Por Pedro Zambarda, editor-chefe do Drops de Jogos.
O livro que me formou como jornalista de videogames foi The Ultimate History of Videogames, do jornalista Steven L. Kent, que passou pela revista WIRED e pela Rolling Stone. A obra, de 2001, retrata com distanciamento necessário a guerra dos consoles e consulta uma quantidade inacreditável de desenvolvedores da chamada grande indústria de games. Seus relatos, embaralhados, inspiraram o livro-reportagem Geração Gamer, origem deste Drops de Jogos.
Sangue, Suor e Pixels (Blood, Sweat and Pìxels, na edição original, de 2017) é um livro de mais maturidade sobre a indústria dos videogames, chegando ao seu momento de saturação e de abusos trabalhistas. Jason Schreier, o jornalista investigativo que fez história no Kotaku e hoje está no site da agência de notícias do mercado financeiro Bloomberg, mostra um amadurecimento visível na leitura atenta das páginas.
O livro retrata o desenvolvimento dos seguintes games: Diablo III, Destiny, The Witcher 3, Halo Wars, Uncharted 4 (do criador de The Last of Us, Neil Druckmann), Shovel Knight, o extinto Star Wars 1313, Pillars of Eternity, Dragon Age Inquisition e Stardew Valley.
Cada história contada aborda um ponto sobre a indústria de games, e suas contradições no mundo capitalista das big techs.
As histórias de Stardew Valley e Shovel Knight abordam a beleza do florescimento de uma indústria indie, independente, a partir dos anos 2000 e 2010. No entanto, o desenvolvedor de Stardew dependia do salário da esposa para sobreviver até o final do game. Os devs de Shovel dependiam de um emprego que não gostavam para fazer o seu jogo dos sonhos – além de um crowdfunding.
Diablo III aborda a história de desenvolvedores que foram fritados na internet após um erro online do seu lançamento para a grande massa – e como tiveram que refazer o projeto para que ele de fato fizesse sucesso. The Witcher 3 cuida de apurar como um estúdio polonês que abordou o folclore polonês conseguiu explodir mundialmente antes de Cyberpunk 2077, apostando sobretudo em um mundo vasto e em mais de 100 horas de gameplay.
Mas duas histórias pesam mais no livro e parecem definidoras do jornalismo praticado por Jason nos anos seguintes, abordando os abusos trabalhistas da indústria que serão tema de seu segundo livro, Press Reset, que sugere um renascimento em outras bases para a indústria de jogos.
A primeira delas é sobre Halo Wars, desenvolvido pelo Ensemble Studios, de Age of Empires, com a Microsoft como publicadora. Nessa história, Jason Schreier não parece particularmente preocupado com os trabalhadores e relata a história de que a equipe de desenvolvimento foi abertamente sabotada pela Bungie e por executivos para desenvolver um game que eles nem queriam. Parece um relato tirado do documentário Indie Game The Movie (2012), que trata os abusos de trabalho dos devs como se eles fossem “heróis”. Depois do game, todos foram demitidos.
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Só que o livro muda de tom no perfil do game extinto Star Wars 1313 (o “jogo do Boba Fett”), pela LucasArts. O jogo havia recebido as bençãos de George Lucas e tinha tudo para dar certo. Então, dessa vez mais preocupado com a situação dos trabalhadores, Jason relata como a compra das propriedades de Star Wars pela Disney tornou o título, jamais lançado, em uma tragédia em câmera lenta, que retira todo o glamour da indústria de games.
Com todas as contradições e suas diversas fontes, Jason Schreier nos entrega um livro que é leitura obrigatória para quem quer aprofundar seus conhecimentos no setor.
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