O compositor, produtor e pioneiro da música eletrônica, Ryuichi Sakamoto, faleceu aos 71 anos no dia 28 de março de 2023. Ele enfrentava um tratamento contra um câncer em estágio avançado. Em 2017, ele fez uma apresentação na Japan House, na Avenida Paulista. Infelizmente não pude vê-lo.
Sakamoto marcou minha vida não só pelo filme que fez com David Bowie, Merry Christmas Mr. Lawrence, mas por toda a sua discografia. Foi a trilha sonora do começo da minha vida adulta.
Considerado o “avô da música eletrônica” nos anos 1970, ele fez parte da Yellow Magic Orchestra e seguiu em carreira solo. Formado pela Tokyo National University of Fine Arts and Music, Sakamoto explodiu de verdade quando se dedicou a fazer trilhas para o cinema.
Estreou nas telonas em 1983, no filme “Furyo: Em Nome da Honra” de Nagisa Oshima. No longa, ele vivia o antagonista, o capitão Yonoi, que buscava informações dos prisioneiros de guerra, entre eles um vivido por David Bowie, em uma prisão japonesa da Segunda Guerra Mundial. A produção retratou os campos de concentração japoneses e mostrava uma relação praticamente homossexual entre Yonoi e Jack Celliers, interpretado por Bowie. Rendeu um BAFTA e a música já clássica Merry Christmas Mr. Lawrence. Tom Conti interpretava o coronel John Lawrence.
Ryuichi Sakamoto se consagrou no cinema com Bernardo Bertolucci na trilha sonora de “O Último Imperador”, trabalhando com David Byrne e ganhando Oscar. Ele também fez as composições de “O Céu que nos Protege”, de 1990, e “O Pequeno Buda”, de 1993. Ainda fez parte do júri do Festival de Veneza de 2013, presidido por Bertolucci na época.
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Ele se tornaria um nome muito solicitado na indústria durante a década de 1990. Entre outros trabalhos, Sakamoto foi responsável pela música de “De Salto Alto”, dirigido por Pedro Almodóvar em 1991; a adaptação de “O Morro dos Ventos Uivantes” de 1992, com Juliette Binoche e Ralph Fiennes; e de “Tabu”, de 1999, o último filme dirigido por Nagisa Oshima, lembra o caderno da Ilustrada da Folha de S.Paulo.
Brian De Palma foi outro diretor marcante na carreira de Sakamoto. Fez dois projetos com ele, nos filmes “Olhos de Serpente”, de 1998, e “Femme Fatale”, de 2002. Embora tenham sido mal recebidos na época do lançamento, ambos são considerados produções cult hoje.
A música minimalista de Sakamoto aparece também na refilmagem de “Hara-kiri”, de 2011, e “O Regresso” (interpretado por Leonardo DiCaprio), de 2015. Mesmo com o câncer, ele continuou produzindo. No cinema, seus últimos trabalhos foram nos filmes “Love After Love”, de 2020, e “Beckett”, de 2021, além do inédito “Monster”, novo longa-metragem de Hirokazu Kore-eda.
Sua dedicação na doença rendeu um documentário sobre sua pessoa, “Coda”, em 2017.
Sakamoto lançou o último álbum, “12”, em janeiro deste ano. A obra, feitas apenas de faixas com títulos numéricos, foi elogiada por suas composições, que no uso experimental de sintetizadores mostram um artista consciente de seus últimos passos.
O compositor japonês, nascido em Tóquio, teve três casamentos durante a vida, incluindo a pianista e vocalista Akiko Yano, com quem esteve relacionado oficialmente entre 1982 e 2006. Mas ele manteve um relacionamento amoroso com a agente, Norika Sora, desde 1990, e dois anos antes havia decidido viver separado de Yano, e conviveu com ela até a morte. Junto da esposa Sora, Sakamoto deixa quatro filhos.
Ryuichi Sakamoto foi um conhecido militante anti-armamento nuclear, membro da Stop Rokkasho, e também se opunha a nova militarização do Japão, que avançou no mandato do ex-premiê Shinzo Abe, alinhado com as políticas estadunidenses de Barack Obama.
A Folha de S.Paulo lembra que Ryuichi Sakamoto tinha grande admiração pelo Brasil e por Tom Jobim. Ele veio ao país em 1995, quando fez um show com Caetano Veloso de homenagem ao fundador da bossa nova, repetindo a dose depois com Gilberto Gil.
Lançou em 2001 o disco “Casa”, feito com o casal de músicos Jaques e Paula Morelenbaum, gravado no antigo lar de Jobim e que celebrava a bossa nova. O álbum acabou na lista de melhores do ano do New York Times.
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