Estudo sobre mortalidade pós-vacina de Covid-19 contém falhas - Drops de Jogos

Estudo sobre mortalidade pós-vacina de Covid-19 contém falhas

Comitê técnico da Fiocruz refuta estudo internacional e pede retratação

(Créditos: Reprodução/Freepik)

O Comitê de Acompanhamento Técnico-Científico das Iniciativas Associadas a Vacinas para a Covid-19, formado por um grupo independente de especialistas da Fiocruz e de fora da instituição, posicionou-se criticamente nesta segunda-feira (13/01) sobre o artigo Avaliação do risco de mortalidade pós-Covid em casos classificados como síndrome respiratória aguda grave no Brasil: um estudo longitudinal de médio e longo prazo, publicado em dezembro de 2024 pela revista científica Frontiers in Medicine. A nota de posicionamento será enviada ao editor da publicação, solicitando a retratação do artigo.

O estudo alega que “o efeito protetor da imunização contra a Covid-19 foi observado até um ano após os primeiros sintomas e que, após esse período, o efeito foi revertido, mostrando um risco aumentado de morte para os vacinados”. Para os especialistas do Comitê, o artigo apresenta conclusões baseadas em metodologias falhas e podem contribuir para uma maior desconfiança em relação às vacinas.

“A hipótese apresentada pelo artigo contrasta com o vasto corpo de conhecimento científico publicado sobre vacinas e vacinação, não apenas contra a Covid-19, mas também contra muitas outras doenças evitáveis por vacinação”, avaliou o Comitê. O grupo também apontou para outras limitações significativas, como a natureza observacional não controlada e o uso inadequado do banco de dados de notificação de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) classificados como Covid-19 do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (Sivep). De acordo com os especialistas, esse banco de dados, embora seja robusto, não é estruturado para responder às hipóteses apresentadas sobre diferenças de mortalidade a longo prazo entre vacinados e não vacinados. Além disso, o estudo não leva em conta fatores como idade, comorbidades e condições socioeconômicas, considerados importantes para o desfecho do caso clínico.

O Comitê também criticou a falta de referência a estudos de outros grupos de pesquisa, incluindo análises brasileiras que utilizaram a mesma base de dados. Os especialistas lembraram que existe um vasto corpo de evidências científicas demonstrando a segurança e a eficácia das vacinas, respaldado por organizações como o International Vaccine Access Center (IVAC), da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.

Entre as suas recomendações, o Comitê reforça a importância de manter rigor metodológico em pesquisas sobre saúde pública, especialmente em temas sensíveis como vacinas. Os especialistas também ressaltaram a necessidade de usar diferentes bancos de dados e de considerar evidências já estabelecidas sobre a eficácia e segurança das vacinas. Eles alertaram para os riscos de conclusões precipitadas. Na tentativa de evitar que a pesquisa prejudique a confiança nas vacinas, o Comitê solicitou maior transparência dos autores e das revistas científicas.

“É crucial manter o rigor científico, evitando a polarização ideológica na pesquisa sobre vacinas. Artigos submetidos para publicação científica abordando causalidade relacionada a condições de saúde, que são multifatoriais por natureza, devem usar bancos de dados múltiplos, apropriados e robustos para testar hipóteses multicriteriais, além de declarar claramente as limitações metodológicas do artigo e das inferências apresentadas”, afirmou o Comitê em mensagem que será transmitida aos editores da Frontiers in Medicine acompanhada por um pedido de retratação.

“A ciência tem um papel fundamental na construção de confiança e no avanço da saúde pública. Estudos precisam respeitar altos padrões metodológicos para evitar desinformação e garantir que decisões sejam tomadas com base em dados confiáveis”, concluiu o Comitê.

Na última semana, a Fiocruz publicou uma nota oficial, reforçando a segurança do imunizante e da importância da vacinação como estratégia no enfrentamento à pandemia. Outros grupos de pesquisadores da Fiocruz também têm manifestado importantes ressalvas em relação ao artigo e solicitado um posicionamento dos editores da Frontiers in Medicine. O Ministério da Saúde publicou uma nota contestando a validade do estudo.

Comitê de Acompanhamento Técnico-Científico das Iniciativas Associadas a Vacinas para a Covid-19

O Comitê de Acompanhamento Técnico-Científico das Iniciativas Associadas a Vacinas para a Covid-19 foi criado pela Presidência da Fiocruz em julho de 2020. Suas principais atribuições são avaliar documentos técnicos científicos sobre o desenvolvimento tecnológico da vacina, os ensaios clínicos e o processo de incorporação tecnológica; avaliar a aquisição ou absorção de tecnologias de terceiros ou o desenvolvimento de colaborações ou parcerias para o desenvolvimento de tecnologias relacionadas ao combate ao Covid-19; e elaborar pareceres técnicos científicos, para subsidiar a Presidência da Fiocruz nestes temas.

Atualmente, o comitê é presidido pelo presidente da Fiocruz, Mario Moreira, e composto por membros da Fundação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Goiás (UFG).

*por Agência Fiocruz de Notícias

Veja nossa campanha de financiamento coletivo, nosso crowdfunding.

DROPS DE JOGOS RELANÇA SUA CAMPANHA DE FINANCIAMENTO COLETIVO

Conheça os canais do Drops de Jogos no YouTube, no Facebook, na Twitch, no TikTok e no Instagram.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Categorias:
Ciência
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments