Por Pedro Zambarda, editor-chefe do Drops de Jogos
Um adolescente de 13 anos matou a tiros a mãe e o irmão mais novo, de 7, depois de uma suposta discussão sobre notas baixas que o jovem estaria levando na escola. Esse caso aconteceu na casa da família em 19 de março de 2022, um sábado, em Patos, na Paraíba.
O pai do menino também foi atingido, mas foi socorrido a um hospital da região e sobreviveu. A arma de fogo usada pelo jovem pertence ao pai, que é policial militar reformado. O nome dele é Benedito da Silva Araújo, sargento de 56 anos.
O programa Domingo Espetacular, da TV Record, faz uma interessante reportagem de 13 minutos sobre o fato. O conteúdo jornalístico é bem apurado e tem relevância – se não cometesse os erros tradicionais da emissora que pertence ao bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal.
Em primeiro lugar, a matéria dedica pelo menos quatro minutos exibindo diferentes jogos de tiro. A alegação, apurada pela polícia e pelas autoridades no caso, é que o rapaz se revoltou com os pais porque não podia jogar games no celular. Corretamente, a Record recorre ao estudo do King’s College sobre vícios em celular.
E censura o jogo exibido. Mas quem acompanhou reportagens do Diário do Nordeste e do UOL sabe qual game é referência na reportagem. O jovem jogava Free Fire no smartphone e teria sido agredido pela falecida mãe.
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Corretamente a reportagem reconstitui o crime, diz que a mãe foi assassinada a queima roupa, que o pai foi baleado e que o irmão mais novo foi assassinado tentando socorrer o sargento reformado da PM. Diz também que o adolescente apresentou falta de emoções segundo o laudo da psicóloga envolvida no caso.
E eis que surge, em seguida, a origem da informação que atribui culpa aos jogos: O depoimento do pai, internado, que culpa as amizades do filho e seu tempo no Free Fire como causas do crime. De que ele não seria um “menino mau”.
Não há discussão sobre a facilidade de acesso às armas da casa ou mesmo uma discussão mais profunda sobre saúde mental envolvendo pais e filhos. Nisso, a Record, como sempre, ficou no discurso mais fácil.
Jogou a culpa nos videogames. Como sempre.
Veja a reportagem e tire suas conclusões.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Meus sentimentos à família. Olha, mesmo em relação às armas de fogo, as pessoas deveriam aprender sobre regras de segurança desde cedo. Não sei se foi o caso – não conheço a família – mas sabemos que muitos pais preferem se omitir a educar seus filhos, como se este fosse um assunto proibido ou ilegal. E quando acontece alguma tragédia, colocam a culpa na arma – não no agressor. Como se a culpa de alguém ser esfaqueado fosse da faca, de alguém ser atropelado fosse do carro. Temos que ter mais espaço para discussões sadias sobre armas de fogo na nossa sociedade; assim espero.