ATENÇÃO: a partir daqui essa review terá spoilers sobre o filme Capitão América: Admirável Mundo Novo e possivelmente de outras obras do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) de modo geral.
Capitão América: Admirável Mundo Novo chegou hoje (13/02) aos cinemas aqui do Brasil e não é a bomba que todo mundo esperava. Mas, porque este filme é apenas “competente”? É justamente isso que eu quero discutir aqui nessa resenha.
De certa forma, Capitão América: Admirável Mundo Novo tenta fazer uma junção dos dois filmes anteriores do herói. A trama então traz toda aquela história de um amigo que teve a mente controlada e nosso herói precisa lutar para salvá-lo e inocentá-lo (como em Capitão América 2: O Soldado Invernal), assim como a figura enigmática que manipula tudo nos bastidores a fim de causar uma guerra (como em Capitão América: Guerra Civil).
Mas só pelo fato de não ter as figuras de Steve Rogers e Bucky Barnes o filme já saiu em desvantagem. Isto porque, ao trocá-los pelo trio de Sam Wilson (Anthony Mackie), Isaiah Bradley (Carl Lumbly) e Thaddeus “Thunderbolt” Ross (Harrison Ford), ele é forçado a usar as relações que foram estabelecidas no filme O Incrível Hulk e na série Falcão e o Soldado Invernal. E ambos são dois dos maiores fracassos de crítica e público de todas as produções da Marvel.
O retorno de Tim Blake Nelson como o vilão Samuel Sterns (também conhecido como O Líder) é outra forçada de barra para com o público. Não que Blake Nelson não seja convincente, mas como bom vilão maquiavélico de filmes dos anos 90 ele tem pouco tempo de tela e uma conexão bem superficial com os protagonistas. Além disso, é um pouco demais esperar que as pessoas se lembrem que ele apareceu numa cena pós-créditos quase 20 anos.
“Superficial” é o adjetivo que define Capitão América: Admirável Mundo Novo
Seja nos temas tratados ou nas próprias cenas de ação, o filme não se aprofunda muito em nada. Os personagens discutem tópicos que tem tudo a ver com a ascensão de regimes fascistas que vemos no mundo hoje, mas não oferece uma solução que vá além de “temos que acreditar que as pessoas querem melhorar”. Ele traz boas cenas de ação tanto em terra quanto no ar, mas não chega perto do brilhantismo das lutas de Shang Chi ou dos combates aéreos de um Top Gun.
A introdução de um novo Falcão (no papel do soldado Joaquin Torres, interpretado por Danny Ramirez) também não compromete. Ela não é tão marcante quanto foi a introdução de Anthony Mackie “À esquerda” em Soldado Invernal, mas também não foi algo tão fora de contexto quanto a introdução da Ironheart em Pantera Negra 2: Wakanda para Sempre.

Mais uma vez, Mackie mostra que ele tem força e carisma o suficientes para ser um astro de Hollywood, e consegue não ser engolido em nenhuma das cenas onde divide lugar com o monstro (neste filme em específico, até literalmente) Harrison Ford. Mas ainda é cedo para saber se o público conseguirá aceitar ele como o “símbolo” de uma nova geração de Vingadores.
Como esperado em todo filme ou série da Marvel nos últimos anos, Capitão América: Admirável Mundo Novo joga mais algumas migalhas na trilha que irá nos levar diretamente para a aguardada chegada dos X-Men ao MCU. O filme introduz de forma oficial o Adamantium ao MCU, e eu aposto dinheiro que o cilindro do metal resgatado pelo Capitão vai estar diretamente envolvido no projeto Arma X que irá criar o Wolverine.
A maior falha de Capitão América 4 está no esforço em não ser polêmico
Também é visível a forma como a Marvel tentou se esquivar de polêmicas com a personagem Ruth Bat-Seraph (conhecida nos quadrinhos como a Sabra). Com exceção do nome, ela teve toda a origem e poderes modificados para o filme, deixando de ser uma mutante com super poderes e tornando-se uma agente secreta treinada pela academia das Viúvas Negras.
Em nenhum momento o filme faz menção a uma origem israelense, e provavelmente essa foi uma das muitas mudanças feitas no roteiro para tentar tirar o filme de qualquer polêmica envolvendo a questão palestina. O problema é que essa tentativa é meio falha quando você mantém a personagem que tem um nome claramente judaico e que ainda é diretamente ligado a uma heroína que, historicamente, é usada para valorizar o Mossad e as políticas sionistas de extermínio palestino.
Este tipo de abordagem também pode ser visto na forma como o filme trata a questão de Isaiah Bradley. O personagem tenta mostrar o trauma de alguém que ficou 30 anos preso a mando do atual presidente dos EUA (o do filme, não o real), e que tem motivos de sobra para não querer ter mais nada com o governo. Afinal, Thaddeus Ross não apenas o trancafiou numa prisão secreta durante três décadas, mas transformou ele numa cobaia para diversos experimentos e apagou todo o histórico militar de Bradley como o Capitão América da Guerra Fria.

Mas tudo isso fica pra trás porque Sam Wilson foi convidado para participar de um evento na Casa Branca e quer que ele vá junto. O motivo que convence um velho soldado que foi torturado pelo atual presidente da república a aceitar o convite? “Não é todo dia que você recebe um convite pra ir numa festa na Casa Branca”. Eu gostaria de dizer que estou inventando isso, mas infelizmente não.
Assim como acontece na questão da Palestina, a questão racial invocada pelo filme se esforça tanto para tentar não ofender ninguém que acaba sendo mais ofensiva do que se os roteiristas de Capitão América 4 adotassem uma posição específica.
Capitão América: Admirável Mundo Novo não é o melhor que o MCU tem a oferecer, mas também não é o pior
No geral, Capitão América: Admirável Mundo Novo é um filme “seguro” e que tenta não mexer em nenhum vespeiro ideológico, mas que falha ao se esforçar demais para tentar não ofender ninguém.
Mesmo assim, ele falha no mesmo nível que todos os outros filmes da Marvel também falham. Então, se você não se ofendeu pela ideologia de filmes como Vingadores, Homem de Ferro e Capitão América: Guerra Civil, não é Admirável Mundo Novo que vai te fazer abandonar o MCU para sempre.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.