Há inúmeros motivos para não gostar deste jogo, mas aqui enumero as razões para elegê-lo como o título de destaque de 2015.
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O designer de games Hideo Kojima trabalhava na Konami desde 1986 e iniciou um processo de rompimento com a empresa. As fofocas começaram a vazar pra mídia em março de 2015 e, no mês de agosto, uma reportagem do jornal japonês Nikkei revelou que as condições de trabalho de sua equipe configuravam praticamente um abuso de poder da empresa, com ambientes que eram descritos como uma "prisão". Os funcionários eram proibidos de utilizar a internet e eram vigiados no horário do almoço, como a própria ilha de Shadow Moses que Kojima criou para o primeiro Metal Gear Solid em 1998.
Mesmo nestas condições, a Kojima Productions criou provavelmente o melhor gameplay da série em The Phantom Pain. Seu personagem Big Boss tem liberdade plena para se esconder durante uma invasão ou pode ir equipado com armamento pesado para destruir inimigos e suas bases militares. O jogo tem uma inteligência artificial autônoma que faz guardas e fortificações se adaptarem a suas táticas. Se você dá muitos tiros na cabeça dos soldados, eles se equipam com capacetes. Balas dadas nas partes íntimas deles forçam a segurança a trocar os militares por mulheres. E eles capricham no momento de pedir reforços.
Kojima saiu da Konami em outubro deste ano e rompeu relações definitivamente no dia 15 de dezembro, fim do seu contrato e quando criou sua empresa própria parceira com a Sony para desenvolver um novo game exclusivo. Em 2014, Hideo Kojima também desenvolveu um projeto de Playable Teaser (P.T.) do novo jogo de terror Silent Hills com o cineasta Guillermo del Toro. O projeto foi interrompido pela Konami e provocou manifestações e petições de usuários na internet. Agora independente, será que ele vai retomar?
Phantom Pain nasceu neste rompimento durante o mês de setembro. Como uma provocação, Kojima recheou o game com referências a ele próprio, que chegam até a irritar o jogador. Com um mundo aberto de espionagem, e uma jogabilidade realmente diferenciada, é uma proeza que o projeto não tenha sido bruscamente interrompido.
Quiet é uma personagem sniper que podemos categorizar como fanservice, ou seja, ela utiliza roupas mínimas com uma desculpa mambembe de que precisa da pele para respirar, mas faz isso apenas para chamar atenção do player para o tamanho dos seus seios ou da bunda. No entanto, fora ela, Big Boss é líder de uma base mercenária chamada Outer Heaven e pode capturar soldados em suas missões.
Neste contexto, você pode controlar seus subordinados, inclusive as mulheres. Isso é um ponto positivo salutar em Phantom Pain. Embora as mulheres não sejam personagens principais no modo história, é possível controlar mercenárias e configurar suas roupas para figurinos militares padrão. Ou seja, embora ainda conserve características machistas, o game possui exemplos pontuais de uma tentativa de aumentar a representatividade feminina, que se tornou uma das pautas principais dos jogos eletrôncios atualmente ao lado da participação de minorias, como negros, LGBT e trans.
A versão multiplayer chamada Metal Gear Online foi lançada no dia 6 de outubro e organização de e-Sports ESL, responsável por torneios de games reconhecidos como League of Legends, criou um torneio internacional previsto para encerrar em 2016. O modo online colocar jogadores para invadirem as Mother Bases e encarar os sistemas de defesa dos gamers.
A parte de configurar a base, recrutar melhores soldados e traçar estratégias é fundamental para jogar com outros players. Neste aspecto, Phantom Pain segue a linha de Peace Walker e Portable Ops e oferece modos para que o jogador não pense apenas em sacar a pistola e atirar. É necessário saber se esconder, enganar os inimigos e se defender de ataques, como um legítimo líder de guerrilha e de tropas paramilitares.
Big Boss está essencialmente construindo sua Outer Heaven para se tornar o inimigo de Solid Snake em games que você já jogou. Na construção deste personagem, o player pode fazer o que quiser com ele. Mesmo com tanta liberdade, há pontos interessantes de modo geral na história e presentes para todos, bem como parceiros inesquecíveis como o lobo D-Dog (melhor pet ever <3) e até os cavalos e os tanques que você pode dirigir ao longo do game.
Para entender bem o enredo, é necessário ouvir as fitas cassetes dadas por Ocelot e Kaz Miller, seus principais subordinados, para descobrir sobre si mesmo e sobre as tramas que se constroem a medida que você se torna um líder reconhecido globalmente contra Cipher (Major Zero) e suas forças armadas. As tropas de crianças-soldado de Liquid Snake (Eli) mostram os horrores da guerra chegando nas novas gerações, inclusive de negros na África, o que apimenta o épico de Hideo Kojima no aspecto da sua crítica ao militarismo.
Estes pontos poderiam ser abordados com profundidade. A única diferença entre as crianças e os homens é que Big Boss não consegue assassiná-las – uma das poucas limitações na sua liberdade dentro do game. Falta uma abordagem que mostre os traumas delas além da história do próprio Eli, que nutre um ódio praticamente irracional a Big Boss.
Mas a ideia de que você controla um personagem com uma moral no mínimo questionável, uma espécie de "cachorro louco matador", é presente no game inteiro. Enquanto Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty desconstruiu o herói Solid Snake mostrando que ele poderia ser perfeitamente uma simulação de um inteligência artificial de Cipher no personagem Raiden, Big Boss é transformado num vilão que pode ser construído por você mesmo na frente do seu PlayStation 4. E mesmo que ele evite matar as pessoas, Boss se mostra pelo uso da força e da inteligência que dobram seus inimigos em nome de propósitos no mínimo vagos.
O jogo é dividido em duas partes, sendo a primeira com as grandes novidades e a outra com missões ora difíceis ou repetitivas, imitando Peace Walker. Faltou um terceiro capítulo mostrado em vídeos na internet que deveria ter permanecido para contar a história completa.
Metal Gear Solid V: The Phantom Pain acaba sendo uma parábola sobre ética nos exércitos pós-Segunda Guerra Mundial.
Um robô 10 vezes maior do que Rex, que foi criado nos anos 2000? Esta é o Metal Gear Sahelanthropus na cabeça doida de Kojima, com um chicote que lembra Alucard ou o próprio Drácula em Castlevania. Aparições bizarras de MGS3: Snake Eater? Está tudo lá.
Assim como também podemos conferir a caixa de papelão, o boneco falso do Big Boss de borracha e os posteres de anime, dos famosos desenhos japoneses. Hideo Kojima, tal como um "Quentim Tarantino dos games", não nos poupa de uma linguagem pastiche e transmídia. Em muitas situações e com muitos personagens ele utiliza recortes de outros filmes e de outros produtos da indústria cultural para executar a sua construção. Sem total originalidade, Kojima nos brinda com uma genialidade digna de colagens e encerra uma saga de games que inseriu, pela primeira vez nos jogos eletrônicos, o uso de dublagem de atores profissionais neste mercado. Kojima quase fez cinema com seus Metal Gear Solid.
Mas o que ele fez realmente foi um grande trabalho de colagem que conta a história sobre como jogar videogames. Como é controlar um único homem para derrubar um robô gigantesco. É a velha história de Davi e Golias, contada e recontada de diferentes formas.
O último Metal Gear de Hideo Kojima para mim fecha este ciclo, embora a irresponsável da Konami ainda pense em continuações para uma franquia que vende cerca de seis milhões de cópias a cada episódio.