O chamariz do VR é, sem dúvida, a experiência imersiva que essa tecnologia permite. Quando o/a jogador/a coloca o óculos e o fone de ouvido ele/a é obrigado/a a se movimentar, virar a cabeça para olhar e explorar o ambiente ou seguir algum som que tenha vindo de suas costas, levantar o braço para se defender ou apontar para onde quiser atirar, realmente se transformando na personagem do jogo.
Os sustos são mais reais e as emoções, mais intensas. A realidade virtual já chegou nos jogos dos mais diversos gêneros, de exploração à jogos de corrida, e foi além, chegando até em outras áreas, como na arquitetura. Talvez por isso alguém tenha pensado: Que tal levar essa tecnologia para o pornô?
Não achei que fosse ver algo assim durante a E3, que eu acreditava ser uma feira direcionada total e completamente ao mundo dos games, mesmo que ela tenha de fato começado como uma feira de entretenimento. Porém, lá no canto menos movimentado do South Hall, em uma área escondida, meio longe de tudo, estava o pequeno estande da Naughty America. E três filas bem cheias de pessoas (em sua maioria homens asiáticos) querendo testar o produto.
Achei incômodo em pleno 2016 ainda ver toda a propaganda dessa experiência direcionada ao público masculino. Leia-se apenas imagens de mulheres seminuas com óculos de VR decorando o tal estande. Nem sequer uma única foto de um ator do sexo masculino.
Mesmo assim, verdade seja dita, também havia um pequeno número de mulheres na fila de teste.
Observar aquelas pessoas me deixou curiosa e me fez pensar muito sobre o que tudo isso poderia significar. Conversar com as pessoas na fila e com as que estavam experimentando o produto pareceu uma boa ideia, apesar de ser algo bem estranho conversar com alguém enquanto ela assiste um pornô. E faz isso em público com outras 25 pessoas atrás dela, ansiosas e curiosas para fazer o mesmo.
(Pausa para que vocês imaginem essa cena.)
Pois bem, entre tantos comentários positivos de pessoas que acharam a experiência diferente e legal, a opinião de um homem em específico me deixou pensando nesse assunto por algumas horas e gerou uma série de discussões construtivas e problematizadoras dentro do grupo que estava comigo na feira.
Como funciona o VR Pornô
Você coloca os óculos e o fone de ouvido. A cena começa a acontecer e você não é uma terceira pessoa no ambiente assistindo aquilo, mas sim uma das pessoas envolvidas no ato. No entanto, por não ser um jogo, não há interação direta com a cena ou controle de personagem.
O VR te permite assistir o que está acontecendo através dos olhos dos envolvidos. E, pelo menos na demo que estava ali, a câmera mudava de perspectiva, passando pela visão de ambas as pessoas no filme.
No caso, o homem em questão estava assistindo sexo heterossexual entre duas pessoas e ficou um tanto chocado e surpreso quando começou a assistir tudo aquilo pela visão da mulher.
A questão da perspectiva
Depois de algum tempo estranhando a perspectiva diferente, ele fez o comentário que desencadeou todas as nossas discussões: “Eu nunca tinha pensado que minha namorada vê a coisa toda por outra perspectiva. Eu não sei como ela consegue me ver assim em cima dela. Isso me faz respeitá-la muito mais pelo que ela faz por mim”.
Minha primeira reação foi extremamente negativa. Afinal, como uma pessoa pode ser tão egocêntrica a ponto de precisar de uma ferramenta para se dar conta de que existem perspectivas diferentes em uma atividade comum entre duas pessoas? Jura mesmo que um homem achava que só a visão dele existia na hora do sexo? E como assim alguém precisa experimentar, literalmente, a visão de outro ser humano para poder respeitar as diferenças?
Bom, quando me fiz essa última pergunta eu percebi que realmente não é tão difícil imaginar a dificuldade das pessoas em ter consideração com o próximo em muitas situações cotidianas. Não há como isso não ser refletido no sexo.
A problematização e o uso dessa ferramenta
Escolhi ver o copo meio cheio, apesar de sentir muito pesar em como a namorada desse homem era vista por ele até então. Ao que parece, essa experiência ensinou algo positivo para ele, me fazendo questionar o possível caráter educativo do uso dessa tecnologia, seja enquanto pornô ou enquanto experiência social.
Poder colocar alguém no lugar de outra pessoa de maneira tão realista pode ter um impacto extremamente positivo e didático, se for explorado de maneira correta, ajudando a desenvolver a empatia nas pessoas. Eu, que até então não havia ficado muito impressionada com nada relacionado à realidade virtual, fiquei muito mais otimista em relação ao futuro dessa indústria.
Ainda estou imaginando o quão maravilhoso será ver a VR ultrapassar as barreiras do entretenimento e do lazer para abordar temas sérios, ajudando a criar um mundo com mais respeito. E os games podem ser um caminho para isso.
A correspondente internacional viajou a convite das empresas: Void Studios, Aquiris Game Studio, TDZ Games e Flux Game Studio.
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Mayara Fortin é arquiteta por formação, viajou e viveu pelo mundo, do Leste Europeu aos Estados Unidos. Atualmente trabalha como Relações Públicas do Void Studios, de São Paulo, e do Astro Crow, da Flórida, e é uma fã vidrada em games independentes. Sua paixão pelos indies é tanta que um dia ela pretende conseguir fazer reviews de tudo o que já jogou. Foi a correspondente do Drops de Jogos em Los Angeles, durante a E3 2016.
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