Drops de Jogos recebeu informações oficiais do NIC.br. 12º Fórum da Internet no Brasil celebra trajetória de Tadao Takahashi, um dos pioneiros da rede no país.
Em seu último dia, o 12º Fórum da Internet no Brasil (FIB12) celebrou a contribuição e a importância do pesquisador e acadêmico Tadao Takahashi para a construção da Internet no Brasil. A trajetória pioneira de Tadao, que faleceu em abril, foi lembrada na sessão principal “30 anos da ECO-92 e o futuro da Internet no Brasil: uma homenagem a Tadao Takahashi”. A mesa, mediada por Tanara Lauschner (CGI.br), teve a participação de precursores da rede no país e novas lideranças da área. Realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), a edição deste ano do Fórum aconteceu cidade de Natal (RN) e contou com 1.500 inscritos.
Tanara destacou que a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, teve papel importante na Internet em território nacional, e lembrou da relevante atuação de Tadao naquele contexto. “A história da ECO-92 e na expansão da Internet no país a colaboração de Tadao Takahashi foi fundamental. Tadao atuou fortemente durante o evento, junto com outras pessoas e instituições parceiras, para viabilizar o acesso dos delegados da conferência a serviços de correio eletrônico”.
Carlos Alberto Afonso (Instituto Nupef), também pioneiro da rede no país, apresentou uma visão histórica de como a conferência da ONU teve uma intersecção com desenvolvimentos paralelos de redes liderados por entidades civis em vários países, e por aqui, imbricada com o início da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, a RNP — que acabou contribuindo decisivamente para a ativação e permanência das primeiras conexões do Brasil com a Internet nos Estados Unidos. Segundo ele, “em todo o processo esteve a presença imprescindível de Tadao Takahashi”, que no início da década de 1990, liderou a construção da RNP. Ao final de sua apresentação, CA exclamou: “Tadao, companheiro de pelejas, você fará muita falta!”
Beatriz Zoss (RNP) enfatizou que a Internet já em 92, naquele embrião, mostrava três grandes camadas: a social representada pela presença dentro da ECO-92 do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e do Alternex — projeto de serviços de comunicação via redes de computadores –, a camada técnica, e a de ensino e pesquisa, que deu suporte para que tudo acontecesse. Beatriz destacou os avanços obtidos pela RNP desde sua criação. “Isso foi uma visão que Tadao talvez tivesse na época e que, para mim, era muito longe de ver, mas com muito orgulho, peguei carona nesse sonho, que estou vendo se materializar”.
Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br, também pioneiro da rede no país, falou sobre iniciativas que devem muito ao Tadao. Uma delas aconteceu em 1995, quando o governo estudava meios de como oferecer a Internet comercial em território nacional. Tadao Takahashi foi um dos que convenceu Sérgio Motta, ministro das Comunicações na época, a definir que a área de Telecomunicações e a Internet eram coisas diversas e complementares. “Isso ajudou na evolução da rede no Brasil, porque a deixou livre de amarras”.
Ele fez um apelo para que tentássemos aprimorar a definição do que significa Internet. “Quando defendemos neutralidade, defendemos ‘neutralidade da Internet’. É fundamental separá-la das construções que são feitas sobre ela. Uma coisa é a Internet, que deve ser uma estrutura única, cobrindo o mundo inteiro, e outra são as construções sobre ela, independentemente de serem boas ou ruins. Essas podem ser passíveis ou não de regulação, podem ser consideradas como “intermediários” no sentido clássico, ou não. Para termos um caminho futuro claro sobre isso, há que se separar o tratamento da Internet, que tem de estar disponível para todos, do que é construído sobre ela. Tadao fará muita falta nesse cenário em que a objetividade e a racionalidade são fundamentais”.
Para Eduardo Parajo (vice-presidente da Abranet), o embrião de 92, marcado pelas primeiras conexões, representou uma revolução na comunicação brasileira. “Ele foi importante para que tivéssemos um ponto focal naquele momento de divisão do que aconteceria no Brasil em relação à Internet”. Após fazer um retrospecto da evolução desse mercado no país, Parajo agradeceu a pioneiros, como Tadao, Getschko e Carlos Afonso, que ajudaram “a projetar esse futuro, o que vivemos hoje e o que ainda vamos viver”.
Raimundo Macêdo (Sociedade Brasileira de Computação/Universidade Federal da Bahia) falou sobre os grandes desafios para o futuro da Internet no Brasil, separando-os em cinco eixos: científico/tecnológico, econômico, social, ambiental e regulatório. Ele apontou como tendências a descentralização, a mobilidade, as integrações físico-cibernética, físico-virtual, humano-físico-cibernética — que vão exigir maior autonomia operacional e de gestão de sistemas de redes.
Na visão de José Gontijo (coordenador do CGI.br), a Internet e o mundo real são uma coisa só. “Muito se falava em realidade virtual e o mundo real há algum tempo atrás. Hoje, temos a realidade misturada. A pandemia proporcionou isso. As pessoas se relacionam pela Internet, pelas videoconferências. Tudo isso mostra o que é a Internet”. José Gontijo ainda destacou a importância do modelo multissetorial do CGI.br para a governança da Internet no Brasil e que é muito reconhecido internacionalmente.
