Cultura

“Câncer não é sentença de morte”: Monique Alves diz como superou a doença e segue trabalhando com streaming de games

Por Pedro Zambarda, editor-chefe do Drops de Jogos.

Importante ser transparente com o leitor. Desde fevereiro de 2017, Monique Alves do site Resident Evil Database é parceira nos programas NewsGames da Rádio Geek. Monique já apresentou, fez cobertura exclusiva da Brasil Game Show (BGS), trouxe entrevistas com dubladores de Resident Evil e hoje cuida dos roteiros do programa. Nós trabalhamos juntos há anos.

Monique, que teve uma passagem pelo curso de Letras, é dona da maior comunidade de fãs de Resident Evil, o maior jogo de terror do mundo, nas redes sociais do Brasil. Meio milhão no Facebook. Mais de 100 mil no YouTube. Milhares de seguidores no Instagram e no Twitter da Moni. E um trabalho de streaming reconhecido pela Capcom, a empresa responsável pela franquia de jogos Resident Evil.

Ela joga os games desde 1997, passou a produzir conteúdo em meados de 2000 e criou o site Database em 2010. Têm décadas de trabalho no setor.

Também é autora do canal The Last of Us Database com a ilustradora e artista Alice Monstrinho.

Uma notícia foi dura para Moni no dia 27 de junho de 2022. A streamer foi diagnosticada com câncer de mama naquele dia. Escreveu uma carta aberta [em 2 de julho] para sua comunidade digital e travou uma batalha de pelo menos oito meses contra a doença.

Com exclusividade, Monique concedeu uma entrevista ao Drops de Jogos sobre o assunto.

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Monique Alves, do Resident Evil Database, venceu um câncer. Foto: Divulgação

Drops de Jogos: Como foi o momento da descoberta do câncer? 

Monique Alves: Foi um momento bem conturbado, porque minha mãe havia recém-descoberto metástases do câncer também. Ela descobriu um câncer de mama localmente avançado em 2017 e tratava desde então. Inclusive, o câncer que eu tive foi do tipo genético, a mesma mutação que a atriz Angelina Jolie tem, chamada BRCA1.

É claro que a gente tem medo pela gente, mas como eu descobri cedo, por incrível que pareça, o que foi mais difícil pra mim foi pensar em como contar a ela do meu diagnóstico.

No fim, não deu tempo e ela faleceu sem saber.

Eu acho que foi até melhor assim.

DJ: Você fez um comunicado inicial sobre ter câncer de mama. Como foram os apoios que você recebeu?

MA: Foram incríveis! Eu não imaginava que era tão querida pela comunidade de Resident Evil e até pela comunidade gamer. Me senti absurdamente acolhida! É claro que nem todo mundo tem o tato e a sensibilidade para lidar com isso, então infelizmente eu li alguns comentários bem sem noção, mas foi a minoria da minoria.

Recebi tanta força, tanto apoio e as pessoas foram tão pacientes comigo, por não conseguir entregar conteúdo como deveria… Eu me sentia péssima por isso, ainda mais por causa do hype pelo Remake de Resident Evil 4, mas o pessoal segurou demais na minha mão, falavam que a prioridade era meu bem-estar.

E que sempre estariam ali quando eu conseguisse finalmente lançar conteúdo. Não tenho nem palavras para agradecer e descrever o quanto eu sou grata.

Monique produz conteúdo para a maior comunidade de Resident Evil do Brasil. Foto: Divulgação/Twitter

DJ: Quais foram as piores coisas que você ouviu? 

MA: Como eu disse, vi alguns comentários de uma parcela tão pequena que nem esquentei muito a cabeça. Me incomodou muito pouco, até porque nada te abala tanto depois que você sofre os efeitos colaterais de uma quimioterapia [risos].

O que mais me chateava, na verdade, eram comentários do tipo “o que você fez com seu cabelo?”, “o que aconteceu com seu cabelo”, quando decidi finalmente assumir a careca.

Peruca incomoda, ainda mais em dias quentes.

DJ: Quais foram as principais dificuldades no tratamento? Foi a quimioterapia?

MA: A quimioterapia certamente foi a pior parte, porque ela bagunça demais o nosso organismo, ao mesmo tempo em que também é nossa cura.

Os últimos meses de quimioterapias foram os piores, porque eram as mais fortes, mas eu criava forças porque sabia que estava quase lá.

Me distraí muito jogando altos RPGs [risos]!

DJ: Como foi organizar as lives, as transmissões online, lidando com essa doença? 

MA: Eu me mantive ativa o tempo todo, isso ajuda a distrair e faz o tempo passar mais rápido. Eu só não fazia as lives quando estava com muito efeito colateral das quimios, principalmente nas últimas.

Não consegui manter a mesma frequência, mas acho que me saí bem. Considerando todo o processo.

DJ: Quem foi quem mais te ajudou nesse período difícil? O Matheus?

MA: Com certeza o Matheus, meu marido. Ele foi um herói! Até banho teve que me dar nos primeiros dias pós-cirurgia, porque não podia e nem conseguia mexer muito meus braços.

É um ser humano incrível.

DJ: Você teve medo de não conseguir voltar a trabalhar normalmente?

MA: Tive, ainda tenho um pouco, porque ainda estou no pós-operatório da mastectomia bilateral, que é a retirada das duas mamas e reconstrução imediata com próteses.

Mas estou fazendo o que posso, no meu tempo.

A criação de conteúdo depende muito da gente, e depende não só fisicamente, mas psicologicamente também. Quando o seu lado criativo fica afetado pelo lado físico, é complicado. Mas tenho conseguido contornar bem essa situação.

DJ: Os médicos orientaram bem sobre como você poderia ou não trabalhar ao longo do tratamento?

MA: Apesar de algumas restrições, mais alimentares, na verdade, eles diziam que eu podia seguir trabalhando, mas sabendo respeitar os meus próprios limites.

DJ: Você lidou, principalmente no começo do tratamento, com a perda da sua mãe. Foi amparada pela família?

MA: Fui muito amparada, felizmente. E pode até parecer loucura, mas um diagnóstico de câncer parece que transforma a gente em uma rocha, eu pelo menos me senti assim e ouvi de outros pacientes o mesmo.

O diagnóstico me ajudou a lidar melhor com o luto e não sei explicar exatamente… E aí passou a ser uma luta não só por mim, mas por ela também.

Monique dá detalhes do seu tratamento ao Drops de Jogos. Foto: Divulgação/Twitter

DJ: Agora que você está curada do câncer, quais são os seus próximos passos como streamer?

MA: Primeiro, quero retomar o meu ritmo de trabalho. E futuramente, quero fazer lives no Outubro Rosa, principalmente, sobre conscientização do diagnóstico precoce e de como se prevenir do câncer.

DJ: Teve algo que eu não perguntei e você gostaria de acrescentar?

MA: Só queria dizer que câncer não é sentença de morte. Já foi, hoje não é mais. Justamente porque hoje se descobre mais cedo, se previne muito mais também.

A ciência tem oferecido tratamentos cada vez mais individualizados, mas o diagnóstico precoce é muito importante, então faça a sua parte e, a qualquer sinal de mudança em seu corpo.

Vá ao médico e faça exames com frequência.

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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