O Drops de Jogos recebeu uma cópia de testes de Cyberpunk 2077. Este não é review do jogo, mas traz algumas impressões.
São dois jogos com máquinas de marketing muito agressivas. Cyberpunk é falado na mídia desde pelo menos 2012 pela desenvolvedora polonesa CD Projekt Red. Death Stranding foi mostrado, sem detalhes, pelo desenvolvedor-autor Hideo Kojima desde 2015 – com a crise que provocou sua saída da Konami e o teaser de horror P.T., que seria Silent Hills e foi cancelado.
Cyberpunk 2077 se vendeu como o projeto da CD Projekt Red definitivo depois do bem-sucedido Witcher 3, sua expansão e uma série da Netflix que impulsionou as vendas. Desenhando-se como um jogo de final da geração PlayStation 4 e Xbox One, ele foi marcado para 2020 para provavelmente coincidir com o Cyberpunk 2020 dos RPGs de mesa.
Surgiram então os relatos de crunch, de abuso de horas de trabalho entre os desenvolvedores, e as previsões megalomaníacas.
E veio o produto final em 10 de dezembro. Repleto de bugs num mundo quase aberto com refinamento gráfico num futuro distópico.
Death Stranding também trouxe a megalomania em seu projeto vendendo a ideia de um título autoral de Hideo Kojima. Só que o marketing não abriu o enredo e nem a gameplay do jogo de cara. Enquanto Cyberpunk 2077 defendeu de cara um jogo de tiro em primeira pessoa com liberdades a la GTA.
Kojima só conseguia dizer que seu jogo era sobre… andar.
E a Kojima Productions investiu pesado em viagens de Hideo Kojima ao redor do mundo, postando músicas e referências artísticas no desenvolvimento do jogo. Tudo isso ficou documentado no Instagram do autor. E os dois games caminharam no sentido de retratar um futuro distópico.
Mas o resultado das duas experiências é absolutamente oposto. E escrevo este breve texto inspirado nos vídeos do YouTuber Jorin Lee, do Futurasound Productions.
Ao ser revelado enfim como produto terminado, Death Stranding mostrou-se um game finalizado, refinado e funcionando bem inclusive no modo online. Afetado pela pandemia do novo coronavírus, Cyberpunk 2077 chegou faltando refinamentos e com falhas fundamentais. E os dois abordam o futuro.
DS é mais preciso na abordagem deste futuro, trazendo o conceito de “junto e sozinho”.
É um jogo de mundo aberto sobre espaços vazios em um mundo destruído. Sam Porter Bridges, seu personagem, deve reconstruir esse local com pontes, cordas e estruturas. Há combates contra monstros que surgem da barreira entre os vivos e os mortos, mas a eliminação não é incentivada pelo game.
Os mortos geram essas entidades surreais no mundo de Death Stranding. Você precisa encarar o mundo sem gerar mais aberrações.
E há no enredo elementos sobre a luta dos homens contra a mecanização do mundo e a destruição do meio ambiente. São pautas atuais e que fazem parte do futurismo baseado nos problemas econômicos e sociais mais novos.
Cyberpunk, por outro lado, é bem mais datado.
Ele repete temas de Neuromancer e do próprio RPG de mesa. Johnny Silverhand está lá na personificação de Keanu Reeves. Seu personagem customizado luta como um marginal ou um matador em um mundo profundamente sujo. O tiroteio traz alguma memória do filme Matrix e de John Wick.
E há um elemento estético muito mais claro no projeto CD Projekt Red: O neon, as naves e os cenários luminosos de Blade Runner. Cyberpunk 2077 mira em Cyberpunk 2020, mas acerta muito mais em Blade Runner.
É uma outra representação de futurismo, mas muito mais dos anos 1980, apelando para uma temática que é mais nostálgica do que atual.
E isso acaba esvaziando a mensagem de Cyberpunk, que prometia virar de cabeça para baixo a indústria, mas influi muito menos do que o jogo parado de um entregador num mundo destruído. Os tiros e o frenesi do projeto da CD Projekt parecem um remendo de ideias que fazem sucesso e não mudam o cenário.
Mesmo um sendo mais futurista e menos comercial, e o outro sendo muito comercial e só nostálgico, os dois são grandes jogos.
E tomara que Cyberpunk 2077 conserte logo seus bugs.
Nosso review sai logo mais.
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