Luta por diversidade
Silvana Bahia (Olabi) ressaltou que vivemos em um país marcado pela desigualdade, principalmente a de raça e de gênero. Ao refletir sobre os 30 anos da Internet no Brasil, ela constatou que, apesar das muitas transformações ocorridas nesse período, a produção e a gestão de tecnologia seguem pouco diversas, o que ajuda na manutenção de problemas estruturais, como o racismo.
A representante do Olabi frisou que os desafios estruturais também estão presentes no digital, ambiente onde o poder de escala e impacto é muito maior. “Espero que a questão racial não saia da mesa, e que a gente possa dar nome para as coisas sem medo. Espero que as linguagens e possibilidades se ampliem para toda sociedade, mas principalmente para ‘as maiorias silenciadas’”.
Direito fundamental
Mariana de Siqueira (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) falou sobre o futuro da Internet no Brasil a partir de um recorte jurídico. Ela destacou, entre outros, o debate em torno do acesso à rede como um direito fundamental. Segundo a especialista, na perspectiva jurídica, esse reconhecimento pode ser implícito — sem que esteja escrito na Constituição Federal — ou explícito, escrito no texto da CF, a partir de uma proposta de emenda.
Na avaliação da professora, a consolidação da rede como um direito fundamental no Brasil não é um processo simples e precisará de engajamento coletivo, esforço e articulação junto ao poder público. “O primeiro passo para o futuro da Internet no Brasil é discutir de modo mais intenso esse direito fundamental. E a pandemia colocou holofotes enormes sobre a questão e sua importância”, afirmou, acrescentando que não basta apenas acesso. De acordo com ela, é fundamental também educar para a cidadania digital para que o futuro da rede seja promissor, marcado por equidade, que é Justiça com igualdade.
Homenagem
Durante a sessão, foi exibido um vídeo, mostrando a contribuição e a importância de Tadao Takahashi para a Internet no Brasil. Emocionada, Laura Takahashi agradeceu pela homenagem e pelo evento que honrou a memória do irmão. “Ele sempre acreditou que as mudanças positivas são possíveis de serem realizadas no Brasil. E lutou por isso até os últimos dias da sua vida”.
Ela compartilhou a visão de futuro que Tadao vinha apresentando nos últimos tempos. “Meu irmão tinha um interesse especial na realização de projetos sociais de apoio à formação e educação de crianças e adolescentes de comunidades socialmente vulneráveis. Projetos com ênfase em tecnologia e ensino. Desde 2021, junto com alguns colaboradores, começou a construir uma associação sem fins lucrativos, uma organização social civil com esse objetivo, que agora denominamos Instituto Tadao Takahashi”.
Selma, prima de Laura, apresentou o instituto, cujos objetivos são preservar a memória histórica sobre a implantação e desenvolvimento da Internet no Brasil, enfatizando a contribuição de Tadao, resgatar suas ideias e estudos sobre o futuro da Internet e promover o conhecimento como instrumento de transformação social, criando modelos de uma educação holística, que integra tecnologia, saúde, crescimento pessoal e humanístico.
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Programação do FIB12
Realizado de terça (31) a sexta-feira (3), o Fórum da Internet no Brasil contou com uma extensa programação do evento composta por sessões principais e workshops sugeridos pela comunidade brasileira em governança da Internet, reunindo no mesmo espaço representantes de diversos setores, como governamental, empresarial, terceiro setor e comunidade científica e tecnológica. Acesse a playlist do evento e confira na íntegra todos os debates: Link.
Sobre o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR — NIC.br
O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR — NIC.br (Link) é uma entidade civil de direito privado e sem fins de lucro, encarregada da operação do domínio.br, bem como da distribuição de números IP e do registro de Sistemas Autônomos no País. O NIC.br implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br desde 2005, e todos os recursos arrecadados provem de suas atividades que são de natureza eminentemente privada. Conduz ações e projetos que trazem benefícios à infraestrutura da Internet no Brasil. Do NIC.br fazem parte: Registro.br (Link), CERT.br (Link), Ceptro.br (Link), Cetic.br (Link), IX.br (Link) e Ceweb.br (Link), além de projetos como Internetsegura.br (Link) e Portal de Boas Práticas para Internet no Brasil (Link). Abriga ainda o escritório do W3C Chapter São Paulo (Link).
Sobre o Comitê Gestor da Internet no Brasil — CGI.br
O Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável por estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil, coordena e integra todas as iniciativas de serviços Internet no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Com base nos princípios do multissetorialismo e transparência, o CGI.br representa um modelo de governança da Internet democrático, elogiado internacionalmente, em que todos os setores da sociedade são partícipes de forma equânime de suas decisões. Uma de suas formulações são os 10 Princípios para a Governança e Uso da Internet (Link). Mais informações em Link.
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