Antes de tudo, eu preciso admitir que tenho uma ligação emocional muito grande com Lunar: Silver Star Story. Eu considero este jogo como o primeiro a me fazer perceber que era possível ter o mesmo nível de complexidade que eu encontrava nos livros também nos videogames. E também foi talvez o grande responsável por fazer com que meu gênero preferido hoje seja “JRPG com visual de anime”. O que é um grande feito, já que eu não gosto tanto assim de animes.
Por isso, quando me vi obrigado a comprar um celular novo, a primeira coisa que fiz assim que configurei ele foi adquirir Lunar: Silver Star Story Touch na Play Store. Desde que o game lançou para Android em janeiro de 2024 eu babava nele, mas o meu celular antigo era tão básico que não conseguiria rodar um jogo com gráficos do PS1. Nos últimos dois anos dele, até rodar apps como Instagram e Bluesky já exigiam demais dele.
Apesar da expectativa, eu acabei tendo uma experiência muita mais positiva do que eu esperava. E digo sem medo de errar: Lunar: Silver Star Story Touch é a versão definitiva deste clássico do PS1 (pelo menos até o lançamento de Lunar Remastered Collection em abril)
O que é Lunar: Silver Star Story Touch
Lunar: Silver Star Story Touch é a versão para dispositivos mobile de Lunar: Silver Star Story, um RPG lançado em 1996 para PlayStation e Sega Saturn e que, em si, já era uma versão melhorada (um reboot nos termos atuais) de Lunar: The Silver Star, lançado em 1992 para o Sega CD.
Apesar de ter sido lançado há quase 30 anos, Lunar: The Silver Star Story ainda é um jogo extremamente atual. Isto porque ele foi um dos pioneiros da ideia de trazer para os videogames – e, mais especificamente, para o gênero de RPGS – todos aqueles tropos que até então eram exclusivos dos animes.
Isso quer dizer que Lunar foi um dos primeiros jogos a misturar histórias épicas sobre salvar o mundo com narrativas intimistas sobre os receios e dúvidas individuais de cada personagem do seu grupo. Ele também foi um dos primeiros a trazer o elemento da música como parte crucial da narrativa, e talvez seja o primeiro jogo a introduzir a ideia de uma cena CG específica como “abertura tardia”. Esta é uma técnica televisiva (de primeiro rolar um ou dois minutos de episódio e depois mostrar a sequência de abertura) e que hoje é comum em praticamente qualquer jogo de videogame single player.

Lunar também foi um dos primeiros jogos a trazer coisa da emoção exacerbada dos animes para os videogames, onde os momentos de drama são extremamente dramáticos e os de comédia são praticamente um pastelão. E também é um dos primeiros a trazer um elemento de “tesão” para videogames que não são pornográficos. Não tenho medo de dizer que as cenas de banho de Lunar: Silver Star Story, onde era possível “desbloquear” imagens das personagens femininas em roupas de banho e posições sexy, ajudou a abrir o caminho para os romances de jogos como Dragon Age, Mass Effect e Baldur’s Gate 3.
Lunar: Silver Star Story Touch é meio que o segundo “reboot” deste jogo que é, para o mundo dos RPGs de videogame, aquela banda que é pouco conhecida pelo público, mas que todo mundo que possui uma banda coloca entre os favoritos. O primeiro ocorreu em 2010, com o lançamento Lunar: Silver Star Harmony no PSP. Este foi um verdadeiro “reboot” em todos os sentidos, pois ofereceu uma nova versão de estilo gráfico e gameplay de combate em turnos para o game, mantendo apenas as cenas CG no estilo anime da versão para os consoles de 32 bits.
Outra grande novidade deste primeiro reboot foi a atualização da tradução e dublagem para o jogo. No geral, esta nova tradução é muito melhor do que a original, com exceção de talvez um único momento. (OK, dois momentos, porque eu também senti muita falta do Nall gritando “Aleeeeexxx, ooooo Aleeeex!” em uma vozinha fina que só tem na dublagem da versão para PS1 e Saturn)

Dois anos depois chega Lunar: Silver Star Story Touch exclusivo para o iOS. Esta é a primeira versão oficial para dispositivos mobile do jogo, e oferece o melhor dos dois mundos: um estilo visual de pixel art “melhorado” baseado na versão do jogo para PlayStation, e a nova tradução e dublagem desenvolvida na versão lançada para o PSP.
O “melhorado” aqui é porque a pixel art de Lunar: Silver Star Story Touch não é exatamente a mesma da usada na versão para PlayStation e Saturn, mas uma adaptação dela para que o jogo rode em telas de LCD, LED e OLED com a mesma qualidade visual que Lunar: Silver Star Story tinha em um monitor CRT (ou seja, sem aqueles pixels “pontudos” e “recortados” que são comuns quando apenas rodamos jogos antigos nas telas mais novas sem qualquer adaptação).
Esta versão exclusiva de iOS é a mesma que, doze anos depois, foi lançada também para os aparelhos Android.
Fácil de jogar mesmo para quem não é gamer mobile
Por ser um RPG antigo com batalhas em turnos, Lunar é o tipo de jogo que cai como uma luva nos dispositivos mobile. Por não exigir grandes reflexos e nem a necessidade de apertar vários botões ao mesmo tempo, ele é o tipo de jogo que é fácil de portar para celulares e continuar bastante acessível até mesmo para gente mais velha que não consegue se acostumar com usar os dois dedões na tela do celular (eu mesmo o/).
Assim, Lunar: Silver Story Touch é tão simples de se jogar quanto intuitivo. Ao invés de usar um cursor para navegar os menus durante o combate, você apenas “toca” na opção que quer usar (ataque, defesa, magia, item, etc) e “toca” no alvo daquela opção escolhida (um inimigo ou companheiro).

