Alguns especialistas internacionais sugerem que o afresco de Michelangelo “O Dilúvio” na Capela Sistina retrata uma jovem exibindo sinais consistentes com câncer de mama. Segundo um estudo publicado recentemente na revista The Breast, o pintor parece ter deliberadamente retratado a doença.
“O Dilúvio” é a primeira cena que Michelangelo pintou no teto da Capela Sistina em 1508. No afresco, uma mulher é retratada quase nua, usando apenas um lenço azul na cabeça (indicando que é casada) e uma capa azul. Atrás dela está uma criança que parece estar chorando. Uma possível hipótese é que essa mulher seria Francesca Del Sera, mãe de Michelangelo, e, a criança seria o próprio pintor.
Esse estudo foi feito usando um método chamado iconodiagnóstico, processo de análise médica que procura sinais clínicos de distúrbios e doenças médicas em obras de arte. Ela é frequentemente utilizada para fornecer informações sobre patologias em diferentes períodos paleo-históricos e requer a colaboração entre especialistas em biomedicina, história médica e história da arte.
A análise a partir das diretrizes para iconodiagnóstico mostrou que enquanto a mama esquerda da mulher retratada no afresco parece normal, apresentando ptose associada à idade ou à amamentação, com mamilo proeminente e contornos suaves, a direta apresenta anormalidades significativas.
Mamilo está retraído e deformado, a pele areolar também está retraída, com erosão na região medial e reentrância profunda semelhante a uma cicatriz acima do mamilo. Protuberâncias sutis no quadrante medial superior e em direção à axila sugerem a presença de nódulos, possivelmente indicando linfonodos aumentados.
De acordo com a equipe internacional, formada por especialistas da Alemanha, Itália, França, Áustria e Reino Unido, essas características incomuns da mama esquerda representam câncer da mama avançado, uma doença da qual o artista não só teria conhecimento, mas escolheu intencionalmente retratar. A familiaridade de Michelangelo com a anatomia humana pode ter-lhe permitido descrever com precisão características patológicas específicas.
Pesquisadores citam o fato de Michelangelo ter ajudado em autópsias a partir dos 17 anos, quando teria observado patologias que potencialmente incluíam câncer de mama. Encontrar essas anormalidades patológicas específicas na mama direita da mulher pode então sugerir o retrato intencional de uma doença.
Além disso, as diretrizes de iconodiagnóstico incluem a necessidade de realizar diagnóstico de exclusão e avaliação de quaisquer artefatos de restauração no afresco. A equipe conisderou a mastite tuberculosa e a mastite puerperal, condições prevalentes durante a Renascença, mas foram descartadas. Condições crônicas como mastite de células plasmáticas, normalmente observadas em mulheres mais velhas, também foram desconsideradas devido à sua aparente juventude.
Comparações com outras obras de Michelangelo revelam que ele era perfeitamente capaz de retratar o seio feminino saudável. Nas figuras femininas de “O Juízo Final” e em esculturas como “Amanhecer” e “Noite” da Capela dos Médici, os seios são retratados com simetria livre de sinais de patologia, reforçando a ideia de que as anormalidades em “O Dilúvio” foram deliberadas.
A análise da pesquisa concluiu que as características observadas estão alinhadas com as evidências necessárias para um iconodiagnóstico consistente com carcinoma de mama.
Com informações de O Globo. Isso também foi publicado na The New England Journal of Medicine e New Scientist.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.