Este texto demorou um bocado para sair. Mas aqui está.
Marcos Silva, game designer da Sue The Real, deu uma longa entrevista em maio de 2020 ao Drops de Jogos. Com seu tom crítico sobre a cena brasileira de games, ele não hesitou em chamar a área dos desenvolvedores de “majoritariamente branca”.
“Toda vez que nos reafirmamos da forma que somos, enquanto pessoas negras e periféricas, fora dos espaços de privilégio, isso de alguma forma gera uma cutucada. E nem é uma cutucada ativa. Somos nós definindo quem somos. É uma cutucada porque há um outro lado que se incomoda com isso. Se fosse natural, a gente não estaria cutucando. Isso, no final, diz muito sobre o que é a nossa indústria. Mostra como ela está organizada e de como esses espaços não fazem uma reflexão de como é essa organização de desenvolvedores. Como de fato está esse ecossistema? Quando aparece alguém que tenta fazer uma manutenção disso, é questionado”.
“Falta um senso crítico em toda a cadeia de produção da economia criativa”.
“A gente sabe como é a nossa indústria. Ela tem pouco investimento, pouca estrutura para se manter e há ainda assim uma relação falsa de que ‘se eu estou fazendo jogos, é por paixão’. Não. Não é assim. Você está fazendo jogos, muitas vezes, com o privilégio que você tem. Você está fazendo com o dinheiro dos seus pais e muitas vezes você sequer se questiona”.
“Antes de ser pobre, existem outros atravessamentos que nos definem. Posso ser uma pessoa negra e pobre. Posso ser uma pessoa branca e pobre. Posso ser uma pessoa amarela e pobre. Isso vai definir sim, de alguma forma, a leitura social e as outras subjetividades. Vou citar o exemplo das pessoas amarelas, que descendem de asiáticos. É interessante notar como existe um perfil social e um estereótipo, às vezes muito errado, de que eles são pessoas ricas. Ou muito inteligentes. Tem toda uma construção social que muitas vezes coloca essas pessoas em uma outra leitura da condição econômica dela”.
Para além de suas críticas muito bem construídas, e diretas, Marcos é um dos desenvolvedores responsáveis por questionar como desenvolvedores brancos se apropriam de narrativas que deveriam ser mais contadas pelos próprios negros. E como eles não questionam o seu próprio lugar de privilégio.
Ele está desenvolvendo One Bit Min com Raquel Motta, Para além do seu trabalho de criação, ele faz lives na Twitch jogando games como Valorant e explica aspectos de game design de uma maneira acessível.
Marcos é o terceiro dev negro que reconhecemos em nosso mapeamento do cenário, o que demonstra que ainda a visão de muitos é branca é privilegiada.
Por todas essas razões, Marcos Silva é o nosso desenvolvedor de games brasileiro do ano passado.
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