A informação é de André Leão no site Planeta Sinclair. Reproduzimos com a permissão do autor.
Nome: A Viagem de Vasco da Gama à Índia
Editora: NA
Autor: Libânio Guerreiro
Ano de lançamento: 1991
Género: Aventura de texto
Teclas: NA
Joystick: NA
Memória: 48 K (FDD)
Número de jogadores: 1
Se com SOS Naufrágio, uma pura aventura de texto tínhamos ficado muito bem impressionados, se com Hero, usando o mesmo motor, mas trazendo uma nova dimensão estratégica tínhamos ficado de queixo caído, e não apenas pelo belíssimo grafismo, que dizer de A Viagem de Vasco da Gama à Índia, que expande para um patamar inimaginável aquilo que Libânio Guerreiro tinha conseguido nos seus dois primeiros jogos?
Não nos enganamos por muito se dissermos que este é o melhor jogo para o Spectrum desenvolvido apenas por portugueses, ainda para mais trazendo uma vertente educacional que o valoriza. Mas também não podemos deixar de fazer um reparo: como é que um jogo como este passa despercebido à comunidade? Como é que a comunidade continua a valorizar continuamente um jogo (não vamos dizer o seu nome), reduzindo a importância de tudo o resto que os nosso programadores fizeram? Talvez parte da resposta esteja na nossa mentalidade, o que é uma pena, pois quem ficou a perder em primeira instância foram os programadores nacionais, que não viram os seus trabalhos reconhecidos lá fora, mas também a própria comunidade portuguesa, que perdeu o privilégio de ter usufruído de jogos deste calibre, e que ainda por cima é vista de forma jocosa como os “saloios” que apenas fizeram um jogo caricato para exportação (e não, não nos referimos a Alien Evolution, Kraal ou Klimax, todos bastante interessantes).
Bem, depois de aliviarmos um pouco a irritação que tínhamos, vamos então falar um pouco deste que para nós é considerado como o melhor jogo alguma vez feito em Portugal, pelo menos para o ZX Spectrum. E nem o facto de ter sido desenvolvido para o sistema FDD da Timex lhe retira qualquer valor. Doutra forma não poderia ter sido, já que A Viagem de Vasco da Gama à Índia ocupa os dois lados de uma disquete, estando no primeiro dos lados o motor do jogo, as instruções e uma pequena introdução, e no segundo lado da disquete uma boa parte das imagens. Estas são de enormíssima qualidade, qual delas a mais bonita, e são às dezenas.
O próprio Libânio confessou-nos que foi enchendo a disquete até não ter mais memória, e que apenas parou, pois para o fim a que se destinava este jogo (a comunidade escolar e académica), não seria adequado usar várias disquetes. Mas não se preocupem, estamos a trabalhar para transformar o jogo em 128K, através da compressão das imagens, sem que estas percam qualidade, permitindo correr no Spectrum, sem recurso ao FDD. Esperemos ser bem sucedidos…
Já agora uma história curiosa: a disquete foi-nos enviada pelo próprio Libânio, tendo o Ricardo Reis conseguido fazer a sua preservação, num trabalho bastante moroso e complexo, pois tinha “bad sectors”. Mas juntamente com esta disquete, vinha uma outra, contendo outra raridade, e essa sem erros. Os jogos SOS Naufrágio e Hero, versão FDD, lidos através de um menu comum, permitindo escolher as instruções ou jogo. Que luxo…
A Viagem de Vasco da Gama à Índia foi então iniciado em 1989 e terminado em 1991 (visível no primeiro dos ecrãs de carregamento), tendo sido desenvolvido para a FCT/UNL, situada no Monte da Caparica. Inspirou-se no livro “Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama”, das Publicações Europa-América, e se queremos cumprir a 100% com a missão que nos está destinada, é aconselhável ler-se a obra. Já iremos ver o porquê de ser necessário ler-se a obra para se atingir a pontuação máxima (se apenas se pretender terminar o jogo, basta ler as instruções que vêm com o mesmo).
