Cobra Kai é a melhor adaptação live-action de qualquer anime - Drops de Jogos

Cobra Kai é a melhor adaptação live-action de qualquer anime

Novelinha de karatê na Netflix faz sucesso porque não tenta provar que é algo maior do que é.

A Copa do Mundo em Cobra Kai. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

A Copa do Mundo em Cobra Kai. Foto: Divulgação/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Fazer uma resenha, crítica ou review de uma série como Cobra Kai é uma tarefa um tanto ingrata. Isto porque, não importa o quão importante é o texto que você tem na cabeça, não dá pra ignorar o fato de que é uma série que já está na sexta temporada.

Na prática, isso quer dizer que meio que já não importa se a série é boa ou ruim. Se você é um fã e já acompanha ela desde a primeira temporada, você vai assistir os episódios que saíram semana passada. Não importa se eles são bons ou ruins, você vai assistir.

Do mesmo jeito, se você ainda não começou a série ainda, você não vai assistir os episódios que chegaram na Netflix no dia 13. Não importa se eu vier aqui e me derreter na melhor prosa que você já leu na sua vida, você não vai assistir. Você pode se enganar falando que vai, mas seja franco comigo e com você mesmo – você não vai assistir. Você teve seis anos pra começar a assistir essa série, e não vai ser agora, nos cinco últimos episódios, que você vai finalmente dar play nela.

Por isso, não quero falar aqui se a série é boa ou não, se você deve assistir ou não. Porque não importa o que eu escreva aqui, você já tem uma opinião sobre ela a essa altura do campeonato.

O que eu quero fazer aqui é algo mais interessante: trazer um questionamento que vai te mudar a forma de enxergar Cobra Kai. Não importa se você já assistiu todos os episódios ou nenhum deles. Também pouco importa se você ama a série ou não aguenta mais ouvir falar dela. Em apenas uma única frase eu vou explodir sua cabeça. Aí vai:

Cobra Kai é o melhor anime em live-action já produzido.

Cobra Kai: Season 6 Part 3 | Final Trailer | Netflix

Uma defesa de Cobra Kai como anime

Existe uma longa tradição de tentar fazer adaptações em live action (com atores reais) de animes. Algumas são excelentes, como os filmes de Samurai X. Outras são boazinhas, como a série de One Piece. Mas a maioria são uma atrocidade, um verdadeiro pecado contra a obra original, os fãs delas e a qualquer pessoa que tentou assistir à adaptação (Dragon Ball Evolution, Os Cavaleiros do Zodíaco Saint Seiya – O Começo, Cowboy Bebop da Netflix, e uma lista infinita que se eu for escrever tudo vai dar uma página inteira – pelo menos).

Mas Cobra Kai não é uma adaptação de um anime específico. É mais que isso: é a prova de que qualquer adaptação de anime não precisa tentar deixar de ser o que é para agradar o público que está acostumado a Hollywood.

Por exemplo, imagine um personagem que se considera o lutador mais forte de toda uma região, uma realeza das artes marciais. Mas que, um dia, acaba perdendo pra um desconhecido. A vida dele entra em parafuso e, quando ele percebe, tem que engolir o próprio orgulho e se juntar ao cara que destruiu a vida dele para derrotar uma ameaça ainda mais perigosa. E, ao fazer isso, ele descobre que os dois tem mais coisas em comuns do que imaginam, e o sentimento de rivalidade acaba se tornando admiração mútua e amor fraterno.

Eu poderia estar falando do arco do Vegeta em Dragon Ball Z, mas estou narrando é o arco de Johnny Lawrence em Karate Kid e Cobra Kai.

(Imagem: montagem Rafael Silva/Drops de Jogos)

Ou então, podemos pegar a história daquele personagem que é visto como um valentão violento que todo mundo odeia, mas que tudo não passa de uma máscara. Essa pessoa usa da violência para esconder um sentimento de não pertencimento e insegurança que sente por conta de uma vida familiar fodida. Mas, ao encontrar pessoas que não aceitam ser rejeitadas por conta de circunstâncias que estranhamente sempre envolve algum torneio de artes marciais, essa personagem se revela como ótima amiga, companheira leal e uma pessoa que merece a admiração de todos pela forma como conseguiu superar problemas que teriam derrubado qualquer ser humano.

Aqui eu poderia estar falando do Yusuke Urameshi de Yu-Yu Hakusho, mas eu estou contando o arco da Tori Nichols em Cobra Kai.

(Imagem: montagem Rafael Silva/Drops de Jogos)

E essa lógica continua sendo verdade para literalmente qualquer arco de Cobra Kai. Kreese pode ser lido como o Almirante de One Piece, uma figura que é ao mesmo tempo o pior inimigo e a força de superação do protagonista de Cobra Kai. O vilão Silver é praticamente o mesmo arco de Shishio em Samurai X, onde os protagonistas não sabem o que fazer para enfrentar um vilão que não almeja a nada além de transformar em cinzas todas as ambições e sonhos dos heróis.

Isso tudo sem contar a enorme quantidade de arcos do tipo “personagem que era um nerd deprimido e sem auto-estima se torna o melhor lutador que você já viu na vida, pega uma gostosa e consegue realizar todos os sonhos” porque Cobra Kai deve ter uma meia dúzia de personagens que entram nesse estereótipo.

Que Cobra Kai seja uma lição para Hollywood e para a Netflix

Se formos pensar nas versões live action de anime pavorosas que existem por aí (e não são poucas!) existe um elemento comum a praticamente todas: uma tentativa falha de mostrar que são “mais” do que um anime.

Isto porque, infelizmente, estamos em pleno 2025 e a palavra “anime” ainda tem uma conotação negativa na cabeça de muita gente – principalmente entre direitores e executivos de estúdios.

Assim como acontecia com “videogames” a alguns anos atrás, “anime” é visto como um tipo de arte menor. E, por isso, não vale a pena ser levada “a sério”. Animes não são vistos como um estilo a se basear, mas um nome reconhecido que tem uma base de fãs, algo que os estúdios podem se aproveitar apenas do nome em si para ganhar dinheiro entregando as piores obras possíveis.

Mas, assim como os videogames estão finalmente ganhando espaço e sendo levados a sério, a mesma coisa pode acontecer com os animes. Michael B. Jordan foi bem franco ao falar que se inspirou em animes para dirigir as sequências de luta de Creed III, e todas as críticas apontam que essas eram de longe a melhor parte do filme.

E Cobra Kai pode ser mais um passo nessa aceitação. A série deixa claro que não tem porque os produtores ocidentais tentarem transformar os animes em outra coisa. O público não apenas está pronto para aceitar narrativas clássicas de anime em formato live action – ele está sedento por isso.

E a única coisa que impede os estúdios daqui de ter sucesso é a burrice de continuar acreditando que animes são um formato menor e insistir no erro de tentar “ocidentalizar” essas histórias.

Como Cobra Kai provou em suas seis temporadas, não tem muito segredo e não precisa nem de muito investimento. É só colocar meia dúzia de adolescentes descobrindo quem são enquanto participam de torneios de artes marciais para salvar o mundo e você terá um hit nas mãos.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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