Toda batalha de RPG em turnos deveria ser controlado pelo toque (Imagem: Captura de tela/Rafael Silva)
Este é o primeiro RPG antigo que eu tive a chance de experimentar em um celular, e agora tenho certeza que a tela touch é a melhor forma de se jogar qualquer jogo de turnos. Mesmo sem mudar absolutamente nada, as batalhas ficaram muito mais dinâmicas e rápidas sem a necessidade de ficar usando um direcional para navegar pelas opções de combate.
Controlar o personagem também é bem fácil: apenas toque o lugar da tela que você quer que seu personagem vá, e ele automaticamente vai andar até lá. Este modo específico às vezes pode ser meio problemático em lugares com muitas pessoas ou prédios, porque nem sempre você vai conseguir tocar em um lugar “clicável”. Por exemplo, se você quer ir pra um determinado ponto de um rua que tem um prédio com um telhado grande por perto, pode ser difícil chegar no local porque o game muitas vezes vai reconhecer o toque no telhado do prédio (um local que não é possível acessar) e não na rua em si (que é onde você pode acessar).

Movimento não tem segredo: é só tocar no lugar que quer ir e esperar (Imagem: captura de tela/Rafael Silva)
Nesses casos, você pode mudar para o modo “cursor”, no qual o jogo ignora os comandos de toque e cria um cursor virtual que você pode controlar com o dedão para navegar. O mais interessante deste modo é que, ao contrário do que acontece em muitos jogos do tipo, a localização do cursor não é fixa. Onde quer que você encoste o dedo na tela é lá que o cursor irá aparecer, e então é só ir arrastando o dedo na direção que quer movimentar seu personagem.
Isso permite que a navegação pelo cursor seja muito confortável independente da forma que você segura o seu celular, e em apenas algumas horas de jogo eu abandonei de vez a navegação por toque e passei a usar o cursor como meu controlador principal.
Ajustes para melhorar a sua experiência com Lunar
E, claro, o jogo também trás todas aquelas melhorias de “qualidade de vida” que esperamos dessas novas versões de RPGs antigos: possibilidade de salvar a qualquer momento, autosave em momentos chave (como sempre que você inicia uma batalha) para não precisar perder horas de jogo devido a um erro de estratégia, legendas nas cenas de anime (algo que não existia na versão original), ou a possibilidade de escolher se quer usar a dublagem em inglês ou as vozes originais em japonês.
Outro tipo de ajuste muito interessante oferecido pelo jogo é na questão da dificuldade e nos multiplicadores. Uma das coisas que separava Lunar dos outros RPGs de sua época era a questão do grind: enquanto jogos como Final Fantasy e Dragon Quest muitas vezes meio que te obrigavam a ficar horas participando de batalhas aleatórias para subir de level e conseguir derrotar algum chefe, a franquia Lunar meio que te punia se você fizesse isso.
Isto porque os chefes do jogo não possuem status definidos, mas funcionam num sistema de multiplicador. Por exemplo, um determinado boss ao invés de ter 1000 HP, ele tem 1000 HP multiplicado pelo nível médio do seu grupo de personagens.

Lunar: Silver Star Story Touch oferece diversos ajustes para tornar o game mais fácil ou mais difícil (Imagem: captura de tela/Rafael Silva)
Então, ficar fazendo o fazendo grind não tornava a sua vida mais difícil. Quanto mais você se esforçava para subir os personagens de level, mais forte esse boss ficava. Esta mecânica não é explicada dentro do jogo, e muitas pessoas acabavam “travando” em áreas iniciais por causa do costume em ficar fazendo horas de grind que foi adquirido jogando outros RPGs.
E uma coisa que Lunar: Silver Star Story Touch permite é justamente definir o quão difícil o jogo vai ser. Você pode escolher se quer usar os multiplicadores da versão de Lunar lançada para o Saturn no Japão (que eram menores, o que deixa o jogo mais fácil) ou os da versão que lançou para o PlayStation nos EUA (que eram maiores, o que deixa o jogo mais difícil). Ou, ainda, pode optar por simples abolir essa mecânica, o que vai dar a todos os chefes do jogo valores definidos e aí o jogo irá funcionar como qualquer RPG tradicional.
E, se você quer deixar tudo ainda mais fácil (ou mais difícil), também pode aumentar ou diminuir a quantidade de experiência e dinheiro que ganha a cada batalha, podendo multiplicar até 4x (ou seja, ganhar 4x o padrão que recebe daquele inimigo) ou mesmo por 0x (não ganhar nada de experiência ou dinheiro ao derrotar um inimigo).
Lunar: Silver Star Story Touch é a versão definitiva e acessível
Hoje, Lunar: Silver Star Story Touch é a versão definitiva do RPG lançado em 1996 e que roubou meu coração no começo dos anos 2000 (e que até hoje se mantém no top 3 de melhores jogos que já joguei na vida). E continuará sendo pelo menos até o lançamento de Lunar Remastered Collection em 18 de abril.
Mas mesmo depois dessa data, Lunar: Silver Star Story Touch continuará sendo a versão mais acessível do game. Mesmo que ainda não tenha sido definido qual será o preço de lançamento da coleção remasterizada, com certeza será maior (bem maior) do que os R$58,99 que custa na Play Store de Android e os R$49,90 que custa na App Store dos iPhones.
E mesmo que você nunca tenha jogado nada dessa franquia antes, eu recomendo Lunar: Silver Star Story Touch. Você com certeza vai se surpreender com o quão moderno ele é em todos os aspectos para um jogo que existe há mais de 30 anos.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.