É uma excelente notícia! Então, primeiramente, pra todos e também para TODAS as interessadas, aqui está um resumo do que vocês precisam saber: “Além de confirmar a já tradicional competição de CS:GO, pela primeira vez a BGC anuncia torneio exclusivo para mulheres; inscrições começam em 03 de julho e finais presenciais dos torneios masculino e feminino acontecem na BGS, respectivamente, nos dias 13 e 14 de outubro”.
E para quem quiser se inscrever na competição, as inscrições para ambas as modalidades poderão ser feitas a partir de 3 de julho pelo site oficial da BGC (www.www.brasilgamecup.com.br) – onde constam detalhes, regras e outras informações adicionais relevantes sobre o torneio.
Mulheres e jogadoras profissionais finalmente estão nos holofotes
É extremamente positivo que as mulheres e meninas estejam conquistando o espaço merecido – e que lhes é de direito – dentro do mundo dos games, afinal, as mulheres já representam mais de 50% das pessoas que jogam segundo a BBC.
A questão é que, eu, como mulher apaixonada por jogos desde criança, me senti levemente incomodada com a ideia de existirem dois torneios separados: um feminino e outro masculino. Meu primeiro pensamento é que os times deveriam ser mistos porque não existem exigências físicas para jogar, porém logo percebi que esse assunto é mais complexo do que parece à primeira vista.
Conversando com várias meninas e também com alguns meninos, acredito que consegui ter um panorama mais amplo de todo o significado dessa divisão.
Segregação e representatividade
Faz sentido existir essa divisão de gênero em campeonatos desse tipo?
A iniciativa é de boa intenção e ajuda a criar um incentivo que não costumava existir. O campeonato feminino prova que as mulheres tem talento e capacidade, e mais do que isso, é fundamental a representatividade desse público enquanto serious gamers. Quando eu era criança, “vídeo game era coisa de menino” e eu não tinha acesso (porque, existir elas sempre existiram) à mulheres nas quais eu pudesse me inspirar e nas quais eu pudesse me espelhar.
No entanto, a grande maioria das pessoas com quem eu conversei considera esse assunto uma escala de cinza, de forma que elas enxergam o lado bom e também o lado problemático dessa situação.
As mulheres são constantemente assediadas em jogos online e muitas vezes não se sentem seguras pela quantidade absurda de ameaças e ataques que recebem de homens pelo simples fato de serem mulheres. Muitas jogadoras preferem usar um nome de usuário masculino, não ligar o microfone e por vezes, não jogar online, a fim de evitar esse estresse e desrespeito que não sofreriam se fossem homens.
Criar o espaço para a mulher em um meio irrefutavelmente tão machista é ótimo, desde que signifique um primeiro passo em direção ao objetivo final de torneios mistos e oportunidades iguais. O cenário ideal precisa ser aquele em que não existe segregação.
A diversidade é importante e benéfica para todas as pessoas
Pensar sobre esse assunto me lembrou dessa notícia do ano passado publicada pelo UOL. Os homens tem dificuldades em aceitar a inclusão da mulher em meios que eles acreditam ser “de homens e para homens.” Por isso, a diversidade se faz tão necessária.
Além disso, esportes e competições são apoiados por patrocinadores, que fazem propostas baseadas em várias questões, inclusive o tamanho do público do evento. Enquanto o público desses campeonatos for majoritariamente masculino e preferir assistir os jogadores homens, a competição feminina corre o risco de ser marginalizada, independentemente de sua qualidade.
É só pensar no futebol masculino e feminino no Brasil e notar todas as disparidades entre salários, atenção da mídia, patrocínios diretos e público. Esta lógica não tem relação direta e proporcional ao desempenho ou qualidade do time.
De grão em grão a galinha enche o papo
Todo esse processo de inserção dos grupos menos privilegiados é longo e o mais importante é não estagnar no primeiro passo acreditando que a batalha inteira foi vencida. A BGS está andando na direção certa e isso deve ser valorizado e celebrado como uma parte importante da conquista – que é longa, mas já dá indícios de que terá muito sucesso.
Então, que tal fazermos a nossa parte apoiando essas meninas para transformar esse ambiente e deixa-lo mais agradável e rico para todos nós?
Basta ter respeito. É um começo.
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Mayara Fortin é arquiteta por formação, viajou e viveu pelo mundo, do Leste Europeu aos Estados Unidos. Atualmente trabalha como Relações Públicas do Void Studios, de São Paulo, e é uma fã vidrada em games independentes. Sua paixão pelos indies é tanta que um dia ela pretende conseguir fazer reviews de tudo o que já jogou. Foi a correspondente do Drops de Jogos em Los Angeles, durante a E3 2016 e 2017.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.