Por Pedro Zambarda, editor-chefe do Drops de Jogos
O caso da suspensão do GamerAntifa continua rendendo justamente pelo silêncio das partes – no caso, do Twitter e do streamer Gaules, um dos maiores do Brasil e um dos maiores do mundo na Twitch.
Vamos recapitular como tudo ocorreu:
Advogado Anderson, conhecido como GamerAntifa no Twitter, foi censurado no dia 19 de março de 2021. A censura completou quatro meses. Antifa foi suspenso porque criticou o streamer Alexandre Borba, o Gaules, da Twitch, sobre uma fala preconceituosa dele sobre o Movimento Sem Terra (MST). Fãs do streamer e militantes de direita denunciaram em massa a conta. O Twitter tirou do ar e não levou em consideração a liberdade de expressão e de crítica.
Isso você já sabe e o Drops de Jogos está cobrindo.
Mas vamos apontar alguns detalhes curiosos da história.
No dia 23 de abril de 2021, o TechTudo, da Globo, publica o único texto que pode ser considerado crítico ao streamer Gaules da empresa. O post cita casos de “cancelamentos” nos eSports e afirma o seguinte:
“Em uma live em 2019, O streamer afirmou que o MST só é bonito quando os ‘vagabundos’ invadem as residências dos outros, e questionou aos defensores ‘quantos sem teto você tem aí na sua casa?’. Além disso, o jogador assegurou que pobre brasileiro não tem saúde, saneamento básico e educação, mas tem ‘tudo que o capitalismo tem para dar’ , como televisão, micro-ondas, Internet a cabo e smartphone. Para completar, Gaules afirmou que ‘bandido bom é bandido morto’. As falas foram proferidas em uma live em 2019 e relembradas em março de 2021 em um tweet do ‘GamerAntifa’, que teve a conta suspensa. O streamer não se desculpou, nem demonstrou arrependimento, mas declarou ter consciência de que já falou muitas coisas erradas e tenta melhorar ‘todos os dias com ações'”.
Seis dias depois, em 29 de abril, o Globo Esporte publica um texto inacreditável pelo teor bajulatório em torno do streamer da Twitch com o título “Gaules no Gaulesverso“.
E traz a seguinte chamada: “Como o streamer mais popular do país se tornou mais humano, foi assistido por mais de 20 milhões de brasileiros e lançou sua própria legião de heróis improváveis”.
Trata seu personagem como uma “história de superação”, sem nenhum contraponto. Basta ler mais um trecho:
“A história de Alexandre ‘Gaules’ é de superação, mas você provavelmente já a leu, viu e ouviu uma dezenas de vezes. Os relatos de sua trajetória têm dominado a internet desde que o ex-jogador/treinador/dono de time/organizador de campeonatos explodiu com as transmissões de Counter-Strike: Global Offensive em 2018. Mas o que mudou daquele cara no quarto que conquistou um público, uma Tribo, para o colosso que acumula recordes de audiência, prêmios e é uma verdadeira empresa ambulante? Visto por muitos como um super-herói, ele se sente mais humano”.
Estranho? Calma que tem mais coisas.
Vamos voltar para um ano atrás.
Em 5 de agosto de 2020, Globo anuncia parceria com Gaules e Omelete no ESL Pro Tour. O anúncio foi publicado pelo mesmo Globo Esporte.
Há um site oficial da parceria. Você pode visitar aqui.
O texto da parceria traz o mesmo tom triunfal da matéria do Globo Esporte. E diz o seguinte:
“Com 378 milhões de minutos assistidos só no mês de fevereiro de 2020, o maior streamer de FPS do planeta agora faz parte do time Omelete Company. E, além de fazer análises, gameplays e transmissões ao vivo, Alexandre Gaules também vai trazer com exclusividade a Premier Blaster Series de CS:GO para o seu canal. Em uma parceria histórica, o Omelete, a Globo e o Gaules se juntaram para trazer um dos maiores campeonatos de eSports do mundo para o Brasil: o ESL Pro Tour de CS:GO. A chegada do Gaules.TV reforça a estratégia da companhia em se tornar uma marca multiplataformas e sinônimo no cenário de eSports”.
O “maior streamer de jogos de tiro do planeta”. Isso mesmo.
Isso talvez explique a cobertura tão tímida da Globo no caso GamerAntifa e, em abril, um texto totalmente elogioso sobre o streamer.
Gaules só foi se manifestar, de forma direta, através de sua assessoria, para uma reportagem da Folha de S.Paulo em 18 de julho de 2021.
A assessoria fala. Não o streamer.
O site The Enemy, que cobre games, eSports e é um dos maiores do Brasil, não aborda o assunto. O motivo? The Enemy é um site do Grupo Omelete, o mesmo que tem parceria com Gaules.
Há um ano.
Os fatos elencados nessa análise podem não ter uma relação direta, mas ajudam a elucidar algumas das possíveis razões para o silêncio das empresas envolvidas no caso.
E não há um problema, em si, de ser um grande streamer e ter parcerias com o Omelete e a Globo.
Mas não vale, por parte dessas empresas, fazer jornalismo no caso do Gaules? Jornalismo crítico?
Os envolvidos elencados neste texto podem responder. O espaço está aberto para manifestação de todas as partes. E sempre esteve.
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