A 2ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games revela que os estúdios nacionais de desenvolvimento de games estão distribuídos por praticamente todos os estados da federação, mas que a maior concentração continua nos estados do Sul e Sudeste. Essa polarização histórica se deve, principalmente, ao surgimento dos primeiros cursos de design de games e desenvolvimento de jogos digitais nestas regiões, assim como todo ecossistema criativo presente em suas principais cidades. Das 1.042 empresas mapeadas na pesquisa, 861 estão divididas regionalmente, sendo São Paulo (302), Rio de Janeiro (107) e Rio Grande do Sul (69) os estados com maior presença.
Em termos regionais, 56% dos estúdios se concentram na região Sudeste, 20% na região Sul, 16% no Nordeste, 6% na região Centro-Oeste e 2% no Norte. “O levantamento demográfico dos estúdios é muito similar ao encontrado na pesquisa anterior, o que indica uma estabilidade para os próximos anos”, analisa Marcos Vinícius. “Como novidade, a atual pesquisa apresenta a divisão dos estúdios por cidade. Nesse aspecto, os municípios com vida cultural e criativa mais presente destacam-se também como polos de desenvolvimento”, complementa o cofundador da GA Consulting.
Gênero, diversidade e qualidade
O levantamento mostra ainda que, apesar do grande número de demissões nas maiores empresas do setor durante o ano de 2022, estima-se que 784 pessoas passaram a trabalhar em desenvolvedoras de games brasileiras – elevando o total de 12.441 profissionais em 2021 para 13.225 no ano seguinte.
Em se tratando de gênero, os dados levantados apontam que os homens são os mais presentes dentro das desenvolvedoras, seja como sócios ou colaboradores, totalizando 74,2% do material humano entre os respondentes. Já o número de mulheres caiu de 29,8% em 2022 para 24,3%, e o de pessoas não-binárias manteve-se em 1,5%. Uma das explicações para a redução no número de mulheres entre os dois anos é o efeito amostral, já que as empresas respondentes nas duas pesquisas são diferentes.
Por outro lado, no recorte de distribuição de sócios por área e gênero nas desenvolvedoras, pela primeira vez, as mulheres apareceram à frente dos homens em um setor: o administrativo/financeiro, com 28% contra 24%. Vale ressaltar ainda que mais da metade das empresas brasileiras (57%, o mesmo número da pesquisa de 2022) afirma ter uma força de trabalho diversa, com transexuais, pessoas com mais de 50 anos, estrangeiros, refugiados, portadores de deficiência, pretas, pardas ou indígenas.
Forte presença internacional
Com cada vez mais profissionais qualificados e conquistas expressivas no mercado internacional, a indústria brasileira vem colhendo frutos expressivos nos últimos anos. Em 2023, por exemplo, o Brasil foi o país homenageado pela gamescom, um dos maiores eventos de games do mundo e realizado anualmente em Colônia/ALE, que reconheceu publicamente o amadurecimento e a qualidade das desenvolvedoras brasileiras.
Para as empresas nacionais exportadoras, os Estados Unidos e países da América Latina representam os principais mercados comerciais. No período da pesquisa, esses países fizeram negócios, respectivamente, com 58% e 57% dos estúdios brasileiros com esse perfil. O resultado reflete crescimentos de 3% e 4%, também respectivamente, em relação à pesquisa anterior. Já a Europa Ocidental, por sua vez, foi a região com maior crescimento percentual, saltando de 49% para 54%.
Metade das desenvolvedoras nacionais que atuam no mercado internacional obtiveram mais de 70% de seu faturamento diretamente do exterior. Quando considerados apenas os estúdios com faturamento principal proveniente de fora do país, o número de desenvolvedoras sobe para 65%.
Preferências tecnológicas
Atualmente, entre os estúdios nacionais, 80% dos respondentes utilizam o motor gráfico Unity em seus projetos – na pesquisa anterior esse recorte era de 83%. Em seguida, aparece a utilização da Unreal Engine, desenvolvida pela Epic Games, que aumentou sua presença de 23% para 25% – sendo a única a ter registrado crescimento dentre todas as engines pesquisadas. Outro dado interessante que reflete a versatilidade dos brasileiros é que, em média, os estúdios locais utilizaram 1,5 engines em suas produções, sendo que 8% dos desenvolvedores optaram por três ou mais plataformas.
Capacidade de produção
Os serviços oferecidos pelos estúdios brasileiros a terceiros não tiveram grandes mudanças percentuais em relação à pesquisa publicada em 2022, mas seguem em destaque. No estudo atual, a maior novidade está na busca de parceiros por serviços relativos à Interface do Usuário/Experiência do Usuário, que cresceu de 21% para 26% e à Construção/Design de Níveis, que subiu de 25% para 32%.
“O Brasil vive um cenário produtivo crescente e cada vez mais diversificado. É impressionante como empresas internacionais têm se interessado pelos trabalhos desenvolvidos no Brasil e vem reconhecendo nossos talentos nas mais diferentes funções”, pontua Eliana Russi, diretora de operações da Abragames e responsável pelo gerenciamento do Brazil Games. “Ao longo dos últimos anos temos visto crescer os negócios internacionais durante eventos presenciais pelo mundo e os olhos de players de diferentes continentes, certamente, estão voltados para os nossos profissionais”.
Faturamento do setor