O tema elevou os ânimos da plateia, com risadas e aplausos efusivos, e nos faz perceber que – independente de qualquer coisa – o setor de jogos digitais não está em uma bolha à parte de toda a comoção e polarização que o contexto político nacional nos oferece. Sem intenção de discutir se é golpe, ou não é golpe, esse artigo vai se focar na fala de Eliana Russi, diretora da ABRAGAMES e do BIG, e coordenadora do projeto setorial de exportação Brazilian Game Developers (BGD). Falando em nome da Abrgames, BIG e BGD:
"Quero afirmar que nós não temos nenhuma posição política. A gente está trabalhando com um setor que dá certo, um Brasil que funciona. Aqui ninguém é golpe ou anti-golpe".
A fala de Eliana é compreensível. Sem possuir uma posição definida enquanto associação ou evento, ela provavelmente temia que discursos mais inflamados pudessem taxar o grupo como a favor de alguma posição política. É de se destacar, inclusive, que o logotipo do atual governo estampava o quadro de patrocinadores do evento (como também estamparia o governo anterior se não fosse afastado). Outro ponto a se considerar é o fato anunciado naquela mesma mesa de que o BGD, ligado a Apex, estaria em últimos detalhes para o processo de renovação. E se uma postura mais combativa em relação ao governo atual se refletisse em alguma retaliação em forma da retirada deste projeto tão importante para o setor – e para a própria ABRAGAMES? Saindo do campo das especulações – e qualquer afirmação nesse caso seria desonesto da minha parte – a certeza neste caso é que a ABRAGAMES não possui nenhuma posição definida e oficial relativa a esta troca de comando do Governo Federal.
Mas ela deveria ter uma posição política?
No campo político partidário é consensual que uma associação organizada de empresários do setor de desenvolvimento não deveria se manifestar por uma organização política X ou Y. Isso principalmente porque seus associados são indivíduos de opiniões heterogêneas, mas unidos pelo interesse comum de fortalecer o setor. Entretanto a ABRAGAMES, como toda associação setorial, é uma entidade de natureza política. Para entender isso, um pouco de história.
O surgimento da ABRAGAMES, em 2004, esteve ligado a necessidade dos desenvolvedores brasileiros se representarem nos espaços de discussão, sobretudo com a renovação das políticas culturais realizada pelo ministro Gilberto Gil no primeiro governo Lula. Desta parceria surgiram editais como o Jogos BR e BR Games, e articulações como a inclusão dos jogos eletrônicos no escopo regulatório da Ancinav. Seu papel articulador é tão claro, que está marcado no Plano Diretor da indústria de desenvolvimento de jogos eletrônicos desenvolvido pela ABRAGAMES no mesmo ano de sua fundação:
“A atuação atuação sinérgica entre o governo e a indústria é fundamental para que o Brasil possa participar da corrida de geração de conteúdo digital. A ABRAGAMES e o governo compartilham a percepção de que para atingirmos uma indústria de jogos com forte presença no Brasil e no mundo não existem entraves culturais, mas apenas desequilíbrios econômicos, gargalos que, nas palavras do Ministro Gilberto Gil, ‘são perfeitamente superáveis com visão estratégica das empresas e dos órgãos reguladores deste mercado’” (p.9)
O que está em jogo?
Aqui não está em voga o Fora Temer ou Fora Dilma, e sim o modelo oposto de política pública representado por eles. Os governos do PT, onde até agora articulou-se a ABRAGAMES, sustentavam a visão de um Estado como regulador da sociedade, entendendo a política cultural em três dimensões – simbólica, cidadã e econômica – o que privilegiou o fomento de setores marginalizados às concepções das artes consolidadas, caso do setor de jogos digitais. (Plano Nacional de Cultura, p.11)
Se a ABRAGAMES segue com o discurso de demandar dispositivos de fomento que estimulem a criação de um ecossistema sustentável de produção no Brasil, ela está defendendo justamente um modelo de política pública sustentado pelo governo afastado, que entendia a importância em produzir bens simbólicos em território nacional.
O novo governo, contudo, está focado em uma política de redução do papel de atuação do Estado, enxugando ministérios e gastos públicos. Dos ministérios enxugados, inclusive, estão justamente aqueles três onde grande parte das políticas para o setor de jogos digitais surgiram até então: Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, Ministério das Comunicações e Ministério da Cultura. O modelo de política privilegiado estaria na linha das isenções fiscais e entrada de capital estrangeiro no país. Nesse sentido, muito diferente do que a busca por um setor que produz propriedade intelectual, esta política seria útil para capitalizar a cena nacional na coprodução com grandes estúdios internacionais – à exemplo do modelo chinês.
A definição de certo ou errado, ideal ou indesejado, cabe aos quadros da ABRAGAMES junto a seus associados. Mas o entendimento claro sobre qual modelo de política pública o setor está lutando é fundamental para o estabelecimento de uma estratégia ante ao novo cenário político. É a primeira vez, afinal, que a ABRAGAMES encontra um governo federal com alinhamento diferente daquele que existe desde a sua fundação.
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