recebeu, no dia 26 de abril deste ano, um ofício propondo a parceria para instalação do projeto em Sobradinho. A pasta enviou resposta, também via ofício, em 14 de maio, demonstrando interesse e solicitando informações adicionais à Secult. Desde então, segundo o órgão, não houve avanço nas tratativas.

O jornal O Globo conseguiu, também via Lei de Acesso à Informação, um parecer técnico do projeto, quem formulou e vai operacionalizar o programa pedagógico é a prestadora de serviço Ghost Jack Entertainment Brazil Office, uma microempresa desenvolvedora de jogos com sede em Belo Horizonte.

Perguntas que ficam

  • Por que um projeto nessa escala somente para Distrito Federal e Rio de Janeiro, sendo que o DF conta com a presença da empresa de games do filho do presidente da República, Jair Renan Bolsonaro?
  • Em qual análise técnica os custos de contâineres, computadores e outros equipamentos e cursos foram baseados?
  • Por que contratar uma empresa pequena de Belo Horizonte?
  • Por que o projeto não se estende a São Paulo, um importante polo de games, ou aos estados da região Nordeste, que cresceram com o incentivo das universidades?
  • Por que o projeto não tem o envolvimento da Abragames?

Essas são as perguntas para começar a questionar.

Veja o vídeo da semana acima.

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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