1 – Elden Ring, uma resenha. Por Pedro Zambarda
2 – Horizon Forbidden West, uma resenha. Por Pedro Zambarda
A aventura decorre em 1497 e assumimos o papel de Vasco da Gama. Este encontra-se em Lisboa e está prestes a iniciar a célebre viagem histórica. Mas antes de empreender a viagem, tem de se assegurar que as naus que comanda estão devidamente apetrechadas. É possível iniciar a viagem sem ter todos os objetos, mas se não tivermos um astrolábio, um mapa ou presentes para oferecer aos outros povos, andaremos depois perdidos pelo mar (nesse caso mais vale recomeçar o jogo).
Portugal apenas surge praticamente de Lisboa para baixo, pelo que esta primeira parte da aventura não tem muitos locais a visitar. Não chegam a uma dezena e rapidamente se descobre onde se encontram os objectos que temos que apanhar para apetrechar as naus. Também rapidamente vamos descobrir que Vasco da Gama, apesar de ser bom nadador, não se lhe dá muita saúde atirar-se ao mar assim por dá cá aquela palha. Há que monitorizar com alguma regularidade o seu estado físico, para isso digitando “relatorio”, ou usando a tecla “7”, uma das muitas utilizadas para atalhar comandos.
O relatório não só vai dizer como se encontra Vasco da Gama, mas também o moral da tripulação, o número de homens que sobrevivem às agruras do mar, o número de dias passados desde que iniciou a aventura em Lisboa e o último acontecimento relevante. Caso Vasco da Gama se encontre enfermo, sempre pode comer ou beber das suas provisões, melhorando imediatamente o estado de saúde. Convém aqui fazer uma nota: há dois tipos de provisões, aquelas que são recolhidas por Vasco da Gama, e que são para seu uso pessoal, e as que são negociadas com os nativos ou pescadas no mar, que servem para abastecer as naus e a tripulação. Entender isso fará toda a diferença ao longo do jogo.
Naves apetrechadas, estamos então em condições de nos fazermos ao mar. Saímos de Lisboa e convém talvez puxar o mapa para nos orientarmos. Digitar “mapa” ou tecla “0” carrega a imagem com o mapa da zona onde nos encontramos. São seis diferentes (ver canto superior direito), e é através dele que vamos gizar a nossa estratégia. Sim, A Viagem de Vasco da Gama à Índia é muito mais que uma mera aventura de texto, pois, à semelhança do que acontece com Hero, existe uma forte componente estratégica. Senão vejamos nos próximos parágrafos tudo aquilo a que temos que estar com atenção, além da saúde de Vasco da Gama.
Não convém ir com as naus contra terra. Teremos que primeiro desembarcar para o batel, e só então podemos aceder a terra. De cada vez que as naves vão contra terra, sofrem danos, felizmente que estes poderão depois ser reparados em alguns portos ou nas margens dos rios.
Mas há que manter a tripulação com o moral em alta, e já agora viva, de preferência. Sabemos bem o que acontece a quem anda no mar muito tempo sem fruta e legumes frescos, não é? O escorbuto é fatal e a única forma de aplacar a doença, é ingerindo esses alimentos. Para os obter, negociar presentes com os nativos que vamos encontrando.
Para ver as provisões disponíveis em cada uma das quatro naus, digitamos “inventario” ou tecla “8”, e temos acesso ao inventário de cada navio. É-nos então indicado o número de homens que fazem parte da tripulação, a quantidade de alimentos, entre os quais a fruta, e, igualmente importante, a quantidade disponível de água. Existem mil e uma maneiras de Vasco da Gama e a tripulação morrerem, ou de as naus afundarem, mas a mais inglória será deixá-los morrer à sede. Para se obter água, há que encontrar os agueiros (as ilhas normalmente têm, mas também algumas partes da costa, nomeadamente junto a rios), e “fazer aguada”, o termo usado na época. Não esquecer é de antes desembarcar a tripulação, não se espere que Vasco da Gama carregue às costas os barris com o precioso líquido.
Digitando “vista” ou a tecla “5”, temos o panorama geral que encontramos, enquanto que “ver” ou tecla “6”, dá informação um pouco mais pormenorizada, tal e qual como acontece em Hero. É fundamental irmos rodando as várias opções, doutra forma poderão escapar-nos elementos importantes do cenário (como a água ou os peixes, por exemplo).
