Acho que todo mundo já tá sabendo do rolo que aconteceu no evento Spaten Fight Night 2 no último sábado né? Uma luta entre o ex-boxeador Popó e o ex-lutador de MMA Wanderlei Silva terminou em caos generalizado e pancadaria que continuou após o fim da luta.
Fico surpreso com o que aconteceu? Não. Desapontado? Também não. Mas teve sim uma coisa que me surpreendeu: nem tudo virou uma discussão infinita nas redes sociais.
Sim, tem gente discutindo se o juiz tava certo ou não em encerrar a luta no quarto round. Se Wand foi “roubado” ou não pelo juiz. Se quem começou a briga foi a equipe do Popó ou do Wanderlei. Mas teve um ponto em específico que não é passível de discussão: Wanderlei Silva foi nocauteado.
Em algum momento da confusão, alguém da equipe de Popó atingiu Wanderlei Silva com um cruzado tão bem dado que o lutador caiu desacordado por quase cinco minutos. E ali tem um pouco de “karma”. Afinal, o evento contra Popó foi ajeitado às pressas porque Belfort – o adversário original de Wand – teve que desistir da luta há poucos dias do evento devido a uma concussão de grau 3. Em entrevista após a desistência, Wanderlei chamou o lutador de “covarde” e afirmou que, se for procurar, todo mundo tem uma dorzinha. E depois de ficar desacordado no ringue por cerca de quatro minutos (o que, de acordo com os manuais médicos, é uma concussão de grau 2), Wand está ameaçando processar seu agressor criminalmente por tentativa de homicídio.
Mas independente disso, há um único consenso saído dessa luta: Wanderlei Silva foi nocauteado. E só o conceito de existir uma consenso sobre algo já é um alento.
Em um mundo de cortes feitos especialmente para as redes sociais que colocam a famosa edição do debate de Lula para o Jornal Nacional no chinelo, é raro termos consenso sobre qualquer coisa. Afinal, com um corte específico e uma legenda que cria um novo contexto para aquilo, tudo pode ser defendido. E, em um momento no qual as pessoas duvidam naturalmente das instituições, é fácil pintar qualquer pessoa como “perseguida” e “injustiçada”.
Mas não quando ela está nocauteada.
Não há corte, legenda ou contexto que mude a percepção de alguém estatelado sem consciência no chão. Você pode discutir se aquele foi um nocaute justo ou não, quem foi o autor do nocaute, as causas que levaram ao nocaute. Mas ninguém põe em dúvida que o nocaute existiu.
No mundo da pós-verdade e onde todos criam suas próprias versões do mundo, um corpo caindo inconsciente no ringue é um dos últimos exemplos que temos de que ainda é possível criar consensos em torno de um fato. Eu não sei como conseguir mais “nocautes” por aí – não de forma literal, mas no sentido de fatos incontestáveis que todos aceitam como verdade, independente da ideologia política ou o contexto com o qual entraram em contato com este fato.
Mas dá um certo alento saber que nem tudo dá pra ser manipulado à revelia. E é uma ironia que, num mundo onde provamos que a caneta pode ser mesmo mais poderosa que a espada, o conceito de “Verdade” – com “V” maiúsculo porque é aquela verdade material, consistente e igual para todos que a presenciam – tenha que ser conseguido aos socos.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

