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EXCLUSIVO: Apontado em relatório por “abuso moral”, diretor da Wildlife tem emprego mantido após demissão em massa

Em dezembro de 2021, o site internacional Rest of the World informou que um relatório apontou “assédio moral” dentro da Wildlife Studios, unicórnio brasileiro que vale mais de US$ 3 bi. A reportagem de Nick Ellis, Jon Peltz e Alex González descreve o documento, mas não dá nenhum nome.

Quase três anos depois, o Drops de Jogos obteve o relatório. Publicamos também em primeira mão a leva de 130 demissões na empresa, que somam centenas de profissionais desligados enquanto um dos fundadores comprou uma mansão de R$ 125 milhões nos EUA.

Mesmo com demissões na escala de 100 pessoas, o profissional apontado pelo documento não teve o emprego afetado.

Wildlife. Foto: Divulgação

“Já tinha visto muita gente se dar mal com esse tipo de postura”

O documento elaborado internamente, de 22 páginas, aponta “condutas negligentes e/ou danosas” de Rodrigo Venkli, diretor criativo da Wildlife Studios, presente na empresa há sete anos. Seu cargo era de gerência na empresa e foi alterado após a reportagem do Rest of the World para diretor.

Esse arquivo a que o Drops de Jogos obteve acesso aponta que o profissional não teve atitudes “extremamente machistas” e nem há relato de “assédio sexual”. Nisso, a denúncia se debruça em cima da produção de um trailer de Tennis Clash e da personalização da personagem Florence. As profissionais questionaram o diretor sobre a sexualização da personagem em um vídeo que não chegou a ser levado à público em 2017.

Diz o documento:

“Venkli disse que conseguiria resolver o problema em dois dias com caneta e papel, passando por cima da sugestão de [NOME OCULTADO] e ela novamente voltou a apontar que isso não funcionaria. Na sequência, o Venkli respondeu enfaticamente que ele tinha experiência e sabia o que estava falando, minimizando as contribuições da artista e encerrando aquele tópico por ali. No restante da reunião, a artista não foi mais consultada. A situação foi bastante desconfortável, a ponto de, em um segundo momento, em um com um, a artista pedir para seu gerente para não participar mais das produções que envolvessem [NOME OCULTADO]”.

O relatório interno aponta um segundo caso, envolvendo uma funcionária que se queixou da qualidade dos ícones, de que estavam “muito ruins”. Ele se debruça novamente em cima do comportamento do diretor:

“Venkli a chamou em particular numa sala de reuniões e falou que ela deveria ser mais humilde porque ele era bastante experiente e já tinha visto muitas pessoas se darem mal por terem esse tipo de postura, num tom claramente passivo-agressivo. Ela se posicionou dizendo que não achava que estava deixando de ser humilde, pelo contrário, que estava suscitando uma discussão intelectualmente honesta e que acreditava no impacto da qualidade dos ícones”.

O mesmo documento aponta que o diretor também chegou a contratar uma funcionária por um salário menor. A iniciativa vai contra a equidade salarial que a própria Wildlife prega para seus empregados.

“A [NOME OCULTADO] foi indicada para a vaga por um amigo, ele havia feito a entrevista antes dela para a mesma vaga mas não teve interesse e por isso a indicou. O Venkli ao fazer a proposta de trabalho, ofereceu R$ 500 a menos, o equivalente a quase 10% do valor total da proposta. A [NOME OCULTADO] acabou aceitando pois estava precisando na época. Uma das consequências disso é que ela foi artista sênior com o menor salário por muito tempo. O salário dela só foi corrigido posteriormente, quando fizemos o reajuste do departamento inteiro em dezembro de 2019”.

O arquivo que o Drops de Jogos teve acesso aponta outros comportamentos problemáticos do diretor, como comentários nos bastidores que destoam dos comentários públicos, além de “jogar no celular” nas apresentações de mulheres.

Sindicato aciona o Supremo no caso da Wildlife

O Sindicato de TI de São Paulo, ligado à CSB, acionou o Judiciário após a notícia de demissão em massa envolvendo a Wildlife Studios. Eles postaram no X, antigo Twitter.

“URGENTE! Sindpd aciona justiça após AVL APLICATIVOS, conhecida com Wildlife Top Free Games, promover demissão em massa sem prévia negociação com o sindicato, descumprindo recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)”.

A sindicalização dos trabalhadores de videogame ainda só encontra algum respaldo no setor de tecnologia da informação. Com o avanço do Marco Legal dos Games, existe a possibilidade de uma organização maior do setor, inclusive sindical.

Outro lado

O Drops de Jogos procurou a Wildlife com os seguintes questionamentos:

– Por que o diretor criativo do estúdio foi mantido na empresa após a reportagem sobre as acusações de assédio moral chegaram à imprensa internacional? Há alguma razão específica para isso?

– Como a empresa responde à denúncia do Sindicato de TI de demissão em massa sem prévia negociação, que foi denunciada ao Supremo?

– Tem algo que eu não perguntei e vocês gostariam de acrescentar?

O espaço está aberto para manifestação da Wildlife Studios.

O Drops de Jogos procurou Rodrigo Venkli com as seguintes perguntas:

– Você se arrepende das condutas que teve internamente dentro da Wildlife com suas colegas de trabalho?

– Após a informação ter sido publicada em 2021, você mudou seu comportamento? Tem arrependimentos?

O espaço está aberto para a manifestação do profissional.

Veja nossa campanha de financiamento coletivo, nosso crowdfunding.

Conheça os canais do Drops de Jogos no YouTube, no Facebook, na Twitch, no TikTok e no Instagram.

Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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