Hoje o professor, jornalista e tradutor Fábio Fernandes lançou em São Paulo seu novo livro de ficção, “Love Will Tear Us Apart”. Você pode comprar o livro na livraria Ponta de Lança, neste link. Recuperamos, também hoje, uma entrevista que fiz com ele publicada em 14 de agosto de 2013 no site TechTudo, da Globo. Confira a reprodução abaixo.
Fábio Fernandes (47) é escritor e professor de roteiro e worldbuilding (construção de mundos de ficção) no curso de Jogos Digitais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em julho deste ano ele teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o famoso roteirista de quadrinhos Neil Gaiman em uma oficina literária em Seattle, nos Estados Unidos. Fábio conversou com o TechTudo, para a coluna Geração Gamer, e falou sobre seu trabalho e sobre o encontro com Gaiman.
Sobre Fábio Fernandes
Fábio tem uma experiência sólida como escritor, sendo autor do livro “Os Dias da Peste”, da Tarja Editorial, que é uma ficção científica cyberpunk ambientada no Rio de Janeiro. Fernandes também traduziu livros famosos, como “Neuromancer” e “Laranja Mecânica”, ambos lançados e relançados pela editora Aleph.
O escritor tornou-se professor de roteiro pelo interesse por lecionar escrita criativa. “Foi uma feliz coincidência, digamos assim. Já lecionava há alguns anos, mas eram diversas disciplinas não-relacionadas, como História da Arte do Design. Quando o curso de Jogos Digitais foi pensado, eu fui convidado para ajudar na criação”. O professor conseguiu dar o tom que quis no curso através de muita pesquisa de mercado, na academia e com ajuda dos colegas de trabalho na PUC-SP. “As disciplinas de roteiro e de narratividade já haviam sido criadas por outros professores, mas me foram oferecidas e eu tive a liberdade de alterar os planos de ensino para focar ainda mais na questão da escrita ligada aos games”.
Criando bons roteiros para jogos digitais
Fábio Fernandes explica que um bom roteiro é aquele que parte de uma premissa, ou seja, uma ideia sólida. “Por exemplo: O que aconteceria com os humanos no caso de um contato com extraterrestres? Com essa ideia fantástica, podemos desenvolver possibilidades de uma ou mais histórias. Cada possibilidade gera uma timeline, uma linha de causalidade onde coisas acontecem efetivamente”.
A outra disciplina que Fábio Fernandes leciona, worldbuilding, foi criada entre 2005 e 2006, e ele acredita que foi um dos primeiros no Brasil a lecionar sobre construção de mundos em fantasia. “Em worldbuilding, o aluno começa a entender que existe um universo que cerca os personagens do seu conto e aprende maneiras de desenvolvê-lo”, explica Fábio. Este entendimento do mundo que cerca a história é outro pilar fundamental na construção de uma narração sólida e coerente.
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O encontro com Neil Gaiman
Fábio relembra a formação de Neil Gaiman na imprensa, até decidir se aventurar pela literatura e histórias em quadrinhos. “Gaiman começou como jornalista, escrevendo uma biografia da banda de rock Duran Duran. Um dia, numa convenção de quadrinhos, encontrou Alan Moore e teve a cara de pau de pedir a ele que o ensinasse como escrever HQs. Moore ensinou, ali, na hora, no papel. Gaiman aproveitou a lição, se dedicou, e algum tempo depois nasceu The Sandman”, disse Fábio Fernandes, sobre a relação de Gaiman com Moore, o criador da HQ que consagrou o vilão Coringa, de Batman, chamada “A Piada Mortal”.
Sobre a oficina literária nos Estados Unidos, Fábio comenta: “É importante ressaltar que Gaiman foi apenas um de seis incríveis escritores e editores que ensinaram a 18 escritores iniciantes no mercado anglo-americano como escrever melhor e publicar seu trabalho nesse mercado”. Porém, além de ter aulas com Neil Gaiman, o professor da PUC teve a oportunidade de passar 30 minutos a sós com o roteirista que inspirou uma geração de fãs de quadrinhos adultos da Vertigo, selo da DC Comics, mesma criadora de Superman e Batman.
“Neil Gaiman foi extremamente generoso e me perguntou o que eu desejava aprender, além de apontar em um de meus contos as qualidades e defeitos, e o que eu poderia fazer para me tornar um escritor melhor. Isso é muito melhor do que uma foto ou um autógrafo”, disse o brasileiro. E ele completou, sobre o encontro: “Uma das maiores lições que ficaram de Gaiman para mim é que, com dedicação e concentração, você pode escrever o que quiser”.
O professor da PUC afirmou também ter certeza de que o criador de Sandman terá sucesso com seu game na indústria de jogos. “Não tenho dúvidas de que ele poderá contribuir com excelentes narrativas não-lineares, trabalhando mitos e lendas nos jogos, que são seus temas preferidos”. Neil Gaiman, escritor de quadrinhos como “Sandman” e “Coraline”, além do livro “Deuses Americanos”, anunciou em julho deste ano a produção de um game para PC, Mac e tablets chamado “Wayward Manor”, unindo o sobrenatural com o humor.
Sobre os estudantes de jogos no Brasil
“Quando ex-alunos aparecem para falar de seus trabalhos em empresas, tanto como contratados como sócios, percebo que há um grande interesse em estar sempre na vanguarda do que está sendo feito aqui, uma necessidade saudável de acompanhar bem de perto a evolução da indústria. Isso é fundamental para o crescimento tanto do desenvolvedor quanto de sua empresa e da indústria brasileira”, diz Fábio, sobre seus próprios alunos.
Fábio Fernandes também ressalta que os professores de games precisam sempre estar se renovando para acompanhar as mudanças da carreira de desenvolvedor de jogos. “Joguei constantemente nos fliperamas desde os 15 anos até perto dos 30. Depois, só fiquei nos PCs. Hoje, os games têm para mim mais importância do que na minha adolescência, mas na proporção inversa: dou aulas de narrativa, construção de mundos e, infelizmente, isso não permite muito tempo para jogar. Pelo menos não meus jogos preferidos atualmente, como God of War, Mass Effect, Arkham City e uns clássicos dos anos 90″, conclui Fábio.
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