Eu quero comprar um game BR. Por Renato Degiovani, colunista do Drops de Jogos - Drops de Jogos

Eu quero comprar um game BR. Por Renato Degiovani, colunista do Drops de Jogos

Antes de sacar sua metralhadora giratória, cujas balas ostentam o slogan "brasileiro não compra jogo brasileiro", importa tentar entender como é a vida de um consumidor que, num belo dia de sol, resolveu "comprar" um jogo feito por brasileiros em nosso solo. Para efeito de estudo científico aleatório, não importa qual game seria esse. Podemos focar na plataforma PC, só pra ficar mais fácil o raciocínio. Afinal, esta é, por enquanto, a única plataforma que comporta todo e qualquer tipo de game.

Foto: Simon Shek/Creative Commons/Flickr

A motivação também não importa muito. Digamos que um amigo recomendou: "Vê aí o jogo X". "É brasileiro e o pessoal que fez o jogo tá matando a pau". De fato você viu o release, achou maneiro e o preço não assustou. Então, por que razão não apoiar os brazucas envolvidos na produção?

A pergunta de um milhão de dinheiros aqui é: Onde eu compro? Se responder no Steam, já sacaneou o experimento. Vamos pelo caminho mais longo: O game nacional tem uma página "oficial"? Nela tem algum link para comprar/pagar? Link pra alguma loja onde comprar?

Nada? Então vamos para o modo procura: Ele está nas lojas nacionais criadas para vender exclusivamente jogos produzidos aqui? A lógica aqui é válida: As lojas concentrariam a totalidade da produção nacional e com isso ficaria muito mais fácil encontrar, promover, tornar conhecido e vender os jogos.

Mas, e aqui esbarramos num grande entrave: Tais lojas também são produtos. Então, se não sabemos onde ficam ou como chegar até elas, complica, não é? E não apenas isso, porque a mecânica funcional de uma loja é parceira do comércio varejista, com ênfase em um nicho específico que precisa, entre outras coisas, de uma atenção especial na divulgação. Se a loja não se vende bem, como vai ser eficiente na venda dos jogos?

Sobrou pra Steam… Só que entrar na Steam é como ir numa mega store e o perigo ali é desviar a atenção e encontrar outras coisas de maior interesse. Principalmente quando falamos das promoções especiais com preços de tirar o chapéu. Sem contar que nessas lojas você encontra dúzias de games similares. Um é mais chamativo que o outro…

No final das contas, talvez seja verdade que brasileiro não compra jogo brasileiro. O motivo implícito não seria a suposta falta de qualidade dos mesmos e sim o fato de que, por mais que a pessoa queira comprar um, se for muito difícil encontrar na rede, a chance da "conversão" se dispersa facilmente.

Afinal, como diz o ditado popular, vontade é uma coisa que dá e passa.

Renato Degiovani é o primeiro desenvolvedor de jogos brasileiro, desde 1981. É colunista do site Drops de Jogos no espaço DEV.LOG, com textos regulares sobre sua experiência de décadas. Foi o desenvolvedor do jogo Amazônia, é conhecido na comunidade nacional do aparelho MSX, editou a revista Micro Sistemas e é responsável pelo espaço TILT Online.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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