Publicado originalmente no site da Betway Insider
Exploramos diferentes pontos de vista sobre o assunto para que você possa tirar suas conclusões
Videogame: de acordo com o dicionário Michaelis, “jogo em que imagens e sons aparecem numa tela de televisão ou de computador desafiando o usuário a manipulá-las eletronicamente, a tomar decisões rápidas e/ou a responder a perguntas e desafios exibidos na tela”. À parte da etimologia inglesa, uma palavra que virou sinônimo em boa parte do mundo não só de entretenimento ao longo dos últimos anos, mas de um mercado forte, promissor e, cada vez mais, um ecossistema de profissões do futuro. Esqueça a ideia de “joguinho”, passatempo ou mera fuga da rotina. Estamos falando de um divisor de águas do mercado.
O estereótipo de que passar horas com um controle ou com o mouse e o teclado nas mãos está limitado ao cerco do hobby ainda existe, é verdade, mas é quebrado dia após dia. Dos celulares mais simples aos computadores de última geração, jovens veem nos games uma chance de mudar de vida e de transformar em profissão aquilo de que mais gostam. Miram em exemplos que se transformaram em ídolos desta forma. Quebrando barreiras e provando que a emoção do esporte também pode ser desfrutada diante de uma tela.
Uma questão, porém, ainda rodeia muitos pensamentos: qual o real limite entre o que é saudável e nocivo para a saúde mental de quem joga, por horas e horas a fio? Há um limite? Quando é possível diagnosticar que ele foi ultrapassado? Pensando nisso, nosso time de apostas em eSports, preparou uma longa reportagem para explorar os pontos de vista da geração que vê nos games diversas possibilidades e que, cada vez mais, tenta provar que o esporte eletrônico é, sim, esporte – com preparação, concentração e todos os cuidados necessários e inerentes a qualquer modalidade.
O papel da ciência
De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), “para que o transtorno dos jogos eletrônicos seja diagnosticado, o padrão de comportamento deve ser de gravidade suficiente para resultar em um comprometimento significativo nas áreas de funcionamento pessoal, familiar, social, educacional, profissional ou outras áreas importantes de funcionamento, e deve ser observado regularmente por pelo menos 12 meses”.
As observações acrescentam que “o transtorno dos jogos eletrônicos afeta apenas uma pequena proporção de jogadores de jogos eletrônicos. No entanto, as pessoas que praticam essa atividade devem estar atentas à quantidade de tempo que gastam fazendo isso”. Simplificando para uma velha máxima que ouvimos há muito tempo: tudo em excesso é ruim. É necessário ter responsabilidade e administrar o próprio tempo de maneira consciente.
Sono regrado, alimentação balanceada, preparo físico, foco, concentração… Todos estes são elementos fundamentais para qualquer ser humano que busque um bom desempenho profissional, independentemente da sua área. Não é diferente com quem gosta de jogos eletrônicos, sejam eles profissão ou não.
O que dizem os especialistas
“Os games podem melhorar uma série de funções cerebrais. Muitos acabam precisando de orientação espacial – nos jogos nos quais você precisa desvendar mapas, por exemplo, seguir uma bússola. Há também a questão da memória. O aprendizado poderia ser melhorado através dos games. Eu vejo muitas crianças que começam a jogar e a aprendem de maneira mais fácil outra língua. São vários os benefícios nesse sentido. Há jogos específicos para quem tem TDH (Transtorno de Déficit de Atenção e Habilidade), que ajudam com foco e concentração. Há muitos benefícios” – afirmou a psiquiatra Marina Toscano de Oliveira.
“Jogar é excelente para fortalecer vínculos de amizade, assim como ter um local seguro para encontrar seus amigos e ter uma atividade em comum. É muito utilizado como forma de aliviar o estresse e atividade de lazer que auxiliam na qualidade de vida. Há diversas pesquisas em como os jogos e videogames são benéficos para a promoção de saúde, seja no combate à obesidade, em jogos que exigem movimentação, até a utilização no tratamento de câncer, sendo usados como forma de desenvolver o paciente física e mentalmente no período de quimioterapia. É importante nos ater aos games como uma ferramenta que pode potencializar grandes benefícios” – pontuou o psicólogo Claudio Godoi, que trabalha na Team Liquid, uma das maiores organizações de eSports do mundo, e que conta com forte atividade no Brasil.
Cada vez mais, as equipes envolvidas nas grandes competições veem nas figuras de saúde, como o psicólogo, o nutricionista e o fisioterapeuta, elementos tão fundamentais quanto os jogadores ou os membros da comissão técnica. Claudio Godoi, psicólogo da Team Liquid, organização holandesa que atua em esportes eletrônicos no mundo inteiro, trabalha na área desde 2015. Teve longa passagem pela INTZ, a maior campeã da história do CBLOL, antes de chegar à atual casa. Sabe que o cenário competitivo dos games tem diversas peculiaridades que merecem ser observadas com atenção especial no dia a dia.
