No último dia 27 de março, pela manhã, quatro professoras e um aluno foram esfaqueados dentro da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, Zona Oeste da capital paulista, na hora da chamada. Uma professora de 71 anos morreu no Hospital Universitário da USP. O criminoso é menor de idade.
As características do crime seguem um padrão que é cultivado por extremistas em fóruns da deep web e que percorrem o setor dos games. Mas, ao contrário de outras coberturas, e imprensa não culpou de forma leviana o entretenimento eletrônico e entendeu que as causas que levaram uma criança a cometer o crime envolvem uma organização mais sofisticada na internet.
De raízes políticas.
O educador e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, foi fonte de muitas das reportagens que circularam na imprensa, em veículos como DCM, O Globo e Carta Capital. O especialista não deixa de traçar a correlação que existe com os jogos, mas não faz uma comparação leviana. E isso tem um motivo.
Um relatório encaminhado ao gabinete de transição do governo Lula na área de Educação recomendou estratégias para evitar esses assassinatos. Resta saber quando será implementado.
O documento foi organizado pelo próprio Daniel e um grupo de especialistas. Sugere a formação continuada de professores sobre o extremismo de direita e como enfrentá-lo na web. Há maneiras de identificar alterações de comportamentos nos jovens, como interesse incomum por assuntos violentos e atitudes agressivas, recusa de falar com professoras e gestoras mulheres, uso de expressões discriminatórios e exaltação a ataques em ambientes educacionais ou religiosos.
Filiado ao PSOL, Daniel Cara foi candidato ao Senado, atuou na Campanha Nacional pelo Direito à Educação e trabalhou próximo da ex-prefeita e hoje deputada Luiza Erundina. E segue os fundamentos da pedagogia do educador e filósofo Paulo Freire.
Esse documento formalizado com 12 especialistas foi elaborado após ataques a tiros em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, que deixaram quatro mortos e 13 feridos no final de novembro.
Segundo o levantamento dessa equipe, os atentados começaram na primeira década dos anos 2000 no Brasil e, desde então, foram 16 ocorrências. Quatro apenas no segundo semestre de 2022, com 35 mortos e 72 feridos.
O contexto é da escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e a falta de controle e criminalização desses discursos e prática, fortemente relacionados a gênero e orientação sexual.
Alvos de cooptação desse discurso são majoritariamente brancos e heterossexuais, que têm as mulheres como alvos preferenciais, além de envolver também crimes de racismo e utilização de imagens neonazistas – vinculadas com a extrema direita.
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Daniel Cara entende que o uso de videogames por parte dos jovens não é um problema em si. A questão é a apropriação de grupos extremistas nos ambientes digitais e a glorificação desses atentados.
O governo federal e os estaduais tomarão providências? A polícia irá mergulhar fundo nesses crimes?
A ver.
O documento elaborado por 12 especialistas no grupo de Educação pode ser lido na íntegra aqui.
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