Xbox anuncia Muse, e Phil Spencer fala asneiras para gerar hype - Drops de Jogos

Xbox anuncia Muse, e Phil Spencer fala asneiras para gerar hype

Especialista em IA explica como o CEO da Xbox parecia estar inventando coisas sobre a Muse sem saber exatamente o que ela pode fazer

(Imagem: captura de tela vídeo de anúncio do Muse)

Na quarta-feira (19) a Xbox oficializou o desenvolvimento de sua própria inteligência artificial. Com o nome de Muse, a novidade foi anunciada como uma IA generativa criada para “revolucionar como a gente trabalha, aprende e joga.”

O anúncio afirma que a Muse foi desenvolvida para ajudar jogadores e criadores de jogos de todo o mundo, e que a Xbox acredita que esta tecnologia pode abrir novas possibilidades no campo dos jogos.

Sem Histeria: o que é a Muse?

Muse é uma IA generativa criada pelo time de pesquisas da Microsoft e desenvolvida para o uso na área de games. De acordo com um artigo publicado na revista Nature, o grande diferencial desta para outras IAs generativas é o nível de compreensão que ela possui de mundos 3D.

Esta compreensão é demonstrada em um trabalho feito em parceria com a Ninja Theory, estúdio mais conhecido pela franquia Hellblade. A desenvolvedora teria fornecido diversas horas de conteúdo de gameplay de Bleeding Edge, jogo multiplayer de combate em arena criado pelo estúdio.

A partir da análise desses vídeos, a Muse teria criado vídeos de gameplay novos baseados na ação de Bleeding Edge. De acordo com o vídeo de anúncio do produto, essa tecnologia poderia ser usado para desenvolver novas maneiras de criar jogos para o Xbox.

Introducing Muse: Our first generative AI model designed for gameplay ideation

Mas, assim como acontece cada vez mais em tecnologias desse tipo, os executivos vendem mais sonhos do que resultados concretos. E, pra variar, focaram tanto em usar todas as palavras chave que deixam investidores molhadinhos que não conseguiram explicar o que exatamente esse IA consegue fazer ou não.

Mas ainda bem que ainda existem alguns profissionais sérios nessa indústria pra explicar como todo aquele vídeo da Microsoft tinha muito papo furado.

O que a Muse faz de verdade não é nenhuma Lo-lo-lo-lo-loucura

É aqui que o Dr. Michael Cook sobe ao ringue. Professor de Ciências da Computação no King’s College London (Inglaterra), game designer e pesquisador na área de criatividade computacional e experiência artificial, ele ignorou os vídeos de marketing e foi procurar no artigo acadêmico o que realmente fazia essa nova IA da Microsoft.

Ele deu uma explicação detalhada do que exatamente é essa IA da Microsoft em um longo post de seu blog pessoal. E uma coisa que ele já desmente é a ideia de que será possível usar a Muse para criar jogos, porque ela não foi desenvolvida para criar gameplays ou desenvolver ideias novas.

Ele explica que, segundo o paper da Microsoft, a Muse analisou sete anos de vídeos de pessoas jogando Bleeding Edge no Xbox, e então foi treinada para criar novos vídeos de gameplay baseados naqueles dados. Isso quer dizer que ela não criou nada jogável, apenas novos vídeos que imitam o vídeo de alguém jogando Bleeding Edge.

A Muse não é um Buraco Negro Supermassivo nem de longe

De acordo com o pesquisador, a funcionalidade da Muse é bastante limitada. No momento, a única serventia que ela tem é ajudar os desenvolvedores a prever o comportamento dos jogadores a qualquer mudança de cenário ou de ferramentas de jogo.

Por exemplo, digamos que os desenvolvedores de Bleeding Edge querem adicionar um alçapão escondido cheio de espinhos em um lugar onde hoje é apenas uma área vazia. Antes de liberar essa atualização pro game, é possível pedir pra IA adicionar esse elemento no cenário e simular como os jogadores irão interagir com essa mudança e como ela irá mudar as estratégias de jogo deles.

Exemplos de vídeos de gameplay criados pela Muse (Imagem: divulgação/Microsoft)

Mas mesmo assim Cook ainda duvida do quão útil essa ferramenta será de verdade. Isto porque mesmo essa utilidade só poderá ser usada em jogos que os desenvolvedores já possuem centenas e milhares de horas de vídeos de gameplay para adicionar os bancos de dados da IA. Ou seja, ela pode funcionar para prever mudanças de comportamento dos jogadores para novas atualizações de Bleeding Edge, mas não tem serventia nenhuma para ajudar o desenvolvimento de um jogo que ainda nem foi lançado.

Muse x Preservação: sinal de que o Tempo Está Acabando

Claro, não podemos esquecer do “grande momento” do vídeo de anúncio da Muse: quando Phil Spencer fala que essa IA poderá ajudar jogos antigos a rodar em qualquer plataforma moderna. Cook não foi sutil e classificou esse comentário como “idiota”.

Como ele já explicou, a Muse é uma ferramenta de replicação de vídeos e não consegue criar nada que seja jogável. Assim, falar que ela pode ajudar a fazer jogos antigos rodar em qualquer plataforma é, no melhor dos mundos, uma prova de que o CEO da Xbox não faz a menor ideia do que é o produto que ele está mostrando ao mundo.

A pior das hipóteses é que ele sabe muito bem que a Microsoft investiu milhões numa IA desenvolvida para substituir desenvolvedores de jogos e que o resultado alcançado não tem nenhuma aplicação prática real. Então, ele inventou essa história de preservação para diminuir as críticas que já sabia que ia receber da galera que “insiste” em exigir dessas iniciativas de IA resultados práticos e que vão mudar a vida das pessoas pra melhor – e não aquele discurso vazio com as mesmas palavras-chave que fazem qualquer firma de investidores abrir a carteira.

E eu não sei vocês, mas eu poderia apostar que estamos aqui diante do pior cenário (pra variar).

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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