O programa eFront, da TV Fronteira, afiliada da Rede Globo, fez uma importante reportagem em 12 de dezembro de 2020. Apresentado pela jornalista Claudia Carla, o programa entrevistou especialistas que mostram que precisamos falar mais sobre acessibilidade para consoles.
A atração televisiva conta a história de Gabriel Poli, fã do PlayStation que é deficiente visual e enfrenta problemas com a marca no Brasil. Poli relata que as versões nacionais dos aparelhos da Sony não têm leitor de tela em português, um recurso para ajudar jogadores cegos ou com pouca visão a ouvir os textos que estão dispostos na tela.
O portal Voxel procurou a assessoria brasileira da Sony para cobrar uma posição. Em resposta, a representante da marca no Brasil enviou links para as ferramentas de acessibilidade do PS5 e o reconhecimento de que não há um leitor de tela em português. Ele está em inglês (US e UK): japonês, alemão, italiano, francês (da França e do Canadá) e espanhol (da Espanha e da América Latina).
Nos EUA, a Sony mais preocupada com a questão e tem até um site sobre o tema. A página da SIE relembra que no PS4 é possível converter texto em áudio, inverter as cores e customizar o mapeamento dos botões, mas enaltece especialmente os recursos do PS5. É possível ditar no PlayStation 5, de acordo com o Voxel, com a voz em vez de usar o teclado virtual e até transformar mensagens de texto em áudio para os membros da party. Curiosamente, o leitor de tela também é mencionado como um recurso com “suporte a diversos idiomas ao redor do planeta”, mas o português brasileiro continua não sendo uma opção, a despeito de nossa cobrança.
E não há conversor de texto em áudio em português do Brasil (PT-BR).
Falta de acessibilidade que é contraditória (até na lei)
Para quem não lembra, The Last of Us Part 2 foi premiado no The Game Awards 2020 não apenas como melhor jogo do ano.
Ele foi reconhecido por inovação em acessibilidade graças às mais de 60 opções disponíveis. Esse reconhecimento o transformou no jogo AAA que é referência para jogadores com deficiências. Para além das contradições dentro da indústria, os jogadores são obrigados a apelar para modificações nos aparelhos que podem comprometer seu uso.
De acordo com o advogado especialista em Direito ao Consumidor, Marco Antonio Araújo Júnior, esse tipo de modificação no sistema original pode fazer o consumidor perder a garantia legal do produto. A Lei n. 13.416, de 6 de julho de 2015, do segundo governo Dilma, aponta que existe a inclusão de PCD na cultura e no lazer.
As marcas, no entanto, não estão bem adaptadas para as necessidades legais que já existem no Brasil, embora elas sejam incentivadas pelo Código de Defesa do Consumidor, de acordo com o especialista. Marcas ficam temerosas de instalar softwares e periféricos externos em seus aparelhos porque a iniciativa pode ser considerada pirataria. O caso da própria PlayStation mostra que sequer a língua portuguesa está disponibilizada para uso de deficientes.
Mas há exceções.
O controle adaptativo do Xbox foi eleito pela revista TIME como uma das melhores invenções recentes. O periférico chegou a ser prometido para o mercado brasileiro em um comunicado oficial, mas não foi lançado em nosso país. A Microsoft alega problemas de alta demanda no resto do planeta.
A gigante de tecnologia afirmou ao Voxel que o Xbox Series X e o Xbox Series S apresentam indicadores táteis nas portas para apoiar as pessoas cegas e para ajudar com o cabeamento de alcance. O Xbox também oferece uma variedade de recursos de acessibilidade, incluindo Copilot, Magnifier, Narrator, aprimoramento de vibração, Game Chat Transcription, compatibilidade com o Xbox Adaptive Controller e mais para ajudar os jogadores a criar, competir, conectar e se divertir de maneiras que atendam às suas necessidades. Tais recursos estarão disponíveis com o Xbox Series X e Xbox Series S.
Isso piora no caso da Nintendo. No site da AbleGamers.org, organização criada em 2004 para ajudar mais de 46 milhões de jogadores com deficiência a se divertirem, o jornalista Josh Ziri fez uma análise dos recursos de acessibilidade do Nintendo Switch e os resultados não são animadores.
Entre os sistemas da nova e da antiga geração, o console híbrido é o que tem menos recursos de acessibilidade, atrás de Microsoft e da Sony. Não há recursos, simplesmente. “O mais perto que chegamos disso é na capacidade de mudar o tema de fundo do console entre branco e preto, o que pode ajudar a vista jogando no escuro, além de tornar parte do texto mais legível […]. Depois de ver outras companhias indo tão longe na implementação de recursos de acessibilidade, é decepcionante, para dizer o mínimo, ver a Nintendo ignorar isso completamente”, disse o autor do texto, definindo o Switch como o pior console em opções de acessibilidade.
Nintendo não ofereceu uma resposta até a data da publicação do texto do portal Voxel em 12 de janeiro.
Iniciativas no Brasil
Desde 2017 ocorre em nosso país um evento anual de arrecadação de fundos para ajudar gamers com deficiência. No ano passado a própria AbleGamers passou a atuar oficialmente em nosso território com direito a site e conta no Twitter.
A representante da organização no Brasil chama-se Chrizeba. Ela apresenta jogadores como a Esquerdinha Games. Ele sofreu um acidente e ficou com boa parte do corpo paralisado.
Mesmo assim, produz conteúdo e gameplay com apenas uma mão.
André Nerdsurdo, fundador da Liga dos Surdos, perdeu boa parte da audição e formou um grupo de jogadores com deficiência auditiva. Você pode conferir o trabalho dele em https://www.twitch.tv/nerdsurdo.
Para mais detalhes sobre todas essas informações, recomendamos que você assista a reportagem do eFront, da TV Fronteira. Um teaser no Instagram sobre a matéria está aqui, também.
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