Eu entrevistei o sociólogo e pesquisador marxista britânico Jamie Woodcock (34) no site Diário do Centro do Mundo (DCM). Ele lançou em 2019 o livro “Marx no Fliperama”, que foi traduzido no ano seguinte pela editora Autonomia Literária. Woodcock afirma que se tornou um admirador de Karl Marx ao criticar a invasão do Iraque pelos EUA em sua militância estudantil.
Ele contou que é fã do jogo de RPG Disco Elysium, do estúdio britânico ZA/UM, que aborda abertamente temas como a esquerda, o anarquismo e o fascismo em um enredo investigativo. Confira alguns trechos da entrevista.
Você acha que os indiegames [jogos independentes] são outra forma de criar games sem a ideologia do neoliberalismo?
Os jogos independentes podem oferecer uma distância dos estúdios AAA [a chamada grande indústria] para experimentar diferentes maneiras de fazer jogos. Muitos jogos independentes são muito diferentes de games de esportes licenciados anualmente [como FIFA] ou do último título de uma franquia FPS [jogos de tiro em primeira pessoa].
A indústria dos videogames sempre teve uma dinâmica de resistência e captura, desde os primeiros desenvolvedores a fazer jogos. Isso continua até hoje, com pessoas modificando jogos e tornando-os fora das estruturas tradicionais da indústria.
Veja Counter-Strike, DOTA ou League of Legends, por exemplo, que começaram como mods [modificações ilegais] de jogos existentes. No entanto, o capitalismo provou ser muito bem-sucedido em recapturar a criatividade e a dinâmica subversiva de outras formas de fazer jogos.
Jogos independentes não são uma solução para o problema da ideologia neoliberal ou capitalista, mas podem ser uma parte da experimentação com o que culturas ou práticas alternativas poderiam ser.
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‘Marx no Fliperama’ é um livro de 2019. Você acha que movimentos como o GamerGate, movimentos de extrema direita, querem manter as estruturas neoliberais da indústria de videogames?
A extrema direita organizou-se online de forma muito mais eficaz do que a esquerda há algum tempo. De certa forma, os movimentos populares de direita hoje foram desenvolvidos em espaços online, antes de saírem para as ruas. Claramente, a extrema direita não seria a favor de movimentos progressistas para mudar a estrutura da indústria de videogames, e partes disso podem ser vistas no GamerGate.
No entanto, meu argumento em “Marx no Fliperama” não é que os videogames sejam ruins ou que a violência deva ser removida dos jogos. Em vez disso, os videogames podem ser um meio para expressar mais do que atualmente. Crítica não é o mesmo que censura.
Trata-se de lutar por videogames – tanto como forma de trabalho quanto de lazer – que podem ser parte do pensamento sobre formas alternativas de organizar a sociedade, bem como algo com o qual podemos relaxar no final do dia.
Leia a entrevista na íntegra aqui.
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