A "maldição" da cena brasileira de games: Crie sua empresa e a venda no exterior. Por Pedro Zambarda - Drops de Jogos

A “maldição” da cena brasileira de games: Crie sua empresa e a venda no exterior. Por Pedro Zambarda

Isso dá certo? Para alguns empreendedores, sim. E para o país?

Brasil e a Finlândia. Foto: Wikimedia Commons

Brasil e a Finlândia. Foto: Wikimedia Commons

Por Pedro Zambarda, editor-chefe do Drops de Jogos.

Eu já fiz anteriormente muitas críticas públicas ao BIG Festival. Gosto do evento, me preocupo com o evento e com o cenário. Hoje foi anunciado que o BIG foi incorporado à Gamescom Latin America. Segundo as pessoas diretamente envolvidas no negócio, foi o governo Tarcísio de Freitas, de São Paulo, que conduziu a negociação por sua Secretaria de Economia Criativa.

O acordo sai depois da viagem da ABRAGAMES à Gamescom 2023 na Alemanha.

Por isso, eu decidi escrever um texto sobre o tema. Mas eu não vou abordar nem Gamescom e nem BIG. Vou falar de uma viagem que fiz à Finlândia em 2012. Meu irmão mais novo tinha ido morar na Finlândia pelo programa do governo Dilma Ciências sem Fronteiras.

Em primeiro lugar: Se você cria a sua empresa para que ela seja comprada por uma multinacional no exterior, no caso o maior evento de público, você não está errado por querer vendê-la. Negócios são negócios. Mas devo lembrar sempre: A Ubisoft comprou a Southlogic Studios em 2009, de Porto Alegre, e acabou com o estúdio. Recentemente a Aquiris foi adquirida pela gigante Epic e tornou-se Epic Games Brasil.

Agora a mesma coisa acontece com o maior evento de jogos independentes brasileiros.

Em 2012 eu estive na capital Helsinque e visitei duas cidades no interior do país. Como sou conhecido como uma pessoa abertamente de esquerda, adianto: Finlandeses odeiam, de modo geral, a herança soviética no país. Fala-se russo, algumas das principais cidades da Rússia estão distantes a uma hora de voo comercial e o país sofreu com invasões e ocupações de grandes potências europeias. Na Segunda Guerra Mundial pelas mãos da Alemanha nazista e, no período posterior, da URSS.

Por isso, desde os anos 1980, a Finlândia se vende como um paraíso globalizado, mas com um sistema econômico e político que tem uma contradição interna. O Estado é forte, e cobra muitos impostos, disponibilizando uma educação gratuita desde tutores na infância para os seus cidadãos – até o nível universitário. E a pesquisa de tecnologia tirou eles da exportação de madeira e peixes para criar gigantes de games como a Rovio, fundada em 2003 e comprada pela SEGA em 2023.

Não estamos falando de um país de economia fechada das grandes potências. Além de categorizada como liberal e também como social-democrata, a economia finlandesa existe com níveis de exportações acima de 40% enquanto as importações consomem um terço do PIB. Os dados são do Banco Mundial.

Muito dessa economia dependente do capital externo acontece porque é um país com temperaturas inóspitas e que depende de suprimentos internacionais para manter a sua infraestrutura.

Recentemente representantes deles estiveram no Brasil, no BIG Festival, e uma comitiva visitou o país posteriormente.

No entanto, mesmo vendendo muitas das suas grandes empresas no exterior, um caso finlandês é notável.

Quem conta essa história é o site The Next Web. Sobre outra marca, além da Rovio, que é motivo de orgulho dos finlandeses: A Nokia.

Primeiro, importante lembrar: A história da Nokia não começa nos celulares. Ela é uma empresa criada em 1865 que chegou a trabalhar com geração de eletricidade. Ela é motivo de orgulho, por exemplo, como a Nintendo é para o Estado japonês.

Nos anos 1970, a companhia desenvolveu computadores. Foi em 1990 que ela passou a disputar o mercado de celulares com a Motorola. E é nela que existe uma história de fracasso na ideia de se criar uma empresa nacional e vendê-la para uma gigante americana.

A Microsoft comprou a divisão de Dispositivos e Serviços da Nokia em 2013, passando a deter todos os smartphones da companhia finlandesa. A empresa criada por Bill Gates controlou essa divisão em abril do ano seguinte, 2014. O acordo foi de US$ 7,2 bilhões.

E foi um desastre.

Steve Ballmer, então CEO, enviou uma carta a seus funcionários informando sobre, também até aquele momento, uma promissora nova fase na vida da empresa. Um ano depois de passar a controlar a Nokia, em julho de 2015, a Microsoft anunciou que abandonou esse mesmo acordo.

Isso resultou no corte de 7800 funcionários da finlandesa. E uma das razões era que Ballmer saiu do principal cargo de gestão. Com a entrada da Satya Nadella, o hoje presidente, alguns cortes foram prometidos em “áreas que não estavam funcionando”.

Os cortes não pararam. No ano de 2016, a Microsoft anunciou a demissão de 1850 funcionários ligados à divisão de hardware para celulares, dos quais 1350 eram localizados na Finlândia e outros 500 globalmente.

Mesmo com mais de 10 mil demitidos, Nokia permaneceu mercado de smartphones, deixando de lado o Windows Phone de sua linha de produção.

Por que contamos essa história?

O Brasil, e não é de hoje, é um espaço para crescimento de marcas globais. O maior site de notícias de games brasileiro é o IGN Brasil, cuja a sede é americana. Anteriormente, Kotaku e GameSpot abriram filiais brasileiras. No entanto, elas não duraram enquanto produtos editoriais – especialmente com a crise no mercado de jornalismo. Eventos internacionais de música também crescem no país e é natural que a Gamescom, por meio de um acordo com entidades locais, esteja interessada no nosso mercado gamer. O Brasil foi o destaque da edição de 2023.

No entanto, e eu me lembro bem dessa imagem na viagem de 2012, num frio de primavera em novembro com menos 17 graus, que haviam decorações da Rovio em lojas. A Nokia era descrita por um taxista como um orgulho nacional.

Isso acontece com as nossas empresas brasileiras? Ou estamos criando-as apenas para que um gigante vá lá e compre?

Dá certo?

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Zemanfua

Comunistas deveriam ser proibidos de jogar videogame.