Por Pedro Zambarda, editor-chefe.
O político, advogado e professor Décio Nery de Lima é um quadro do Partido dos Trabalhadores desde 1981 de Itajaí, Santa Catarina. Com 63 anos, ele foi vereador de Blumenau até 1997, prefeito da mesma cidade até 2005 e deputado federal até 2019. É presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) desde 10 de abril de 2023.
Desde novembro, o Drops de Jogos está em contato com o Sebrae para conseguir esta entrevista exclusiva. Queremos entender como a entidade enxerga o setor de games no Brasil.
Nas perguntas, buscamos informações sobre a sua atuação em planos regionais, a preocupação com o desenvolvimento das empresas e as particularidades da cena brasileira de jogos.
Confira.
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Drops de Jogos: Qual a expectativa do Sebrae do convênio em parceria com a Apex para promoção de startups ser lançado pelo presidente Lula? O senhor nota uma atenção maior do presidente da República com as pequenas e médias empresas?
Décio Lima: O presidente Lula é uma pessoa que tem profunda compreensão do papel dos pequenos negócios na economia. Basta lembrar que a criação do Microempreendedor Individual (MEI), que foi a maior política pública de formalização já feita no país, aconteceu em seu segundo mandato, em 2008.
Agora, ele e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, firmaram um pacto para apoiar e promover as micro e pequenas empresas brasileiras como forma de fortalecer a nossa economia com geração de empregos e distribuição de renda.
Nesse sentido, a criação do Ministério do Empreendedorismo e da Micro e Pequena Empresa é a confirmação desse compromisso [pasta que é coordenada por Márcio França].
O Sebrae e a Apex Brasil são parceiros no apoio à internacionalização dos pequenos negócios e startups. São várias as iniciativas em curso. Neste momento, o nosso desafio é construir as bases de um plano de promoção de exportações para startups e pequenos negócios.
A Apex possui um extraordinário protagonismo internacional. Precisamos acompanhar as mudanças mundiais. Vale lembrar que a Apex foi institucionalmente criada no governo Lula, há 20 anos.
O Sebrae vem atuando junto com a Apex e outros setores da sociedade em uma agenda de trabalho ambiciosa, que inclua o empreendedorismo como tema central das transformações. Essa agenda internacional é verificável por meio de acordos no âmbito do Mercosul, do G20, além de parcerias sistemáticas com os Ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, sempre em busca da inclusão produtiva e social.
Nossa expectativa é contribuir, por meio dessa parceria, na ampliação da presença dos pequenos negócios na pauta internacional.
DJ: O Sebrae tem feito ações com associações locais de games, e não só a nível nacional, como ocorreu no Ceará. O apoio para startups de jogos eletrônicos e de tecnologia em geral são necessários fora do eixo sul-sudeste?
DL: Nos últimos anos, a indústria de jogos no Brasil demonstrou um crescimento notável. Diversos fatores contribuíram para esse avanço, incluindo o aumento do acesso à tecnologia, a expansão da internet de alta velocidade e a crescente demanda por entretenimento digital.
O mercado de games no Brasil não é apenas uma forma de entretenimento, mas também uma indústria que gera empregos, promove inovação e contribui para o desenvolvimento tecnológico do país.
O apoio do Sebrae à indústria de games está alinhado à sua missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável das micro e pequenas empresas no Brasil. O setor de games, caracterizado muitas vezes por empresas de menor porte, é uma área promissora para a criação de empregos e o estímulo à inovação.
O Sebrae desempenha um papel crucial ao fornecer suporte técnico, consultoria empresarial e capacitação para empreendedores que buscam entrar ou expandir sua presença na indústria de games.
O Sebrae já fez um convênio com a ABRAGAMES para promover ações de sensibilização para esse setor. Desenvolvemos um curso EAD de introdução aos jogos eletrônicos, que é feito via WhatsApp e está disponível na nossa plataforma. Além disso, realizamos parcerias em alguns estados como Maranhão, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, juntamente com as associações, e desenvolvemos trilhas de conhecimento, hackthons e missões para eventos estratégicos.
Ano passado o Sebrae Rio Grande do Sul levou estúdios para a Gamescom, na Alemanha, e os Sebrae de outros estados – como Espírito Santo, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo – levaram empresários, empreendedores de jogos eletrônicos para o evento do BIG Festival.
DJ: O senhor consegue elencar quais são as ações do Sebrae com videogames hoje e quais são as iniciativas futuras?
DL: Agora, em dezembro, nós vamos lançar uma estratégia de atuação unificada para todo o sistema Sebrae voltada a esse setor. A estratégia prevê várias ações para não somente fomentar, mas capacitar esses empreendedores em gestão de negócios e para que os estados estejam preparados para atendê-los da forma como eles merecem.
Temos também a perspectiva de estarmos presentes no Gamescom 2024, que será sediado no Brasil pela primeira vez.
Além disso, o Polo de Economia Criativa do Sebrae, sediado em São Paulo, vai contar com um comitê consultivo específico para o setor de jogos.
