A greve dos dubladores de jogos já dura mais de um ano, e o porquê ela parece não ter fim é bem simples: IA. Ou, mais especificamente, o fato das publicadoras de jogos se recusarem a oferecer aos atores proteções significativas com o uso indiscriminado de programas de inteligência artificial.
Em uma mensagem enviada para todos os membros do SAG-AFTRA (o maior sindicato de atores dos EUA, e que também cuida dos dubladores que trabalham em animações e jogos de videogames), eles deixam claro que o motivo de porque a greve irá continuar é uma recusa das grandes publicadoras de jogos em oferecer proteções sobre o uso da imagem e voz dos atores por ferramentas de IA.
A mensagem deixa claro que o grande ponto de discordância é sobre o uso de “réplicas digitais”, ou seja, o uso de IAs generativas para replicar a imagem e voz dos atores sem o consentimento deles.
Por que a greve contra as desenvolvedoras irá continuar?
De acordo com o comunicado, todas as propostas revisadas oferecidas pelas desenvolvedoras e publicadoras eram escritas de forma a criar “atalhos” para que essas empresas ignorassem as proteções contra a IA que supostamente eram oferecidas. Em todas as versões uma coisa se mantinha constante: as grandes empresas de games queriam ter a liberdade de treinar inteligências artificiais generativas com todo o histórico de atuações de um ator em atriz anterior à assinatura de contrato – incluindo atuações em produtos que não são daquela empresa – e então criar réplicas digitais desse artista sem oferecer qualquer tipo de compensação, e poder usar essas réplicas digitais onde quiser, sem precisar avisar o artista da existência dessa réplica e onde ela está sendo usada.
E esse tipo de uso indiscriminado pode criar diversos problemas para esses artistas. Por exemplo, um artista que é ativista da causa Palestina pode ter um clone digital seu usado para dar voz a um soldado israelense que defende o extermínio de todos os palestinos em um jogo de tiro. E, sob o contrato que está sendo oferecido hoje, esse artista não apenas não será compensado e nem irá saber sobre esse uso, mas a empresa também não precisa deixar claro que o que foi usado ali foi uma réplica digital desenvolvida por IA.
Assim, esse jogo pode apenas creditar aquele personagem ao artista, que não apenas não vai ter nenhum ganho financeiro como, do dia pra noite, vai ter todo o seu trabalho de ativismo colocado em dúvida por causa de algo que ele nem sabia da existência.
O futuro da greve dos dubladores
Enquanto a greve continua, as empresas vão se virando como podem para manter o seu calendário de lançamentos. Um dos exemplos é a miHoYo, que contratou novos dubladores não vinculados ao SAG-AFTRA para os personagens da nova expansão de Zenless Zone Zero.
Outras empresas seguem por um caminho ainda menos ético. Um exemplo é a Activision/Blizzard, que contratou novos atores para alguns dos personagens do modo zumbi de Call of Duty Black Ops 6, mas não creditou a mudança no jogo. Quem apontou isso foi Zeke Alton, dublador do personagem William Peck, que contou à Game Developer ano passado o quanto ficou surpreso ao ver que seu nome continuava nos créditos como dublador do personagem, mesmo não sendo a voz dele que estava no produto final.
Ainda que a greve dos dubladores pareça longe de acabar, a gestão da SAG-AFTRA afirma que muita coisa melhorou desde o início da greve, e que ela está otimista de que no fim irá conseguir as proteções contra IA que os atores e dubladores merecem.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.