OPINIÃO: The Witcher ficou (muito) melhor sem Henry Cavill

Eu sei que essa é uma opinião que vai fazer muita gente querer me matar, mas eu já estou acostumado a escrever textos deste tipo. Então por que não mais um né? E eu quero ser bem sincero pra falar: eu estou gostando demais do novo caminho da série The Witcher.

Sim, eu também achei estranho quando Henry Cavill anunciou que estava largando a série após o fim da terceira temporada. E sim, eu também não estava gostando nada dos rumos que a série estava tomando. E não porque eles eram diferentes dos livros, mas porque eles eram a pior mistura para qualquer história de fantasia: uma mistura de “tosco + brega” e que se levava a sério demais.

Então, eu não esperava absolutamente nada da quarta temporada da série. E qual não foi minha surpresa quando eu me percebi não apenas gostando do Geralt de Liam, mas gostando mais da série como um todo?

Mas antes de falar mais sobre isso, eu preciso deixar claro qual é a minha “bagagem” com o mundo de The Witcher. Eu não sou exatamente um fã do trabalho de Sapikowski – eu sou um enorme fã do que a CD Projekt RED fez com o trabalho do escritor.

Eu conheci a franquia em meados de 2012, quando encontrei uma cópia pirata de The Witcher 2: Assassin of Kings para PC na loja que frequentava em Sorocaba. E apesar de ter fechado o jogo, ele não “entrou” na minha cabeça. Foi uma experiência do tipo que passei alguns meses dedicado só a ele, e depois tudo simplesmente sumiu da minha memória.

Foi apenas com The Witcher 3: Wild Hunt que eu realmente desenvolvi uma ligação profunda com a franquia. Foi lá que Geralt, Ciri e Yennefer se tornaram alguns dos meus personagens favoritos de toda a ficção, e é esta a versão deles que vive na minha cabeça. Meu amor pelos jogos me levou a tentar ler os livros – ênfase no tentar – mas eu não consegui por um motivo muito simples: eu gostava mais das versões dos personagens que eu conheci no videogame do que as originais que existiam nos livros (e o fato do Sapikowski não conseguir largar as inspirações em contos de fada e histórias mitológicas e tudo parecer que eu estava lendo os roteiros de episódios nunca gravados de de Era Uma Vez também não ajudou).

E é justamente por isso que eu estou adorando a quarta temporada da série: ela está se levando menos a sério e, em muitos momentos, aproximando os personagens das versões que eu conheço dos games.

Não vou mentir pra você: eu precisei de menos de 20 minutos do primeiro episódio pra saber que já gostava muito mais do Geralt versão Liam Hemsworth do que do Cavill. Sim, ele é fisicamente (bem) menos imponente do que antes. Sim, a peruca branca dele parece ainda mais falsa na cabeça do Liam. Sim, ele parece mais um bêbado que você encontraria jogado na sarjeta do que um exímio espadachim. Mas é justamente por isso que eu estou amando essa versão, porque ela se parece muito mais com a versão que fez eu me apaixonar pelo universo The Witcher. 

Eu nunca consegui me identificar com o Geralt do Cavill, que parecia sempre extremamente seguro de si e alguém que carregava o peso do mundo nos ombros. E mesmo que essa representação pudesse ser mais próxima dos livros (e eu não sei se é mesmo porque, como já falei, eu tentei ler eles mas não consegui porque achei chatos), não era o personagem que eu me identificava.

O Geralt que eu conhecia era alguém que liderava mas, ao mesmo tempo, que não entendia porque tanta gente dava ouvidos a ele. Que tinha confiança nas suas habilidades como bruxo, mas no fundo considerava que cada oponente absurdo que ele derrotava era também muito por sorte. Que tinha certeza que ia morrer no Caminho, mas sonhava com uma aposentadoria tranquila ao lado das duas mulheres que amava como esposa e filha. Alguém que odiava o fato de a jornada pessoal dele o colocava no meio das principais tramas políticas do continente. E, acima de tudo, uma pessoa que era levado muito a sério em todo lugar que passava, mas nunca por si mesmo.

E Liam não demorou pra mostrar que, apesar de usar as mesmas roupas e a mesma peruca, o Geralt dele seria um pouco diferente daquele que conhecemos nas três primeiras temporadas. Tirando o rosto, a diferença é sutil, mas é notável. Este é um bruxo que claramente não se leva mais tão a sério e se esforça para esconder suas claras inseguranças.

E esta mudança de atitude não ocorreu apenas no personagem principal, mas na série como um todo. Em muitos momentos os figurinos parecem coisa de série da Record? Sim, mas e daí? Ao contrário de Game of Thrones, o mundo de The Witcher sempre teve seus momentos de breguice – Toussaint mesmo parece tirado diretamente de uma tour pela Disney World! E não podemos falar que uma série de livros que tem o final que foi criado por Sapikowski não é extremamente brega já desde sua concepção.

Eu ainda não terminei a quarta temporada, mas eu estou bem satisfeito de ver a série finalmente abraçando sua própria breguice e não se levando muito a sério. E eu sei que as notas dela vão ser as mais baixas de longe, e que a internet vai estar cheia de gente reclamando sobre como estragaram The Witcher. Mas não se engane: isto só vai acontecer porque o diagrama Venn de viúvas do Henry Cavill e de viúva do Snyderverso é um círculo.

Porque a realidade é que, provavelmente, quem parar pra assistir essa quarta temporada de peito aberto e sem a certeza de que vai odiar tudo antes mesmo de dar play no primeiro episódio, vai ter uma surpresa positiva. Primeiro, vai pensar “olha, não é tão ruim quanto eu esperava”. E, depois de um tempo, vai começar a se pegar pensando “pera, esse negócio que aconteceu aqui foi bom de verdade?!”

E aí já era, e você foi novamente fisgado pela isca de maior sucesso da história da TV: a série tosca que sabe que é tosca e abraça a tosquisse. E boa parte das séries que perduram por anos na memória entram exatamente nesta categoria.

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