Teremos aí, em 2024, várias ações na geração de conhecimento, voltado para games.
DJ: Em um artigo na Exame, o senhor diz que enxerga “potencial empreendedor” na favela. Como correlacionar a criação de pequenas empresas com as condições da periferia?
DL: Nós acreditamos que, com o devido apoio, as MPE brasileiras podem contribuir com a emancipação econômica de milhões de pessoas. Nos últimos anos, os pequenos negócios têm sido os responsáveis por manter o nível de empregos gerando mais de 7 em cada 10 postos de trabalho.
As favelas ou as periferias reúnem boa parte da população brasileira. Uma população de enorme diversidade cultural, com grande criatividade e com capacidade de movimentar recursos financeiros, além de potencial econômico e social incalculáveis.
As favelas são espaços onde vivem famílias, crianças, trabalhadoras e trabalhadores. Um local onde o Sebrae também está, pois há um grande potencial empreendedor que precisa do apoio institucional, seja por meio de capacitações ou parcerias.
A favela é lugar de gente, lugar de vida. Sim, há dificuldades, é verdade, mas são também espaços de expressão de resistência, de pessoas fortes, que criam seus filhos e conduzem suas famílias, na maioria dos casos, em ambiente de amor.
Atento a essa realidade, o Sebrae vem construindo um amplo programa de desenvolvimento territorial que contempla – como uma das estratégias centrais – a Inclusão Produtiva.
Ao todo, 15 estados estão sendo acompanhados pela instituição para a formulação de um programa-piloto de ações voltadas à inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade no mundo do trabalho, seja pela via do emprego formal, seja pela via do empreendedorismo.
DJ: O senhor está na presidência do Sebrae desde abril de 2023. Qual seu balanço de primeiros meses na gestão?
DL: Trabalhamos muito por um Brasil mais inclusivo, onde o empreendedorismo precisa ser entendido como uma Política de Estado, que está às mãos para ser utilizado na geração de emprego em renda. Realizamos uma série de ações significativas para melhorar a vida do brasileiro.
O Sebrae Pelo Brasil percorreu o país de norte a sul do país para fomentar potencialidades locais e impulsionar a geração de negócios. O projeto já rodou 20.070 km e 13 estados. Foram mais de 6.300 participantes, entre colaboradores do Sebrae, empreendedores e comunidade, e 216 autoridades, englobando governadores, prefeitos e representantes locais.
A meta é que, até o primeiro semestre de 2024, o projeto tenha chegado a todo o país.
Atuamos fortemente na aprovação da Reforma Tributária, pois entendemos que se trata de uma verdadeira revolução para o Brasil.
A estimativa é que a Reforma Tributária aumente o Produto Interno Bruto (PIB) do país em pelo menos 12 pontos percentuais (nos 15 anos seguintes à sua entrada em vigor) – impactando positivamente todas as pequenas empresas do Brasil e a economia.
A Reforma vai ampliar o mercado e, consequentemente, aumentar a renda dos empreendedores de micro e pequenas empresas, gerar riquezas e permitir a diminuição das desigualdades.
Atuamos fortemente em defesa do parcelamento do cartão de crédito. Muita gente só consegue realizar sonhos graças a esse mecanismo. O parcelado sem juros é bom para quem compra e bom para quem vende. Ajuda a girar a economia e, com isso, contribui para a criação de empregos.
Para se ter uma ideia, o parcelamento sem juros movimenta R$ 1 trilhão de reais, correspondente a 10% do PIB do país, além disso, 9 em cada 10 varejistas no Brasil adotam o parcelamento sem juros no cartão para efetivar ao menos parte de suas vendas, de acordo com pesquisa da CNC.
O Sebrae vem monitorando a discussão de limitar o número das parcelas sem juros e a ameaça de extinguir essa possibilidade ao consumidor. O nosso posicionamento é que nada justifica a extinção desta modalidade, pois a proposta não encontra amparo técnico.
As ações de inovação do Sebrae já alcançam quase 5 mil municípios brasileiros. Desses, 1.800 estão nas regiões Norte ou Nordeste do país. O Sebrae está democratizando e interiorizando a inovação para os pequenos negócios. É a inclusão da inovação!
Ao longo de sua história, criado em 1995, o FAMPE (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas) avalizou mais de 577 mil operações, que totalizam mais de R$ 31 bilhões em crédito. E R$ 23 bilhões em garantias. Em breve iremos lançar políticas de crédito que permitam que as MPE tenham acesso a recursos de forma menos burocratizada e com juros compatíveis.
Ou seja, o nosso ritmo foi acelerado. E hoje o Sebrae, além de ser a sexta marca mais forte do país, é agora uma marca reconhecida como de alto renome. Estamos fechando o ano com o nosso planejamento estratégico para 2024, com desafios ainda maiores, voltados para a geração de emprego e renda.
Nossa pauta é sempre o empreendedor de pequenos negócios.
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