Na entrevista abaixo, o psicólogo alerta sobre os tipos de doenças que o exagero nos games pode trazer e também, como encontrar um equilíbrio saudável não só dos pro players, mas também de quem tem o hábito de jogar por lazer e diversão.
Teoria x Realidade
Gabriel Hespanhol, conhecido pelo nick de “cameram4n”, é um dos principais jogadores brasileiros de Rainbow Six Siege, um jogo do estilo FPS (tiro em primeira pessoa) extremamente tático e estratégico. Disputa campeonatos nacionais e mundiais do game desde quando o título foi lançado pela Ubisoft em 2015. Viu de dentro como um jogo é capaz de transformar vidas e trazer bons aspectos à tona, se utilizado da forma correta. Amadureceu dessa forma.
“O Rainbow Six foi a maior escola da minha vida. Eu aprendi a lidar com muitas pessoas diferentes, de lugares diferentes, com mentalidades diferentes. Tem que adequar tudo na mesma sintonia. Você tem que saber lidar com as situações e tentar ignorar, e até ajudar o parceiro para que todo mundo tenha o mesmo foco, o mesmo objetivo, que é ganhar os torneios (…) Você cria uma certa maturidade de saber a responsabilidade que você tem para conseguir resultados e acaba tendo um foco, uma diretriz” – disse.
Se no caso dos jogadores a rotina se atém a treinos, jogos, campeonatos e um calendário de revisões de vídeos e táticas, para os criadores de conteúdo, a vastidão de possibilidades a serem desenvolvidas é maior ainda. Com as transmissões em plataformas como a Twitch, o YouTube e o Facebook funcionando cada vez mais como fonte de entretenimento em geral para o público, trabalhar com um ramo do qual é sedutor, mas igualmente desafiador… Afinal, quantas horas são uma boa medida para ficar diante da tela, conversando, interagindo e jogando?
José de Araújo Cavalcante Neto, mais conhecido como Netenho, é um dos maiores streamers do país. Sua página no Facebook ultrapassa os 820 mil inscritos. O canal no YouTube, 924 mil. Diariamente, milhares de pessoas têm nele um canal próprio de televisão. É assistido por fãs de diversas idades. Passa uma média de oito horas fazendo lives e entretendo quem o acompanha. Sabe que, no começo da carreira, exagerou. Chegou a bater 300 horas de stream em um mês.
“Eu não tinha pausa para comer direito. Estava muito fissurado. Eu queria crescer de qualquer jeito. Então, eu falo para galera: você tem que separar seus horários. Você tem que fazer suas coisas, se alimentar bem, cuidar bem da saúde, se exercitar…. Porque se você acha que ficar só no PC por horas e horas e vai dar bom… Não vai. Tem que ser sempre balanceado. A saúde sempre vem em primeiro lugar” – afirmou o streamer profissional.
“Quando eu migrei pro Facebook, eu comecei a streamar menos. E aí eu comecei a crescer muito, porque eu acho que conseguir reproduzir muito mais o meu trabalho do que em horas e horas. Consegui descansar melhor, ter mais tempo, relaxar mais a mente. E naquele espaço de tempo que eu estava ali, dar muito mais gás” – completou.
Esportes x Esports
Em uma comparação básica com as modalidades mais tradicionais: por mais que um jogador de futebol queira aprimorar seus passes ou finalizações, por exemplo, de nada vai adiantar ele passar mais horas do que deveria praticando por dia, uma vez que chegará ao limite físico e provavelmente desenvolverá uma lesão. O mesmo vale para o aspecto mental nos esportes eletrônicos. Se os limites do corpo não forem respeitados, os problemas aparecerão, mais cedo ou mais tarde. Por isso, a necessidade de um senso profissional cada vez maior.
“A partir do momento em que se abre mão de outras atividades prazerosas, como estar com a família, estudar, trabalhar, namorar, é preciso repensar. Se existe prejuízo, é hora de parar. O tratamento àqueles que apresentam essa dependência costuma ser parecido com os casos de dependência por substâncias. Primeiramente a Psicoterapia ajuda o paciente a aprender a lidar com suas emoções e compreender a razão pela qual desenvolveu a obsessão pelos jogos” – afirmou a Dra. Marina.“Quando estamos diante de um estímulo prazeroso, nosso cérebro libera dopamina, importante neurotransmissor do sistema nervoso central, no núcleo accumbens, região central do sistema de recompensa. Se esse circuito se torna hiperativado, ocorre um aumento excessivo e potencialmente prejudicial da dopamina, levando o indivíduo a um padrão de dependência e busca “por mais recompensa” – complementou a psiquiatra.
