O maior absurdo da Game Awards é a série de Yakuza como “Melhor Adaptação” - Drops de Jogos

O maior absurdo da Game Awards é a série de Yakuza como “Melhor Adaptação”

O absurdo do “Oscar dos games”

Like a Dragon é uma bomba. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Like a Dragon é uma bomba. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

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Desde que os indicados para o The Game Awards deste ano foram anunciados dia 18 de novembro, apareceram diversos comentaristas comentando coisas como “Nossa, absurdo uma DLC concorrendo a Jogo do Ano!”, apontando um tratamento preferencial para Shadow of the Erdtree e a From Software.

Ou então “que que esse joguinho de carta tá fazendo no meio dos GOTY?!?!” – esse talvez foi o comentário mais comum entre qualquer pessoa que não jogou Balatro, porque todo mundo que jogou tava no site da premiação votando nele pra Game Of The Year.

Mas o que talvez seja o real absurdo entre os indicados desse ano passou batido por quase todo mundo: o fato da série Like a Dragon – Yakuza estar concorrendo para melhor adaptação. Um dos motivos pra isso foi porque, provavelmente, quase ninguém assistiu essa porcaria – eu até tentei procurar por notícias sobre a quantidade de pessoas que assistiram a série, e não achei nada sobre a Amazon se vangloriando do número de pessoas assistindo.

Like a Dragon é uma bomba. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Like a Dragon é uma bomba. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Na real, até a quantidade de pessoas discutindo sobre ela no Reddit é bem baixa, o que dá a tônica de que ninguém deu muita bola pra esse lançamento.

Mas eu confesso que estava um pouquinho hypado pra estreia dela. Afinal, sou tão fã da franquia Like a Dragon (ou Yakuza, use o nome que preferir) que até escrevi um enorme ensaio sobre como Kazuma Kiryu deveria ser usado como modelo de masculinidade para as próximas gerações.

Eu precisei de apenas 20 minutos para saber que aquilo era uma enorme porcaria – e não do jeito bom.

Invenção, não adaptação

Like a Dragon é uma invenção. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Like a Dragon é uma invenção. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

“Eu quero ser o Dragão de Dojima!”

Quando o protagonista Kazuma disse isso em uma reunião com membros da Yakuza, esse foi o ponto que eu desisti da série. Foi ali que ficou claro que Like a Dragon: Yakuza não era uma adaptação como The Last of Us, Arcane ou Fallout: histórias que criaram novas tramas que não existiam no jogo e até modificaram uma coisa ou outra, mas que se preocuparam em garantir que nenhuma dessas mudanças não afetassem os elementos centrais que faziam do jogo um sucesso.

Não; esta fala do Kiryu foi um grito de libertação pra mim, no sentido de “pode se libertar dessa merda e vai gastar seu tempo fazendo outra coisa”. Porque ela deixou clara que Like a Dragon – Yakuza é uma adaptação da mesma qualidade que Borderlands: aquele tipo que só se preocupa com o cosmético.

Existem 2 pontos principais que torna a franquia Yakuza o que ela é: a abordagem maluca para contar uma história clássica de “vida criminal” (com coisas tipo trazer um chefão da máfia que adora colocar uma fralda e fingir que é um bebê e moer no soco qualquer pessoa que ache que isso torna ele menos homem) e as motivações de Kazuma Kiryu.

O primeiro ponto já era claro pelos trailers que a série não iria seguir, então quando ficou claro que o segundo também seria ignorado a única coisa que eu podia fazer era fechar a aba do Prime Video no meu PC.

Como já expliquei em outro texto por aqui, uma das coisas mais interessantes de Kazuma Kiryu é o fato de ele ser um estereótipo de “macho alfa” mas não ter nenhuma das motivações do estereótipo. Ele não busca por fama, dinheiro e poder, mas sim anseia por poder levar uma vida pacata cuidando de um orfanato no interior. Claro, ele eventualmente acaba conseguindo todas essas coisas – fama, dinheiro, poder e o orfanato – mas a única coisa que ele realmente perseguiu e batalhou para conseguir foi o orfanato.

E, ironicamente, este foi o último objetivo que ele alcançou e que rapidamente foi tomado dele (porque não dá pra você aposentar de vez o personagem principal de uma franquia de jogos de ação).

Mas ouvir o personagem falando que quer ser o Dragão de Dojima – uma posição de status dentro da hierarquia da Yakuza dos jogos, e que é usada para indicar quem é o melhor lutador de todo o clã – matou qualquer esperança que eu tinha da série me entregar uma boa história.

Claro, o protagonista da série ainda usaria a mesma camisa vinho com paletó cinza com as ombreiras enormes e um caimento estranho (o que é a maior prova que o jogo nos dá de que Kiryu é mesmo um homem hétero, porque só um homem hétero conseguiria olhar aquela combinação e falar “hm, muito elegante, vou usar isso”) e ser o melhor lutador em tela, mas todas essas opções são cosméticas – um cosplay.

Aquele não é o Kiryu em sua essência, e por isso Like a Dragon – Yakuza não é uma série que merecia a atenção de ninguém. E nem uma indicação para melhor adaptação na The Game Awards.

*Rafael Silva é jornalista desde 2017. Cresceu lendo revistinhas de videogame, entrou numa noia quando percebeu que o “jornagames” ainda era feito para adolescentes que só tinham interesse de discutir qual console era melhor, e agora está numa missão de vingança para resolver isso com as próprias mãos.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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