Por Kao Tokio, editor de conteúdo do Drops de Jogos
Nesta sexta, dia 11 de dezembro, acompanhamos estarrecidos a demissão de jornalistas e apresentadores do programa Metagaming no recém-inaugurado canal de TV Loading.
O motivo, embora poucos detalhes tenham vazado, foi o “desalinhamento editorial” entre as intenções da direção do canal e o trabalho jornalístico pretendido pelos profissionais contratados para esse fim.
Fontes anônimas teriam informado que a direção “não gostaria que o programa abordasse temas polêmicos, como machismo”, acusando os jornalistas de produzirem conteúdo ao estilo “Cidade Alerta”.
Uma reportagem do site NaTelinha afirma que uma das matérias do Metagaming criticava uma desenvolvedora de jogos parceira do canal e a cúpula da emissora teria dito que a atração não tinha autorização para criticar parceiros.
Por fim, um comunicado oficial frisou que “o core da Loading é o entretenimento e a agenda positiva”, e aí parece residir o problema, embora a emissora não tenha admitido a censura de pautas.
Com apenas quatro dias de existência, os responsáveis pelo Loading parecem ter deixado claro sua posição: mais mercado, menos conteúdo crítico. Temas controversos ou que firam relações comerciais não são bem vindos.
O que vale é o entretenimento fugaz.
Quando o jornalismo deixa de ser um valor dentro de um veículo e comunicação, o meio opta por abrir mão da qualidade de informação, relativiza conteúdo em favor de uma fórmula que não propõe a reflexão e tende a cair no vazio escapista dos programas de auditório, que animam os domingos na TV sem acrescentar pensamento crítico às produções e à audiência.
Fosse essa a meta do canal, a direção poderia ter poupado o desgaste com o episódio, evitando a contratação de um talentoso time de profissionais tarimbados no jornalismo de games. Poderiam ter buscado personalidades do entretenimento artístico nas tardes da tv aberta, que rendem audiência com futricas e pegadinhas.
Ter (e defender) posicionamento crítico é fundamental. Nesta redação, com frequência não concordamos com opinião entre os editores, mas defendemos a importância de abrir espaço à pluralidade de pensamento, ao debate e à opinião em contrário (como eu dizia esta semana a um desenvolvedor).
A direção do Loading errou ao não definir com clareza o que esperava do programa e do seu time de profissionais. Errou ao optar por privilegiar parceiros comerciais e ao impedir o trabalho jornalístico a temas sensíveis, necessários e atuais, a exemplo do machismo nos eSports, tolhendo a produção de gente escolhida a dedo para fazer brilhar sua vitrine.
Ao justificar sua posição com o argumento raso de busca por uma ‘agenda positiva’, o canal repete o pior da cultura opressora do país, como o ‘Ame-o ou Deixe-o’ ou, mais recentemente, a opinião de um general, reclamando que “é muita notícia ruim, eu sei que está acontecendo, vamos também divulgar notícias boas”.
Toda solidariedade aos profissionais que se indispuseram ao sufocamento de sua liberdade de comunicação e saíram de cabeça erguida, revitalizando o expediente das receitas de bolo, que substituíam reportagens censuradas no jornalismo tradicional à época da ditadura.
Que a cúpula do canal saiba refletir sobre o vexatório episódio que protagonizou e aprenda com seus erros e opções comerciais.
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