Para as desenvolvedoras presentes na SPJam, machismo ainda é forte no meio, mas tende a melhorar - Drops de Jogos

Para as desenvolvedoras presentes na SPJam, machismo ainda é forte no meio, mas tende a melhorar

"Por favor [machistas], mudem de ideia, as mulheres são legais. Dêem um upgrade em suas vidas", diz a indie Aline.

  • por em 18 de setembro de 2016

É consenso: por mais que as relações profissionais entre gêneros venha melhorando, ainda existe muito machismo, preconceito e perseguição contra as mulheres no mundo dos games e no desenvolvimento de jogos digitais. No jogo online e na área de programação, essa sensação é ainda mais contundente. 

Essa é a conclusão das jovens ouvidas pelo Drops de Jogos na madrugada de sábado, durante a realização da SPJam, maratona de criação de jogos que aconteceu até às 18h desse domingo, dia 18 de setembro.

"O meio gamer ainda é bastante machista, principalmente na hora de jogar", comentou Aline Costa Viana, que integrava um dos times de produtores de game no evento. "Eles sempre te tratam como se você fosse a frágil do grupo, como se você precisasse que alguém ficasse te carregando toda hora, ou fosse interesseira, mas nunca é como um igual".

Camila Fiorentini, também ilustradora, competindo em outra equipe da jam, faz coro com Aline e afirma que já sofreu assédio nos jogos online. "Principamente no jogo de tiro. Só de você falar no microfone, já começam a aparecer um monte de caras enviando o contato. Eu só falo digitando, porque senão você perde o foco. É todo mundo querendo te adicionar, perguntando o seu nome, você não consegue mais jogar", concluiu.

"Ser bonita pode atrapalhar, porque algumas pessoas só verão a beleza e não o que a mulher pode produzir", disse a artista visual Maria Julia Benguel de Paula, que não tem dúvidas do machismo presente no meio gamer. "Isso pode gerar situações de assédio, na qual olham para a muher como se ela fosse um objeto. Comigo nunca aconteceu, mas uma amiga minha já recebeu umas cantadas bem 'punks' em jams", rememora. 

No campo do desenvolvimento, embora pareça menos tóxica, a relação entre rapazes e meninas também deixa r desejar em muitos momentos. "De repente, você está trabalhando, alguém vem e faz uma gracinha, só porquê você é mulher. Não que tenha acontecido comigo, mas acontece bastante", observou a artista digital Amanda Rigitano. "É um meio no qual os homens tendem a participar mais e a gente passa por várias situações de machismo, mas as coisas têm mudado", indicou.

"Eu estou na área de games desde 2008 e vejo que, na hora de produzir, o pessoal anda mudando bastante a mentalidade. De lá para cá eu já começo a enxergar as mulheres [sendo tratadas] como igual", ponderou Aline. "Geralmente, eles deixam a mulher para ficar olhando os detalhes, porque dizem que a mulher é muito detalhista, fica prestando atenção no que tá bom ou não, fica atenta às roupinhas dos personagens…", continuou, ressaltando, no entanto, que no seu caso, é designer por opção e não por imposição dos homens.

Ainda assim, quando o assunto é programação e TI, a resistência dos homens ao trabalho das mulheres tende a ser muito maior. "O ambiente de games no 'modo jogador' é sim, muito machista, com certeza", afirmou Ana Luisa Bastos, programadora em outro grupo de desenvolvimento na maratona de games. "No 'modo desenvolvedor', é um pouco complicado, [pois] a mulher ainda não tem muita representação", argumenta. "Na área de TI em geral, seja no desenvolvimento de jogos ou de programas, há muito machismo", sentencia. "Os caras não botam fé nas mulheres".

"Tem um pessoal que acha que mulher não serve para ser programadora. Por isso eles deixam a mulher para o lado do fashion e do design", sugeriu Aline, atestando que dificilmente se encontram mulheres programadoras, embora haja escassez de mão de obra. "Mas elas existem, e são boas!", conclui.

Embora concordem em parte com as opiniões apresentadas, as participantes da jam Giovana Canale e Naiara Brito, que se conheceram no evento e trabalavam em produções diferentes, são mais moderadas nas críticas. "Eu não acho que seja machista, é um mercado que tem poucas mulheres, ainda, mas que vem trazendo essa interação com o público feminino e essa diversidade na narrativa, tanto em personagens femininas, quanto nesta aproximação, que traz às mulheres a vontade de jogar", expressa Giovana. 

"Até há machismo, mas acho que ainda é uma coisa meio inconsciente", complementa Naiara. "As mulheres estão começando a ter o seu espaço agora. Se for comparar o número de mulheres na própria Spjam de alguns anos para cá, essa presença vem crescendo bastante. Á medida em que você vai tendo uma maior presença de mulheres, esse machismo vai acabando", considera.

"A menina está em um evento de desenvolvimento e aí vem um cara fazer uma gracinha, uma piada… Querendo ou não, isso ainda existe", explicou Giovana, que participa de jams desde 2013. "Mas a gente tem que mostrar para a mulher que ela pode vir, que ela pode fazer jogo e que, mesmo se coisas assim acontecerem, cabe a ela dar um limite e falar 'Cara, não!'", sustenta.

"É muito importante reprimir o machismo, e também [aumentar] a representatividade feminina, propõe a programadora Ana Luisa. "Se houver mais mulheres nesse ambiente de desenvolvimento, você vai se sentir mais confortável", enfatiza, certa que, nos dias de hoje, ser machista hoje expõe o homem, que pode acabar se prejudicando [profissionalmente] com isso. "Os machistas precisam se atualizar. Eu vejo campo para crescer como programadora na área de games, porque é um setor que está crescendo. Hoje em dia já se vêem muito mais mulheres nessa área", calcula.

"A gente vai conquistando o nosso espaço à medida em que vamos convivendo bem com os homens", comenta Amanda. "A gente vai ganhando o respeito", destaca. "A partir do momento em que a presença de mulheres passa a ser maior no evento, os caras começam a perceber que elas estão envolvidas no meio e não são apenas um rostinho bonitinho ali, enfeitando o evento", concorda Giovana.

Para Ana Luisa, é muito importante reprimir o machismo, e também [aumentar] a representatividade, se houver mais mulheres nesse ambiente de desenvolvimento, você vai se sentir mais confortável", diz, categórica. "Não só a atitude dos homens teria que mudar, mas também das mulheres, porque elas reclamam, mas não se fazem entender", profere Aline, assertiva. "Às vezes, as reclamações ficam só entre as mulheres. Elas deveriam ter um pouquinho mais de atitude", analisa.

Maria Julia acredita que iniciativas como as denúncias de personalidades conhecidas como Brianna Wu e Anita Sarkeesian auxiliam na mudança de pensamento, porque forçam a uma reflexão sobre o tema. "Acho que, tudo somado, estas ações podem ajudar a melhorar o ambiente para as desenvolvedoras", finaliza.

A dica de Aline, por fim, resume o pensamento ideal para fechar este artigo: "Mudem de ideia [machistas], as mulheres são legais. Dê um upgrade na vida!"

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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