The Last of Us é a Legião Urbana dos videogames - Drops de Jogos

The Last of Us é a Legião Urbana dos videogames

Nenhuma qualidade real vai desfazer a birra que eu peguei dos fãs

(Imagem: montagem feita por Rafael Silva/Drops de Jogos)

Com o anúncio de mais uma coletânea e a estreia da segunda temporada da série, The Last of Us voltou a ser um tema discutido pela “bolha gamer”.

É só ficar cinco minutos em qualquer rede social que você vai ver gente discutindo sobre as atrizes escolhidas pela HBO, se Joel estava certo ou não no fim do primeiro jogo, e eu tenho certeza que no Linkedin deve existir alguém falando sobre como TLOU ensinou a ele lições valiosas sobre vendas B2B.

Mas eu preciso confessar uma coisa: eu não aguento mais ouvir mais nem falar em The Last of Us. Podem rasgar a minha carteirinha gamer por isso, eu não ligo. E a real é que nem é um problema que eu tenho com o jogo em si, mas com uma parte do fandom.

The Last of Us da HBO

The Last of Us da HBO. Foto: Divulgação

Nada contra The Last of Us, tenho até amigos que são

Primeiro, quero deixar claro que eu não tenho nada contra os jogos em si. Eu finalizeiThe Last of Us no PS3 e no PS4, e comprei (mas nunca consegui terminar) The Last of Us II. Meu problema com o segundo jogo é puramente conceitual, que foi ele melhorar justamente uma parte do gameplay que eu não gosto, que é ficar me esgueirando para derrotar ondas de inimigos.

Eu só não terminei o game porque, mesmo na dificuldade mais fácil, eu não conseguia simplesmente sair correndo e atirando e passar todas as batalhas. E as melhorias de gameplay do segundo para o primeiro que todo mundo amou foi o que deixou ele muito mais difícil para mim, que não tem paciência de ficar minutos parado esperando pelo momento certo de passar sem ser percebido.

Mas mesmo considerando minha total falta de habilidade e paciência para ser sutil em um videogame, este nem é o meu maior problema com a franquia. Apesar de não ser “pra mim”, eu consigo enxergar as enormes qualidades técnicas que os jogos da franquia possuem, tanto no sentido de mecânicas, conceitos de mundo e narrativas.

Meu problema não está ligado aos jogos em si, mas com toda a cultura que se formou em torno dele.

The Last of Us Part I

The Last of Us Part I. Foto: Divulgação

O fandom é a pior parte de The Last of Us

A “birra” que eu tenho com The Last of Us – e não nego que é birra mesmo – tem mais a ver com a “aura” que se criou em volta dele do que com o jogo em si.

Pra mim, é algo muito parecido com o que eu sinto com a banda Legião Urbana. Eu não tenho nada contra ela como banda em si, e acho que ela segue o padrão de todas as outras bandas de rock que eu conheço (tem umas músicas muito boas e outras bem meh), mas que eu peguei birra por ser uma criança “diferentona” que cresceu no Brasil dos anos 90/2000.

Isso quer dizer que eu cresci um menino “fuck yeah, rock wins!”, um metaleiro headbanger daqueles mais estereótipos e toscos que você consegue imaginar, em um ambiente onde falar “eu gosto de rock” gerava automaticamente a reação “que legal! Qual sua música preferida do Legião Urbana?”.

Eu cresci dividindo quarto com um irmão mais novo que, por alguns anos, era fã de Legião Urbana. E não falo “fã de rock que escuta muito Legião”. Falo fã de Legião mesmo. Acho que entre os 13 e 14 anos de idade, mais ou menos, meu irmão não escutava nenhuma outra banda que não fosse Legião Urbana. E não, a música não é ruim. Mas até coisas boas você acaba pegando birra se elas são servidas pra você o tempo todo como “a única opção de qualidade” – e você é julgado se recusa.

Tipo, eu adoro pizza, um dos meus programas preferidos de sábado à noite é ficar em casa, pedir uma pizza margherita e uma Coca 2l, e matar ambas sozinho enquanto assisto um filme de ação daqueles bem toscos. Mas isso não quer dizer que eu não vou enjoar de pizza e Coca se de repente essa for a única coisa que eu tenho pra comer em todas as refeições.

E é mais ou menos o mesmo sentimento que eu tenho com The Last of Us.

ELLIE TOCANDO LEGIÃO URBANA | The Last of Us Part II

Eu não tenho nenhum problema com os jogos e nem com a série da HBO, mas eu não aguento toda a cultura que se criou em torno da marca. E esta cultura vem de uma parte dos fãs, que tratam TLOU como se fosse o melhor jogo da história, que mudou a indústria de games e que não existe nada que se compara no quesito de qualidade.

Outra parte dessa cultura vem da própria Sony/Naughty Dog, que trata a franquia como uma vaca leiteira que vão ordenhar até a última gota. Desde o lançamento de The Last of Us 2, a impressão é que a cada ano elas inventam uma nova forma de relançar o mesmo jogo – seja com remasters, remakes ou edições especiais. E isso não deve parar, porque os fãs continuam comprando o mesmo jogo a cada novo lançamento.

E parte disso também é um pouco da mídia. Todo mundo sabe que The Last of Us “vende” (atrai cliques e visualizações), e aí tentam enfiar coisas da franquia em qualquer conteúdo. Sério, estava escutando um podcast de basquete hoje e até eles inventaram um segmento pra fazer menção aos personagens da série esta semana (e eu confesso que ri muito do absurdo que era aquela situação).

Este texto mesmo não está fora desta lógica: eu só resolvi escrever ele porque The Last of Us é um dos termos mais buscados do Google nos últimos dias e seria legal publicar algo que tenha este termo como palavra-chave aqui no Drops. 

Sim, eu entendo a posição um tanto hipócrita que eu me coloquei aqui, de reclamar do tratamento que se dá a algo enquanto tenta se colocar como parte do discurso que permite que esse algo seja cada vez mais aclamado.

E quer saber? Isso só me deixa com ainda mais birra, e foda-se o que você pensa disso. E foda-se eu também, por escrever esse texto.

É, vai se foder eu!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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