Não é só joguinho…
Para o YouTuber Victor Han, entusiasta dos games e da cultura digital, o contato online com os seguidores se transformou em uma espécie de terapia. Hoje, ele conta com mais de 420 mil inscritos em seu canal, e assegura: os games o ajudaram a interagir mais e o aproximaram de conceitos antes complicados de entender. O ponto de interesse comum com outras pessoas acabou por se tornar profissão. Um hobby remunerado.
“Quando eu comecei a jogar, na minha infância, eu gostava porque era uma forma de eu socializar (digitalmente), então eu não me sentia tão só assim. Foi uma coisa terapêutica, para eu não me sentir solitário… Conheci muitas pessoas, e acho que num ponto me ajudou a conectar o meu mundo real com o virtual” – disse o profissional.
– Eu gosto de interagir com pessoas que gostam das mesmas coisas que eu. Me ajuda muito com a criatividade também. Jogar me direcionou na área que eu estou. Sou designer, então eu gosto de fantasiar as coisas, imaginar, sonhar… E de certa forma isso está relacionado. Eu sempre gostei de viver num mundo que não é real, e os detalhes dos jogos me fazem sonhar – completou.
Saúde x Rendimento
É necessário pontuar que há algumas diferenças relevantes em relação a quem tem os jogos como hobby e quem os têm como ferramenta de trabalho – seja como pro player ou profissional envolvido na área. Em linhas gerais: é natural que LeBron James e Stephen Curry passem mais tempo jogando basquete e se atenham a uma rotina mais “pesada” do que um simples fã do esporte que gosta da modalidade e a leve como uma rotina diária. O conceito do “saudável” diz respeito, e muito, à preparação de quem está envolvido.
“Quando se trata de um jogador profissional, o cenário é outro, e o próprio DSM (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) faz uma ressalva excluindo do transtorno quando ocorre “uso para fins profissionais”. Importante lembrar que o que define um transtorno é sempre a perturbação na vida do indivíduo. Alguém que trabalhe profissionalmente com jogos provavelmente passará muito tempo diante das telas. No entanto, não necessariamente ultrapassará a linha do “saudável”. Obviamente, podem também apresentar problemas caso trabalhem excessivamente, assim como em qualquer atividade laboral” – pontuou a Dra. Marina.
Nesse contexto, entra em pauta também o conceito de burnout, definido como “uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. É evidente que é cômodo tratar o videogame como uma forma “fácil de viciar”, mas o mesmo raciocínio é válido para qualquer forma de entretenimento.
A teoria do “efeito bola de neve” é extremamente válida neste caso. Por exemplo: se você não tem um sono adequado, já começará seu dia com uma carga extra, que não deveria estar ali, absorvida. Se não se alimentar de forma correta, essa carga aumentará. Caso exerça qualquer atividade mais horas do que deveria, ainda mais. E aí por diante. Não há uma fórmula mágica: tudo se trata de equilíbrio e boas escolhas.
“A gente vê muitos jogadores, mesmo amadores, querendo trazer essa coisa assim: “Eu jogo 16 horas por dia”. Mas quanto você está utilizando disso? É a mesma coisa da gente pegar, por exemplo, um piloto de Fórmula 1 e um motorista de aplicativo. Às vezes, por exemplo, o motorista de aplicativo vai passar ali 12 horas por dia dirigindo, mas não necessariamente ele está evoluindo e refinando habilidade de dirigir como o piloto de Fórmula 1, que dirige menos horas por dia, mas com um treino focado em melhorar o tempo dele. É uma coisa que a gente chama de prática deliberativa. Você vai trazer o seu foco e atenção para tirar o máximo” – afirmou Claudio Godoi.
Qual o limite? A resposta é equilíbrio!
Atualmente, o Brasil já é visto como um dos principais mercados de games e esportes eletrônicos do mundo. Organizações estrangeiras se propõem a investir aqui. Alguns dos maiores streamers do planeta são brasileiros. Nossa criação de conteúdo e o engajamento dos nossos torcedores são fatores vistos como referência para cenários com muito mais aporte financeiro. E tudo isso se deve ao profissionalismo cada vez mais presente no nosso país. A responsabilidade é um dever de todos.
Os pro players são exemplos para uma geração, que deve mirar não só a habilidade dentro do servidor como algo a ser seguido, mas todas as condutas fora dele também. Jogo responsável acima de tudo!
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