Assédio e perseguição contra jogadoras em games coletivos afastam as meninas dos MOBAs e eSports - Drops de Jogos

Assédio e perseguição contra jogadoras em games coletivos afastam as meninas dos MOBAs e eSports

"Eu e todas as meninas que eu conheço já passaram por uma situação do tipo"; "Infelizmente não consegui voltar a jogar online ainda"; "Jogar online me deixa tão tensa e preocupada com xingamentos, que eu fico até com tendinite"; "No Face, a gama de variações de assédio é muito maior"; "É horrível". – Estas são algumas declarações das jogadoras brasileiras. Não podemos permitir que isso continue.

  • por em 29 de março de 2016
Imagem: Fotomontagem com registro histórico das Nações Unidas

Um recente artigo da revista Galileu informou que dois pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, Jesse Fox e Wai Yen Tang, desenvolveram um questionário digital para averiguar a condição de assédio das jogadoras em jogos online. A conclusão assustadora, mas não exatamente inesperada, foi que, das 293 mulheres que responderam ao questionário, todas relataram já ter sofrido assédio durante as partidas dos jogos. Sim, 100%.

Embora o fato possa ser chocante para alguns, não é novidade para quem é vítima dos gracejos inoportunos, das brincadeiras de duplo sentido e da perseguição rasa e implicante toda vez que se aventura a jogar. "Nenhum homem tem que escolher um nick neutro pra não ser xingado", comenta, com clareza, Daniela Rigon, jornalista de eSports e repórter do Drops de Jogos. "Infelizmente, é algo normal ser xingado em jogo, como afirma a matéria. Mas é necessário prestar atenção na diferença do xingamento. Nenhum homem é xingado por ser homem. Nenhum homem leva um 'vai abrir um pote de palmito' ou 'vai trocar um pneu' por estar jogando", explicou, mostrando como a situação é tensa para as meninas gamers. "Eu e todas as meninas que eu conheço já passaram por uma situação do tipo", emendou.

"Infelizmente pelo menos uma vez cada mulher passou por uma brincadeira sexista em jogos online e, com certeza, uma vez passou por alguma situação degradante e vexatória", comentou Maria Tereza Fernandes, profissional de educação na escola SuperGeeks, de Brasília. Tereza explicou que, no último curso ministrado, comentou acerca da situação por que passou no jogo League of Legends e como Tistoco, YouTuber ligado a Riot Games, interveio e puniu o grupo de garotos que a expuseram. "Adorei o posicionamento dele, mas infelizmente não consegui voltar a jogar online ainda", disse, exibindo outra faceta comum resultante da perseguição sexista nos jogos coletivos: o afastamento das jogadoras, que não se sentem confortáveis em permanecer no tóxico ambiente dominado por garotos misóginos.

Situação semelhante viveu Samantha Thiesen Bittencourt, profissional da área de restauro artístico e YouTuber do canal Sam's Videogames Wonderland. "Eu deixei de jogar online pelos motivos tratados no artigo", afirmou Samantha, em rápida conversa via rede. "Jogar online me deixa tão tensa e preocupada com xingamentos, que eu fico até com tendinite", ressaltou. "Logo, não se torna algo saudável". A vlogger explicou que já recebeu diagnóstico de depressão e síndrome do pânico e disse invejar quem tem estômago para jogar online, aceitando o comportamento reprovável vigente, especialmente contra as mulheres. "Os homens não recebem xingamentos e não precisam justificar nada", afirmou.

"Ser mulher no meio gamer é pavoroso", externou Bell Albuquerque, jogadora assídua de League of Legends. "Muitas meninas preferem usar nomes e Nick que ocultem seu gênero, pois não só o assédio é gigante, como também o machismo", esclareceu, em conversa telefônica com o Drops de Jogos. "É comum, com um Nick feminino, começar um jogo lendo coisas como 'mostra os peitos',  'manda nudes'… Basta um erro para isso passar para frases como 'tinha que ser mulher' e 'sua puta'", elucidou, sem meias palavras, avaliando que a comunidade em eventos e grupos de gamers nas redes sociais é igualmente impiedosa. "Você não tem o direito de não aceitar uma brincadeira e não gostar de um comentário", observou. "É horrível".

"Existem varios tipos e niveis de assédio", identificou Gisele Henriques, jornalista at TV Tocantina, em Cametá, no Pará, e apresentadora do podcast GameBlast. "Desde a cantada simples, a provocaçao ou a perseguição real, aquela que rouba ou descobre dados pessoais da vítima e usa para chantagem", observou, informando que, como outras jogadoras, também já foi alvo de xingamentos e cantadas. "Mas foi coisa de baixo potencial ofensivo, e em alguns casos, revidei com xingamento ou bloqueando", informou. "Mas o mesmo não posso dizer do Facebook", ressaltou. "No Face, a gama de variações de assédio é muito maior. Algumas vindo de pessoas ligadas ao meio gamer… Mas, no geral, sempre me senti respeitada", finalizou, sem deixar de indicar a importância de cuidar atentamente da vida digital: "A rede deixa rastros e cabe à vitima usar isso a seu favor, registrando as ações do assediador e sabendo proteger seus dados".

O mais importante, talvez, seja não permitir estas ocorrências nefastas. Atitudes dignas como o caso aqui relatado contra os jogadores tóxicos de LoL devem se tornar exemplos frequentes e o papel dos mediadores e jogadores é fundamental, para impedir os abusos tão frequentes contra o sexo feminino nos games. O Drops de Jogos encampa essa batalha.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Cultura
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