David Crane, um dos desenvolvedores de games mais famosos da era de ouro do Atari 2600, e criador de nada menos que Pitfall, Kaboom! e Grand Prix, entre outros sucessos, esteve no Brasil em outubro passado, para participara da BGS, a maior feira de games do país.
O 'pai' de Harry Pitfall falou com inúmeros veículos de comunicação acerca de seus jogos e outros temas. O Drops de Jogos conseguiu uma brecha na apertada agenda do profissional e quis saber sobre as dificuldades para criar os primeiros games para o icônico console da Atari. Súbito, cravamos uma pergunta inusitada, comentando sobre a opinião de políticos brasileiros, muitos dos quais, normalmente avessos à cultura dos jogos digitais.
"Nós certamente vemos os games como uma forma de arte", explicou o decano criador de jogos, na entrevista. "Lamento que vocês tenham políticos que não concordem com isso", ressaltou, por fim.
A conversa foi curta, mas proveitosa. Em off, Mr. Crane comentou que é raro repórteres utilizarem entrevistas antigas como fonte para as perguntas e resgatarem as dificuldades de programação e criação para o velho e saudoso 2600.
Abaixo, transcrevemos o bate papo, que está disponível também em vídeo no rodapé do texto.
O DJ agradece aos amigos do UCEG, que viabilizaram nossa participação nas entrevistas (e fizeram o papel de cameraman!).
Drops de Jogos – Senhor Crane, o senhor afirmou em uma entrevista que teve a ideia para criar o game Pitfall em apenas dez minutos, mas que precisou de aproximadamente mil horas para programar o jogo. Era muito difícil programar àquela época ou o senhor passou o tempo todo tentando tornar o jogo melhor?
David Crane – Na verdade era difícil programar. Às vezes, você gastava um mês somente para criar a primeira imagem na tela. Depois disso, sempre sentíamos que era necessário gastar um tempo tão grande quanto o que utilizávamos trabalhando no projeto inteiro, para torná-lo o melhor possível. Era, portanto, ambos os casos. Eu gastei um bocado de tempo superando as complicações do hardware do Atari e então gastei outro bocado de tempo ajustando o game para deixá-lo melhor.
Drops de Jogos – Em outra entrevista, o senhor disse que, com 2k e 4k de espaço disponível para projetar os jogos, era necessário tentar inventar o tempo todo novos truques para aperfeiçoar o jogo. O senhor acha que, com as máquinas atuais, os desenvolvedores continuam tentando programar novos truques?
David Crane – Não acredito que os desenvolvedores de hoje gastem muito tempo com truques para driblar o hardware, porque a máquina faz todo o trabalho. Mas é importante despender a mesma quantidade de tempo ajustando o jogo, para tornar o jogo realmente bom. Isso é que é importante.
Drops de Jogos – Temos no Brasil um bom número de políticos que pensam que os games não são uma espécie de Arte ou Cultura. O que o senhor pode dizer sobre isso para eles?
David Crane – Bem… O Museu americano Smithsonian realizou recentemente uma exibição denominada The Art of Videogames. De modo que, nós certamente vemos os games como uma forma de arte. Eu lamento se vocês têm políticos que não concordam com isso.
Drops de Jogos – Nós lamentamos! Obrigado, senhor Crane.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.