Finalmente, para completar a lista de comandos, além dos quatro pontos cardeais, também acessíveis através das teclas “1” a “4”, a tecla “M” assinala os últimos comandos digitados, muito útil para quando nos encontramos perdidos no batel, sem saber o local onde se encontram as naus (atenção que muito tempo no batel provoca queimaduras solares), o “pause”, fundamental para quando estamos a pensar na estratégia a seguir e não se quer ver o tempo passar e as provisões terminarem rapidamente, “symbol shift” + “R” para repetir o último comando, e o habitual “load”/”save”.
Agora que já tivemos um lamiré daquilo que vamos encontrar e das necessidades básicas das personagens, estamos prontos a começar a viagem. Depois de sairmos de Lisboa, temos que contornar a costa africana, passar o Cabo da Boa Esperança e entrar no Índico, desembarcando em vários pontos do continente e ilhas para recolher víveres e colocar padrões, sobrevivendo aos encontros com outros povos.
Padrões… Pois, ainda não tínhamos falado nisso. Mas já tínhamos dito que era aconselhável ler a obra na qual o jogo se baseia, e isso porque ao longo da viagem temos a possibilidade de colocar padrões. Estes podem ser colocados em qualquer local da costa, no entanto, a ideia é recriar a viagem de Vasco da Gama e para obtermos a pontuação máxima em termos de rigor histórico, temos que saber quais os locais onde os devemos colocar. Se não tivermos paciência para fazer um pouco de pesquisa, podemos à mesma ter êxito, mas o índice referido será baixo (ou nulo).
Chegando à Índia, temos que estabelecer uma rota de comércio com o líder local, encontrar as especiarias preciosas e, se conseguirmos sobreviver a todas as contrariedades, incluindo piratas e o encarceramento, podemos voltar finalmente a Portugal com as naus sobreviventes carregadas. Enfrentando novamente todos os perigos, evidentemente…
É utilizada a mesma mecânica dos dois jogos anteriores, aproveitando algumas rotinas. Assim, quem experimentou SOS Náufrago e Hero, irá notar as semelhanças entre eles. No entanto, este jogo é ainda mais complexo e longo. Não só temos que explorar todos os locais, recolhendo os objetos necessários, como temos mais uma vez uma forte componente estratégica, com elementos como a negociação com os outros povos, assim como a atividades bélicas.
Não se lendo a obra atrás aconselhada, conhecer um pouco (ou bastante) da história de Portugal, nomeadamente da época dos Descobrimentos, é fundamental para se avançar nesta épica aventura. Não é por acaso que o jogo foi introduzido nas escolas através do projeto Minerva, que através do Ministério da Educação, e tendo vigorado entre 1985 e 1994, introduziu as Tecnologias de Informação e Comunicação (vulgarmente conhecidas por TIC), nas escolas do ensino básico e secundário. Curiosamente, o seu mentor e coordenador, o professor António Dias Figueiredo, discursou na palestra de inauguração da exposição LOAD “” que deu origem ao Museu LOAD ZX Spectrum.
No entanto, aquilo que poderemos dizer é todo esse esforço é largamente compensado com o prazer que se retira desta Viagem. Os desafios são imensos e complexos, mas altamente recompensadores quando se chega ao fim, os gráficos são esplendorosos, como têm oportunidade de ver nos ecrãs que aqui deixamos. Serão necessários muitos dias para se conseguir chegar à Índia, e ainda mais para fazer o caminho de volta. Consegue-se imaginar melhor forma de aprender um pouco sobre a História de Portugal?
A Viagem de Vasco da Gama à Índia é um jogo mais que obrigatório. É o elo que nos faltava para nos reconciliarmos com os jogos feitos em Portugal para o Spectrum. É a forma de dizer aos estrangeiros que somos tão bons ou melhores que eles a criar aventuras épicas para esse computador. É um crime não o experimentarmos. Quem sabe, Libânio, com quem temos estado em contacto, venha a ter agora o reconhecimento que lhe seria devido, desenferruje os seus conhecimentos de programação, e crie uma nova aventura. Da nossa parte, tudo faremos para que isso aconteça. Aguardem por novidades em breve…
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